01 julho 2010

Microconto

Que dia feliz!

Ganhei o concurso de microcontos promovido pela Academia Brasileira de Letras com o seguinte "odonto"conto:

"Toda terça ia ao dentista e voltava ensolarada. Contaram ao marido sem a menor anestesia. Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida".

07 novembro 2009

Verão

Da janela espio o verão se insinuando lá fora, enrugando as testas de preocupação com os presentes de Natal e a silhueta (não necessariamente nessa ordem). Uma vez que a gente sobrevive ao feriado de finados, o diabo do trânsito empacota de vez qualquer esperança de fluidez – urbana ou intelectual, objetiva ou emocional. O calorão empapa as ideias, e quando começa a refrescar já estamos no happy hour, que ninguém é de ferro...

Novembro é o seguinte. Nós, mulheres, adoramos pintar as unhas de cereja, cabelos noz, hidratante amêndoas, xampu de chocolate. E esperamos o verão comendo alface, aguardando a revelação de um novo farelo incrível para o intestino.

10 outubro 2009

Minha neta Sofia e eu

Para fins literários, imagine que estamos em 2050. Estou com 73 anos, enxutérrima, e tenho uma neta de 13 anos chamada... Sofia.

Eu: Sofia, querida. Sabia que, no tempo em que a vovó era jovem...

Sofia: Isso foi no século passado, né, vó?

Eu: Foi antes da sua mãe nascer. Tínhamos uma maneira muito interessante de nos corresponder: o “e-mail”.

Sofia: Eu já li muito sobre isso. Incrível.

Eu: E era mesmo. Sem precisar de papel, caneta ou envelope, nós conseguíamos conversar com quem estava do outro lado do mundo. Sem esperar nenhum dia pela resposta!

Sofia: Pode crer. Mas o mais incrível, pra mim, era que vocês paravam tudo o que estavam fazendo para mandar esse tal de e-mail.

Eu:
Como assim, parávamos tudo?


Sofia:
Espera um segundinho, vó, que eu vou desligar a Joana.

Eu: Joana? Isso aí não é um chaveiro?

Sofia: É a Joana, vó. Que veio aqui no meu aniversário, lembra? Ela tá vibrando aqui. Xiii, agora a Mariana vibrou também. Deixa eu ver onde elas estão.

Eu: Elas estão dentro da sua bolsa, Sofia! Podemos retomar o nosso assunto?

Sofia:
Claro, vou desligar as meninas. Pronto. Tudo desligado.

Eu:
Melhor assim. Querida, quando duas pessoas estão conversando, o ideal é olhar bem nos olhos e...

Sofia
(de súbito): Amarelo não, Tom! Já falei que não fico bem de amarelo. Compra lilás, vai? Pleeeease...

Eu: O que é isso??

Sofia: Desculpe, vó. É que não tive coragem de desligar o Tom (tirando do ouvido um ponto eletrônico, e recolocando em seguida). Hoje é véspera do dia dos namorados e ele saiu para comprar o meu presente. Cismou com uma blusinha amarela.

Eu:
Sofia. Sua mãe sabe disso?

Sofia: Claro que sabe, vó. Eu, hein? É namoro firme, tá?

Eu:
Mas não é muita intimidade esse menino andar dentro do seu ouvido, não? Não tinha um lugar mais adequado para vocês namorarem? Sei lá, um shopping!

Sofia:
A senhora ficou maluca? Sabe quanto custa uma passagem para a Finlândia?

Eu: Você não conhece esse menino? Nunca viu mais gordo, é isso?

Sofia: Ô Vó, como é que eu vou parar tudo que eu estou fazendo?

Eu:
Tem razão, Sofia. A vovó vai ali comprar um pão de meio quilo e já volta.

09 outubro 2009

Meus pais (em gotas)

Ele teve que extrair um dente, mas acabou extraindo dois. Sobre isso, me escreveu um e-mail:
"Restaram poucos, porém sinceros...".

**

E ela, no perfil do Orkut, preenche assim:
Cozinhas - "limpas".

Hoho.

07 outubro 2009

Pecadinhos

Saí de casa pensando bobagens.
E invejei os quadris da colega 10 anos mais moça que fazia transport de marcha à ré.
E enforquei os últimos três minutos na esteira.
E comprei um queijo brie.
E não me arrependi.

Cheguei em casa e, além de pensar, comecei a escrever bobagens.
Soma tudo e me diz na lata: quantas Aves, Maria?