30 abril 2007

O felizmente dos infelizes

Uma moça escreve para o jornal; ela e o pai estavam num engarrafamento em frente ao shopping Downtown, na Barra da Tijuca, às 18h, quando estranharam uma cena à frente. Parecia que um sujeito estava empurrando um carro. O pai pôs farol alto em cima para ver melhor. O cara estava assaltando e veio na direção deles atirando.

“Felizmente” o pai da moça só ficou ferido, e ninguém mais se machucou.

Felizmente, também, um amigo querido teve a sorte de ser assaltado e ameaçado com uma arma por um sujeito bem vestido que lhe roubou o carro, dizendo: “Perdeu, playboy! Cai fora.” Ainda levou a bolsa com todos os pertences da namorada dele. Mas, felizmente, ninguém morreu.

Graças a Deus, todos nós escapamos (quase) intactos. Um vidro quebrado aqui, uns documentos roubados ali, uma taquicardia, uma correria, um pouco de pânico e indignação. A preocupação de nossos amigos. O suspiro aliviado dos nossos pais. Graças a Deus!

Em terra de cegos no tiroteio, quem ainda tem um olho é “felizmente”.
Filósofa

Levantei cedo e fui lá espiar. Ela estava acordada no berço, quietinha. Fiquei observando. Não mexia além das pálpebras. Piscava com calma, olhava o infinito, vez em quando um suspiro. Não vai chorar? Nada. Talvez refletisse, ponderasse, meditasse. Pelo horário já devia estar com fome e, na sua filosofia de bebê, decerto arriscava:

“Só sei que nada seio”.

Hoho.