UTOPIA DE ÉDIPO
A Marília e o Reinaldo são um casal moderno. Ele - moreno, alto, beleza previsível e irretocável, moço, modelo e ator. Ela - loura, alta, beleza imprevisível e quase agressiva, madura, jornalista e apresentadora.
Ela tem a voz grave e um discurso marcante. Ele tem a fala doce e leve. Ela transmite autoridade e segurança; ele, sensibilidade. Cada qual com sua personalidade, combinam muito bem, mas parecem ter saído de mundos diferentes. E saíram.
A Marília é símbolo de uma geração de mulheres que lutou por seus direitos, repudiando o tricô e o bordado, fazendo escolhas, transgredindo as normas. Tudo isso, numa época em que transgredir dava cadeia.
O Reinaldo é, de certo modo, filho da Marília. Cresceu no tempo em que homem chorar já não era mal sinal, como bem ensinavam as Marílias - ainda tontas pelo atropelamento dos tempos modernos, sem saber exatamente que tipo de revolução estava havendo. Mas certas de seus objetivos; incansáveis, educando seus Reinaldos para serem homens de verdade, com choro e tudo.
O encontro do Reinaldo com a Marília é quase uma utopia edipiana; o amor entre duas gerações, exercendo plenamente o produto que surgiu da interação entre elas. É como se o destino abençoasse a evolução das relações entre os sexos, aprovando o resultado, e incentivando a continuidade desse processo ainda não terminado.
É claro que as filhas das Marílias também são belas esposas de outros Reinaldos; também os pais dos Reinaldos são excelentes maridos de outras Marílias. Contudo, enquanto os frutos ainda não se acomodaram em suas novas identidades, parece que os Reinaldos e as filhas das Marílias têm uma tarefa a cumprir: cada qual precisa redefinir a sua própria imagem no espelho, o que dá um certo trabalho, gera angústia e estranhamento em relação ao outro.
Por isso, a união da Marília com o Reinaldo é uma bênção entre gerações. Ela, já definida; ele, fruto dessa definição. Ambos se entendem - e não poderia ser diferente.
Se tiverem filhos, haverá três gerações em duas. Será a história fazendo resumo, evolunido a passos largos, simbolizando a rapidez da modernidade.
Se não tiverem filhos, não importa: já tiveram.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos