Meu vizinho de baixo
Vocês sabem, eu tive uma banda e tocava baixo elétrico. Minha banda durou uns 12 ou 13 anos (meu Deus!), e estou pagando esse tempo com juros e correção monetária auditiva: meu vizinho do apartamento de baixo, isso mesmo, tem uma banda e toca baixo.
Todo santo dia, eu tento trabalhar aqui e ele tenta repetir lá, zilhares de vezes, a mesma frase em seu baixo elétrico: dum-dum-dum, ponto e vírgula, dum-dum-dum outra vez. Ai, minhas exclamações! Quando estou a ponto de desistir, ele também desiste. E o ar que entra pela janela indica que ele está a fumar umas coisas.
Mas eu não estou a fumar nada, e assim seguimos com a nossa impressionante afinidade químico-musical que algum dia, já posso prever, nos levará a parceria nenhuma.
Para não dizer que não vejo as coisas com imparcialidade, ainda ontem, os dois diante do espelho do elevador, descobri um talento em comum: ele disciplinava uns fios de cabelo arrepiados, e eu investigava a ameaça de rugas. Ambos, convicta e inutilmente.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos