Pessoas que dizem então
A pessoa senta na sua frente pela primeira vez na vida, olha para os dois (ou três) lados, bufa, pigarreia, mostra-se ocupada com alguma coisa anterior a você e insinua uma preocupação com alguma outra coisa, que virá a seguir. Ao deixar bem claro, através de gestos, que você é tão-somente um intervalo entre duas ocupações das tantas que ela tem na vida, inicia finalmente a conversa:
- Então.
Pessoas que dizem “então” no início do assunto são tão atarefadas que resolvem, de antemão, poupar a gente dos começos e dos meios, indo direto aos finais sem cerimônia. Cerimônia é para desocupados, pensam. O “então” é a inserção do contexto à força, ou como se diz: na marretada. Então.
Por outro lado, até que é bom. Quer dizer que o sujeito esteve lá, em um grande evento de comunicação interna com os seus próprios miolos, tecendo introduções que não me interessam acerca de temas inúteis para o rendimento da nossa conversa. Nada mais justo que ele me libere dessa, e me dê esses cinco minutinhos para um telefonema, um café, retocar o batom. E parta diretamente para a conclusão – que me inclui, por incrível que pareça! -, após disparar a senha: então.
A partir do então, sei que estou dentro. Afino os pensamentos e me preparo para o grande desenrolar do assunto em questão. Livro-me das amarras internas e dos meus pormenores subjetivos, afinal, é minha chance de compartilhar, integrar a vida daquele sujeito (ou sujeita) estafado, cheio de olheiras e com as bolsas palpebrais estofadas de tanta importância. Quanto privilégio. Não tenho a menor ideia do que virá, mas já sei que me serve.
- Então. É o seguinte.
Meu Deus, era o seguinte! Jamais imaginei que, depois do então, viesse o seguinte. Desculpe, honestamente. É que eu não trabalho com o seguinte. Jamais.
- Peraí, mas eu nem comecei...!
Para mim é o que basta. Veja bem, se vamos nos comunicar em poucas palavras eu preciso gostar de TODAS ELAS. Passa táxi aqui perto?
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos