27 agosto 2009
Rogério vive se queixando: a filha Bia, 16 anos, não dá mais as caras. Trancada no quarto o dia todo, amigos e amigas entram e saem como se o apartamento fosse um albergue. Rogério, pai solteiro, não sabe mais o que fazer.
SALA DE ROGÉRIO – INT./DIA
Toca a campainha, ele abre a porta. É Luana, a loirinha dos coturnos.
LUANA (de passagem): Oi, tio.
ROGÉRIO: Espera aí. Me faz um favor?
LUANA com as mãos na cintura.
ROGÉRIO: Vou ao supermercado. Pergunta para sua amiga Bia se ela vai querer o achocolatado diet, me faz esse favor?
LUANA: Posso tentar, tio. Mas a Bia tá compenetrada numa poesia e.../
ROGÉRIO: Com rima ou sem rima, diz para ela que, se não me responder em cinco minutos, vou trazer aquele que tem um coelho no rótulo. Sabor morango.
LUANA: Eca!
ROGÉRIO: O quê? Na última vez que eu falei com ela pessoalmente, era louca por esse do coelho. Acho que ela tinha uns oito anos.
LUANA ri sem graça e quer se livrar dele, mas não consegue. ROGÉRIO tira do bolso da calça um celular e, em seguida, tira outro do bolso da camisa. Põe os dois em cima da mesa de centro.
ROGÉRIO: Diz pra ela me ligar, estou aqui na sala. Se não for dar muito trabalho, claro.
LUANA segue pelo corredor, em direção ao quarto de BIA. ROGÉRIO fica olhando no relógio.
***
QUARTO DE BIA – INT/DIA
Batidas na porta. BIA, ruiva, de franjão e saia xadrez, bufa e abre a porta. ROGÉRIO espia e vê MAURINHO (cabelão) e LUANA aboletados na cama da filha.
ROGÉRIO: Minha filha, você tá lidando com jardinagem agora?
BIA: Tá lembrado do Maurinho, pai?
ROGÉRIO: Desculpa, rapaz. Não reconheci você aí debaixo desse... no meio desse cabelo.
MAURINHO: Quanto tempo, tio.
ROGÉRIO (avaliando o cabelo): Foi o que eu disse.
BIA: O Maurinho vai botar música na minha poesia.
ROGÉRIO: Você é gay, meu filho?
LUANA cai na gargalhada. MAURINHO faz que vai responder, mas BIA corta.
BIA: Ele é músico, pai.
ROGÉRIO (para BIA, cochichando): Tadinho, minha filha. Não expõe o menino desse jeito.
LUANA: O Maurinho tem uma banda. É sério, tio.
ROGÉRIO: É sério mas tem cura, eu também tive uma.
MAURINHO mal reage. BIA querendo se livrar do pai.
BIA: A gente tem muito trabalho, pai. Se incomoda?
ROGÉRIO: Comprei aquele achocolatado sabor morango, do coelho. Se você quiser eu faço uma bandejinha.
BIA fecha a porta na cara do pai.
BIA: Eca!!
ROGÉRIO (off): O papai põe um canudinho, Bioca!
15 agosto 2009
Mandei e-mail para o SAC de uma fábrica de calçados que eu adorava, reclamando que comprei uma sandália que simplesmente corta meu pé. Resposta deles: adoramos receber seu e-mail, patati, patatá... Depois:
Entendemos e achamos perfeitamente plausível que, não serão todos os produtos adequados para todas as pessoas. Pois cada ser humano é único e tem seu próprio estilo, gostos e até mesmo biótipo único.
(Texto impecável, tô arrepiada).
Sendo assim, um calçado pode estar perfeitamente ajustado para uma pessoa e não estar para outra.
(Graças a Deus me avisaram).
Por isso a necessidade de sempre experimentar-se o calçado antes de adquiri-lo em uma loja.
!!! A culpa é minha, claro, porque não experimentei a sandália.
Que eu experimentei, óbvio. Acontece que um dos pés da sandália – somente o direito – pegou raiva mortal pelos meus dedos e danou a cortá-los, sistematicamente, já na primeira semana de uso. Famosa sandália Kinder Ovo, veio com surpresinha.
E ainda:
Você poderá encontrar nas nossas lojas exclusivas produtos que lhe ajudarão em relação ao conforto dos calçados, como o amaciante de couro, palmilha meio número, proteção de calcanhar, apoio plantar, entre outros. Sugerimos que você vá em uma de nossas lojas, pois eles saberão indicar o melhor produto para você.
Agradeço muitíssimo pela gentileza da resposta. Não vejo a hora de passar numa de suas lojas exclusivas e desembolsar meus suados pilas nos seus exclusivos produtos – tais como o amaciante de couro, a palmilha meio número e, principalmente, o “entre outros”.
Quanto à sandália assassina, não se preocupem. Vou desligá-la da tomada e tornar a ligar, mas só quando for noite de lua cheia. Depois derramo um punhado de arnica em cima dela (é assim que se diz, punhado de arnica?) e faço-a pernoitar numa encruzilhada, rodeada de velas lilás, pés de caranguejo e pós de pirimpimpim.
E quanto à nossa antiga e doce relação, caríssima fábrica de sapatos, não se preocupe também. Tudo permanecerá como sempre foi: eu entro com a reza braba e vocês, com o entre outros.
04 agosto 2009
Ontem eu li que um salão chique lá do centro está lançando a versão “express” dos seus serviços. Funciona assim: uma mulher com pressa põe sua cabeça, mãos e pés nas mãos (e também na cabeça, mas espero que não nos pés) de duas profissionais do ramo – que, por sua vez, também estão com pressa. Supõe-se.