MOMENTO "MEU QUERIDO DIÁRIO"
Meu querido diário: São Pedro, hoje, está com incontinência urinária. Chove que Deus manda, desde a madrugada - se bem me lembro, se bem que durmo. Vim escrever aqui porque estou com uma preguiça homérica de ir para o banho; acordei tarde, tive pesadelos, e tudo em mim anda devagar feito cágado manco.
Meu querido diário: não adianta enrolar, terei mesmo que ir para o banho. Hoje o almoço é na Vovó, aquele peixinho confirmado que a Marisa faz e eu me esbaldo. No último dia, teve até suflê de brócolis. Havia vários brócolis (eu digo sempre no plural, porque não sei dizer o nome desta coisa verde no singular. Mas não faz mal, porque eles vêm sempre todos juntos, mesmo, é difícil separar. Vai ver é por isso, o singular nem existe. Ah, deixa eu pensar assim, pelo menos num rompante adolescente de sexta-feira chuvosa e melancólica...).
Meu querido diário: se eu fosse um pouquinho mais distraída, já teria grudado umas figurinhas coloridas na tela do micro. Estou amando este momento cor-de-rosa num dia cor-de-cinza.
Meu querido diário: quer saber como foi o pesadelo que eu tive? Eu conto. Eu estava fazendo uma faculdade de produção fonográfica, mas o local era o colégio onde eu fiz o segundo grau, e as pessoas eram estranhas. A maioria. Enquanto eu fazia um trabalho no computador, uma moça veio me importunar - queria usar o micro, e "tem que ser agora". Eu me irritei, ela implicou mais ainda, eu me irritei muito mais, e avisei: Pára com isso, ou eu vou bater em ti.
Olha que sonho violento, meu querido diário; eu nem sou assim de verdade.
Continuando. Ela não parou. Mas acabou tudo bem, minhas amigas me acalmaram.
No dia seguinte, porém, a cena se repetiu. Ela piorou a situação, porque começou a me xingar de vários nomes feios.
Aí, meu querido diário, permita-me o termo, mas tenho que ser honesta: fiquei p. da vida com a moça. Meu querido diário, ela estava impossível. Sabe o que eu fiz? Nem posso lembrar, que me irrito. Acordei com dor de cabeça e tudo.
Pois foi assim, diário, eu peguei a moça pela gola e pelo braço, dei-lhe um golpe de judô, e a derrubei no chão. O povo gritou, quis apartar. Nem bola. Continuei. Esperei a ordinária olhar bem na minha cara, fechei a mão e fui direto no nariz dela, que sangrou muito. Não contente, continuei esbofeteando a cara deslavada daquela sonsa, segurando com a outra mão pelos cabelos - para que a cabeça não me escapasse.
Diário, e você não diz nada? Tou contando uma história emocionante, pô! Diário panaca, sem graça.
Bom, foi aí que a filha da mãe ainda tentou se levantar, desaforada, e respirou com uma arrogância providencial. Respirou na hora errada e do jeito errado, diário boboca. Tá me entendendo?
Pensei em chutar-lhe a bunda, mas concluí que seria pouco. Para terminar, então, fui com as duas mãos ao pescoço da vagabunda, estrangulei bem apertado, e disse as palavras mágicas: NUNCA MAIS MEXA COMIGO !!!
Fui expulsa da faculdade no dia seguinte, por conta de um abaixo-assinado que os alunos fizeram, onde afirmavam que "a colega tem reações violentas e pode prejudicar o bom andamento da classe". Todos assinaram, sem exceção.
Escuta aqui, diariozinho mixuruca, você não acha que foi uma injustiça tremenda? Acha, sim! Alguém aqui não acha? Quem é que está a favor daquela sem-vergonha implicante? Agora eu quero saber. Alguém? Alguém? Pois não descanso enquanto não souber.
Alguém vai querer encarar???
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
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