21 agosto 2003

Canetas coloridas


Quando adolescente, escrevia muito, um tipo de texto reflexivo; ainda tenho alguns aqui num saquinho transparente. Sempre fui caprichosa, mas não no sentido de colorida. Pobre, mas limpinha. Em preto e branco. Azul, no máximo.

Tinha amigas coloridas, no colégio, e eu freqüentava suas agendas ilustradas com avidez de quem não tinha lá muito talento para as artes, digamos, plásticas. Mas admirava, e como!

Mariana tinha uma letra miúda e desenhada, corpo e rosto idem. Curvava o pescoço e punha a canhota sobre a mesa, aninhando o braço por cima da pauta como se fosse um gato enroscado em dia frio. Trocava de cor como quem troca de ídolo na adolescência, e ia tecendo aquele diário festivo, nada secreto, mas confessional como se fosse.

Depois eu ficava invejando, como a vida dela é colorida.

Um dia fomos comer sorvete na lanchonete de um supermercado, programa de cidade do interior, gostoso e inocente. Ela sempre me convidava, vamos comer um sundae, um sundae, um sundae.

Cada vez que ela dizia, vamos comer um sundae, eu via o colorido das bolas de sorvete e dos confeitos, da cereja e da cobertura, tudo isso saindo da boca da Mariana, como era bonito e intenso!

Chegou o dia, pedimos o tal sundae, que eu nunca tinha visto ou comido, mas achava chique o nome, sundae. Colocaram o sorvete em cima da mesa. Pronto. E não tinha a menor graça.

Era menos colorido que as canetas da Mariana, e menos caprichado que os desenhos dela, e menos intenso que as palavras dela, e menos saboroso que a descrição que ela fazia daquele troço gelado e insosso, afinal, nada mais que isso.

Ali eu descobri que minha amiga parecia muito mais feliz simplesmente porque andava armada, com canetas coloridas na cintura. Não era justo.

Então, comprei umas pra mim também.

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