15 fevereiro 2004

Por um fio


Fui tocar num barzinho cujo ponto “forte” seria um punhado de mesinhas do lado de fora. O dia estava lindo. Foi eu chegar e plugar meu violão, desandou a chover e não parou mais.

Pelo menos o palco era na parte de dentro.

Quer mais? Meu violão deu pau. Acho que é Osmar (os-mar-contato: termo técnico que designa o mau contato de um fio com o... com ele próprio, digamos. Um fio que não se dá com ele mesmo, imagine.)

Quando o Osmar entra em cena, o jeito é você achar uma posição onde ele se comporte, e dali não sair nem por decreto. No meu caso, depois de uns tapas desesperados no violão, consegui aquietar o Osmar. E ali criei raízes, para não alertar os gansos. Funcionou. Só que me custou uma dor incalculável na coluna e uma fama de cantora-estátua.

Não se pode ter tudo.

Depois de horas a fio (sem trocadilho), finalmente desci do palco, e pus fim ao sofrimento. Havia quem perguntasse por que motivo eu não fazia um ou dois intervalos, já que o tempo de cantoria era extenso. Meu irmão, orgulhoso e mentiroso, respondia com uma piscadela:

- Ela gosta assim. É pra não perder o pique...

Mané pique. Só dava eu e o Osmar no palco, a evitar música mais animada para não cair na tentação da sacudida fatal – que poria fim ao musical, brindando a platéia (?) com um sonoro BRRRRRRRRRRRR! ad infinitum, e terminando por me avacalhar a estréia.

Quase que chamo o Osmar para uma contradança, mas receio que ele se ofenda e seguro a minha onda.

Concluo: entre roncos e ruídos, salvaram-se todos.

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