A minha casa mal assombrada
Quem vai daqui para a praia, mais ou menos no meio do caminho, tem uma casa mal assombrada. Tem, porque tem, porque tem.
É um sobrado com janelas grandes, daquele tipo com madeira em cruz. A grama não é cortada, as paredes são descascadas, as plantas espirram pátio afora, tipo cabelo de orelha de velho, sem ordem nem medida.
Na calçada em frente há umas árvores e uns arbustos crescidos que formam uma espécie de túnel verde – no meio, só um caminho curto de pedra úmida contorna aquela esquina. Coisa de cinqüenta passos. Mas é para os corajosos.
Já vi muito marmanjo atravessando a rua para não encarar o túnel verde. A sorte é que, do outro lado, tem uma reserva ecológica, com plaquinha no portão e tudo. Dá para disfarçar fingindo interesse.
Eu, não. Desde o primeiro dia, optei pelo caminho obscuro, porque dá pra espiar melhor lá dentro. E espio mesmo. Quero saber quem é que vive lá; porque as janelas estão sempre semi-abertas, e há um cachorro preguiçoso do tipo mudo, mas que tudo observa. Alguma coisa se passa naquela casa mal assombrada.
Pois hoje eu atravessava tranqüilamente o túnel verde, entretida em pular poças d’água como fosse amarelinha, foi quando levei um susto: um casal de velhinhos, sentados na varanda! Igualmente mudos e observadores. Não moviam uma pálpebra.
Meu coração gelou, errei as contas e enfiei o pé na água. E uma questão me assombrou mais que tudo: será que eles estavam ali mesmo, eu digo, de carne e osso?
Pelo sim, pelo não, fui visitar a reserva.
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