08 agosto 2004

Vivendo no gerúndio


Fiquei sabendo hoje, depois de 26 anos, que o meu nome significa “vivendo”. Será que é assim, no gerúndio mesmo - vivendo?

Gostei do gerúndio - apesar da forma estar tão gasta, mal usada, mal falada e mal paga -, porque sugere uma certa continuidade que me conforta. Passar a vida inteira no particípio é que deve ser dureza; e, de mais a mais, a verdade é que a gente vai levando.

Muitas vezes, temos a impressão de que a vida está definida; os planos estão traçados, o emprego está garantido, o amor está sacramentado. É só manter o prumo e não fazer nenhum movimento brusco – transar com o cunhado, tomar um porre na frente do chefe etc -, que tudo estará cristalizado no presente, até que a morte nos transforme em passado.

Mas o particípio não se sustenta nas próprias pernas – desaba, quando menos se espera, e caímos de novo na incerteza do crescendo, aprendendo, reinventando. O gerúndio segue reinando, absoluto, como um cavalo em movimento incansável.

Acho que a grande sacada deve ser aprender a dançar em cima dele.


PS: Já reparou como alguns substantivos parecem verbos no gerúndio? Exemplo: mundo. Que, se tirar a terminação de gerúndio (ndo) e colocar a do particípio, fica mudo.

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