O xis do Sedex
“Bíbi. Remeti o "almoço" via Sedex l0. A Eliana disse que não me preocupasse em mandar instruções, pois vocês saberiam como preparar. Por isso, vai apenas um "bom apetite". Muitos beijos
O pai”
E o almoço chegou. Era, acreditem, material suficiente para o preparo de três “xis”. Xis bacon, xis coração e xis galinha. Tudo em saquinhos etiquetados: alface, tomate, milho, ervilha e demais ingredientes. Isopores, gelo. Muito gelo. E, o mais inusitado componente: ovo cru. Como se sabe, xis que é xis tem de ter ovo frito. Como ele não podia mandar ovo frito por Sedex, mandou, não um, mas três ovos crus.
Só que isso também não podia.
Às 9:30 da manhã de sábado (notem: de sábado!), portanto, o interfone tocava ininterruptamente. Era o porteiro, apavorado, sem saber se recebia ou não do carteiro uma caixa fartamente lambuzada, por cima e por baixo, e pelos lados, através do papelão carcomido, embebido, esfarelado. Era puro ovo.
Meu irmão socorreu o porteiro, e dispensou o carteiro. Trouxe aqui pra cima aquela caixa ensaboada, escorregadia, cuidando para não deixar cair: vai que dá o azar de estourar um ovo lá dentro...
A essa altura, uma grande interrogação: o que era aquilo? Abro a caixa, ou passo na farinha de rosca e frito assim mesmo? Sedex empanado, então era isso?
Abriu-se, com dificuldade, e a notícia boa era que o ovo tinha vazado, mas não tinha prejudicado o conteúdo – tudo muito bem lacrado, do lado de dentro. Era o xis do Sedex. Self-xis, aliás. O material estava intacto e bem conservado; era só montar tudo e comer. E assim foi feito.
Em tempo: para quem não sabe, os xis do RS são famosos pela qualidade única do pão, pelo tamanho generoso, e pela fartura dos ingredientes. Qualquer gaúcho que mora no Rio, quando encontra outro desgarrado, tem de ser solidário à “saudade dos xis de verdade” – porque aqui não se encontra um que chegue aos pés dos de lá. E isso não é bairrismo, não. É pura constatação, juro.
Escrevo isso para depois não pensarem que meu pai é um maluco desvairado, claro.
Imagina.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário