Coelho etc
Eu gosto de Páscoa. Tinha aquele negócio de procurar os ninhos - meus pais enfeitavam caixas de sapato e enchiam de ovos de chocolate, depois escondiam pela casa e punham a culpa no coelho. Era divertido; eu quase não dormia na noite anterior, imaginando que o bicho, distraído, podia não me ver e passar correndo pelas minhas costas – aí eu ia morrer de susto, e o bicho idem, coitado, de nervoso, vai ver até que podia evacuar chocolate em cima de mim. Fresquinho!
E eu, que sou gente, ia evacuar coisa de gente mesmo. Sempre tive a barriguinha sensível para sobressaltos - puxei a meu pai.
Aliás, eis aqui um dado importante que talvez explique muita coisa. Diz-se que, quando minha mãe começou a sentir que eu estava querendo sair da barriga dela, meu pai sumiu e não houve quem o encontrasse nas próximas horas. Foi achado, tempos depois, vigiando a porta de um banheiro público. Se alguém se aproximasse, ele punha a mão no trinco, do lado de fora, e fazia uma cara de quem diz – “está ocupado há hoooooras, haja paciência... tem certeza que vai querer?”
Estava ocupado, nada. Estava era ele com medo de que o sujeito usasse o banheiro por, sei lá, cinco minutos, e aí o azar teria sua chance. Melhor era garantir o lugar vago; nunca se sabe exatamente a periodicidade do, digamos, do nervoso da pessoa.
Chegou a tempo de me ver estrear neste mundo, é verdade. Mas não abandonou o banheiro amigo antes do terceiro sinal.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
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