Auto-ajuda: Teoria 3D
Um dia eu vou escrever um livro de auto-ajuda, já disse. Estou criando uma tese para quem quer mudar de vida, dar a volta por cima, sacudir a poeira – e outras pieguices brônquio-fatais. Vocês sabem.
Trata-se da Teoria 3D. A saber:
D-1: Desejo.
D-2: Determinação.
D-3: Disciplina.
Sem esses três pilares, nada feito. Vou explicar, até porque não sei desenhar.
Desejo é quando você aprecia tanto alguma coisa, que instantaneamente se imagina a possuindo. Não, não vale sacanagem, estou falando sério. É quando você, ao vislumbrar uma situação, agarra-se à idéia de vivenciá-la – como diria meu tio – tal qual merda em tamanco. Não desgruda da sua cabeça. Pronto, você deseja.
Determinação é quando você se convence do desejo que tem. Aí está. Não adianta desejar uma coisa agora, amanhã outra, depois esquecer tudo. Esse desejo é desprovido de determinação, ou seja, vai dar em nada. É pura fantasia – e a gente vive disso também, eu sei, eu sei, mas é material para um segundo livro, e não me desconcentraaaaaa!!
Como se vê, estou determinada.
Terceiro e último. Disciplina. Uma vez desejada a coisa, e outra vez desejada a mesma coisa, e outra vez desejada a mesma coisa – ou seja, uma vez determinado o desejo, é hora de ter disciplina. Isso, diacho, é uma praga necessária.
Toda vez que eu penso nessa palavra – disciplina –, minha memória enfadonha vai parar numa sala de aula de mil novecentos e sei lá quantos, com uma professora de educação artística, feia como um raio e chata com um trovão engasgado, a rugir entredentes (não sei como ela conseguia):
- DISCIPLINAAAAAAAAAAA, TURMA!!!!!!!
Aquilo marcou a minha vida. Disciplina era sobrenome de bruxa, ou apelido do cão que aquela senhora acolhia, carinhosamente, no ventre.
Mas hoje eu sei que não é nada disso. É bem pior.
Brincadeirinha. Good news: disciplina é um monstro que se adestra.
No início, o bicho corcoveia e te olha feio. É assim mesmo, não adianta. Mas a origem está num ato de amor: o Sr. Desejo comeu a Srta. Determinação (ops!, perdão da sacanagem), e da barriga dela saiu uma gosma que vai te perturbar a vida. Ou você encara e amansa a fera (com disciplina), ou vai sair dessa frustrado e mal pago.
Eu sei que “ou vai sair dessa frustrado e mal pago” não é frase adequada para se terminar um tratado de auto-ajuda, e que eu deveria procurar imagens mais inspiradoras e coloridas, como purpurinas ao vento - ou outras pieguices brônquio-fatais. Mas penso que a ameaça da frustração pode ser positiva, sim, sobretudo se vier acompanhada de infortúnio financeiro.
A minha intenção, juro, é incentivar o leitor a largar a preguiça de mão e tomar para si a responsabilidade de domar os bichos que o desejo vai parindo pela vida afora.
A menos, é claro, que ache mais confortável terminar os dias choramingando e apelando para o quarto “D”, que não consta na minha teoria, mas se sabe que é o melhor ouvinte para as ladainhas dos acomodados de plantão.
Deus.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
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