Mais uma do cacet(inho)
Ainda vou escrever um livro – ou, pelo menos, um capítulo – sobre os micos que paguei na vida por causa do cacetinho. Você sabe: cacetinho é como nós, gaúchos, chamamos o pão francês.
CENA
Recreio dos Bandeirantes - Rio
Minha mãe e eu, cansadas, às 10h da noite, vamos ao supermercado. Começo a procurar a marca do pão de forma light que eu gosto, mas não encontro.
Minha mãe, paciente, espera. Olha para os lados. Distrai-se com os iogurtes.
- Tão caros...
Continuo procurando, e nada. Minha mãe - cuja paciência é ponto forte, mas não se pode querer milagre! – resolve ajudar. Lá dos iogurtes, enche os pulmões de ar e brada:
- FILHAAAAA!!! SE NÃO TEM A MARCA QUE TU GOSTAS, NÃO QUERES LEVAR UM CACETINHO???
Ecos no supermercado: “cacetinho... inho... inho...”
A filha aqui, em vez de se tocar logo da gafe cometida, reflete dois segundos e pondera (em voz bem alta, claro):
- POIS É... O PROBLEMA DO CACETINHO É QUE AMANHÃ ELE JÁ NÃO ESTARÁ TÃO BOM!
Um senhorzinho passa e estoura um riso breve, nervoso. Decerto pensou no triste envelhecimento do cacetinho.
“Desculpe, senhor. Não é nada pessoal. Muito pelo contrário. O seu, amanhã, é capaz de estar até...”
Melhor não dizer nada.
Azuis desmaiados
Há 4 anos
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