Dura caminhada
Fui caminhar na praia de manhã; saí às 9:20 pensando: “oba, com o horário de verão é sol de 8:20, não há de ser tão quente...”.
Gaúcha branquela, sagitariana (leia-se: otimista crônica), grávida (leia-se: acalorada), empapada de protetor solar fator 50, blusinha que já não cobre a parte de baixo da barriga – vocês imaginam a cena. Andei três minutos e comecei a praguejar, horário de verão o #!@¨#!*&!, ôôô calor dos infernos, onde é que vamos parar???
Mas fui, porque tenho compromisso no final da tarde (único horário realmente suportável). Liguei meu novo MP3 player, concentrei-me no ritmo da música e fui. Coragem.
Funcionou nem dois minutos, parou o som. Essas coisas novas a gente tem que carregar antes de usar, né? Pois eu achei que bastava carregar na cintura, é o que dá ter nascido muito tempo atrás. Segui no silêncio mesmo, frustrada. E o sol na cuca.
Passei diante de uma obra. Aqui no bairro há muitas obras, não há como evitá-las. Honestos trabalhadores martelavam seus tijolos, concentrados, até que me viram e pararam. De repente, começaram a entoar um funk obsceno cujos termos reconheço 30% - porque, vocês sabem, na internet a gente acaba lendo de um tudo. Os outros 70%, valha-me Deus, quero crer que não faziam referência a mim.
Não se respeita nem mais mulher com criança na barriga? – fiquei com vontade de indagar, aos berros, mas achei mais prudente apertar o passo e garantir que a serenata permanecesse fixa naquela cobertura inacabada.
O sol cada vez mais escaldante, eu cada vez mais esbaforida, as obras, o funk, o reflexo do mar estourando nos meus olhos, minha barriga chacoalhando meio desajeitada - apesar de tudo, acabei praticando o tempo necessário para não me tornar uma sedentária e alegrar os médicos.
Na volta, que surpresa, de longe enxerguei minha mãe correndo de bonezinho. Pensei, interrompo ou não interrompo o cooper dela?, interrompo ou não interrompo?, o certo seria não interromper, mas estou tão carente, o sol na moleira, e grávida pode tudo, não pode?
Satisfeita e mimada, decidi interromper e puxar uma conversa. Fiz um estardalhaço, acenei cruzando os dois braços no alto, dei uns pulinhos e sorri. Ela deu uma gargalhada, e só.
Bom, não era a minha mãe.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário