Sobra homem no mercado
Mariana é bem nome de menina que nasceu no final dos anos 70, início dos 80. O que tem de Mariana com vinte e poucos, hoje em dia, não é
brincadeira. As Marianas, atualmente, são mulheres jovens, bonitas, charmosas, simpáticas e solteiríssimas.
Mariana meio ruiva, com sardinha no nariz, então, é coisa típica. Eu disse meio ruiva. Castanho-avermelhado, o cabelo. Se for totalmente ruiva, aí já pende mais pra Viviane, Elisabete, Solange (se bem que Solange é mais anos 70, mesmo).
A Mariana, de fato, é só quase ruiva.
Pois fui almoçar com a Mariana, que eu não via há quatro anos. E ela continua jovem - que Mariana, de verdade, só vai começar a envelhecer lá por 2030. E solteira. Mas em vias de reverter o quadro.
- Conheci o Antônio no mercado!
Não entendi nada. Primeiro, que Mariana casar com Antônio já é de se estranhar. Mariana casa com Marcelo, Guilherme; no máximo, Maurício! Esse Antônio tá me cheirando a coisa mais antiga.
- Antigo, coisa nenhuma! O Antônio vai fazer 39, mês que vem. Estou com 26, olha aí, não dá nem quinze anos...
- E conheceu o quarentão onde, mesmo?
- Quarentão, coisa nenhuma! O Antônio é um guri! E, de mais a mais, hoje em dia, não dá pra ficar escolhendo muito, não...
A Mariana diz que homem é peça rara no mundo atual. Até os 20 anos, ela me conta, era uma festa só. Saía, beijava na boca, e achava tudo uma maravilha. Não se preocupava com os Marcelos, nem com os Guilhermes, que dirá com os Maurícios. Esnobava todos eles.
Só que, depois dos 20, a coisa foi ficando feia. Meia-dúzia de Marcelos viraram Marcelas. Os Guilhermes foram encontrando as suas Cíntias; os Maurícios, casaram-se com as suas Patrícias. E a Mariana foi sentindo que alguma coisa estava mudando. Para pior.
- Menina, nos últimos anos, é um tal de salve-se quem puder, que só vendo! Quando cheguei aos 23, depois de muito relutar, resolvi partir para uma pesquisa mais profissional. Encarei o assunto com seriedade, mesmo!
Levei três anos, catalogando daqui, experimentando dali, mas valeu a pena: finalmente, achei o Antônio!
Quando perguntei que tipo de pesquisa ela havia feito, não acreditei no relato quase científico que a Mariana me fez. Não era brincadeira; ela tinha se tornado uma expert no assunto.
Três anos depois de entrar no mundo profissional da garimpagem de homens disponíveis, minha amiga concluiu a frase irônica que define, afinal de contas, onde é que eles estão: "sobra homem no mercado". Ela vai lançar um livro com esse título, inclusive.
Milhares de Marianas irão comprar o livrinho da minha Mariana, e descobrirão, como eu descobri, que a moça não brinca mesmo em serviço: a mina de ouro, segundo ela, está no mercado. O super. Mais precisamente, na prateleira dos congelados.
- É verdade! Conheci o Antônio nos congelados. Antigamente, eu me arrumava toda, e saía à noite. Tolice. Coisa de gente que não entende nada do assunto. Amadorismo! Assim que me profissionalizei, descobri o óbvio: eles estão na prateleira dos congelados! Estão todos ali, disponíveis... homens solteiros, homens separados, amantes do microondas, afogando suas
mágoas solitárias numa lasanha à bolonhesa... nada pode ser mais romântico!
Realmente, a Mariana vê romantismo numa lasanha congelada. E vai publicar conselhos quentíssimos para as amigas que procuram um parceiro; coisas do tipo: passe um batom, tome uma vitamina "C" (para evitar o resfriado!), e fique horas desfilando diante das portas mais geladas dos supermercados.
Cedo ou tarde, aparece um Antônio, apressado, que vai empilhar nos braços algumas dúzias de lasanhas; aí, é só esbarrar nele. Sim, também você não vai esperar que o Antônio olhe para os lados, né?
Antônio, o nome já diz, é um sujeito extremamente compromissado e afoito. Cabe à Mariana, portanto, derrubar as lasanhas dele no chão. Depois disso, é só correr para o abraço.
- Mas como é que você consegue escolher o Antônio só pelo sabor da lasanha?
- Ah, minha filha, hoje em dia, não se pode querer escolher muito, não! Se ficar com frescura, vai lá outra Mariana, e derruba as lasanhas do partidão! O negócio é ser rápida!
- Sim, mas... algum critério, você tem que ter! Pelo amor de Deus! Não acredito que você possa escolher o marido, assim, no corredor do supermercado, sem critério algum! Nenhuma exigência???
- Vai por mim, amiga: com o meu tempo de serviço, já aprendi que exigência é meio caminho andado para a solteirice crônica. Claro, ninguém é
de ferro. Uma exigência eu tenho, confesso. Mas só uma!
- Qual?
- Não falar "menas". Se falar "menas", eu sinto muito, pode ser a melhor lasanha do freezer, que eu não encaro.
- E "a nível de"? Pode falar?
- Segunda exigência. Abro uma uma exceção: se falar "a nível de", só se for a nível de sexo. Mais que isso, nem pensar!
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Há 3 anos
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