Pequenas doses (homeopáticas) de VENENO:
-> Antes da novelinha Malhação, na Globo, vem outra novelinha: Malhação da Goela. Lá, alguns artistas - que não entraram na casa do Sílvio Santos porque foram considerados "muito talentosos" - passam todo o tempo do mundo malhando as suas ricas goelas potentes. Tal como o Fat Family (e tantos outros adeptos da goelização da música), os artistas praticam o "canto" como se estivessem condenados à forca: os três minutos da canção são os últimos de suas vidas; portanto, praticamente não respiram. Fazem da linha melódica uma montanha russa, entram dentro dela e se contorcem em gritos e gemidos, malhando a goela e mostrando todos os músculos, ininterruptamente, sobretudo na hora das (saudosas) pausas.
-> Ouvir uma música goelizada equivale, mais ou menos, a olhar para o corpo da Feiticeira. Você sabe que tem alguma coisa inchada ali, mas não sabe precisar onde. É que a coisa é generalizada; para qualquer canto que se olhe (ouça), ali está o exagero.
-> Deus que livre meus ouvidos de estarem sobre esta Terra quando inventarem os anabolizantes para goela. Já pensou?
-> É por essas e outras que, no próximo fim de semana, estarei assistindo ao Carijo - festival de música gaúcha, em Palmeira das Missões. Vou me lembrar dos bons tempos em que a arte não tínha músculos, e, sobretudo, não era apresentada pela Angélica e pelo Toni Garrido. Meu pai até comprou uma roupa campeira.
-> Acho que os participantes do Carijo não devem interpretar suas canções como se fossem a última oração antes da morte. Assim, evitarão que também nós, ouvintes, sintamos uma proximidade desconfortável com o chifrudo. (Sim, porque o paraíso é que não deve ser feito de frenéticos grunhidos vocais, e assustadoras reviravoltas melódicas que assassinam a composição. Isso deve ser até pecado.)
-> Agora eu entendo por que é que a cordeona (sanfona) chora há tantos anos.
-> Aliás, mais um belo título de livro: "A profecia da cordeona - goelização da música brasileira". Ainda escrevo. Se os anabolizantes não chegarem antes, claro.
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
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