15 agosto 2002

O PREGO


A filha de uma amiga nossa tem doze anos e quer enfiar um prego na testa.

Segundo a menina, o nome daquilo é mesmo piercing, é bonito, está na moda, e é muito... maneiro. Que fura, fura. Mas é maneiro.

No meu tempo, injeção na testa a gente não aceitava nem de graça. Mas pensava no assunto, é claro. Hoje em dia, pelo visto, pensa-se menos; fura-se mais.

Acho até bonito um piercing na sobrancelha, se combinar com o estilo da pessoa ADULTA que quiser inseri-lo acima do seu próprio olho. Mas, com doze anos??

Eu tenho o dobro da idade dessa fedelha, e a única coisa que me enfeita é Jesus Cristo, pendurado na cruz, pendurado numa correntinha pendurada ao meu pescoço. Com todo respeito. E eu passo pela porta do Unibanco, numa boa, sem apitar.

Outra coisa: furaram as minhas orelhas muito cedo, no tempo em que eu não podia me defender, de modo que penduro uns brincos nelas sempre que tenho vontade. Ainda assim, a orelha direita é chique demais para aceitar qualquer coisa que não seja de ouro, e inflama. A outra é mais humilde.

Sim, mas eu não durmo de brinco. Não tomo banho de brinco. Nem me peso de brinco, que pode dar impressão de que engordei.

O brinco a gente manipula, tira e põe na hora que bem entender. O prego, não. O prego é praticamente um anexo metálico. À noite, periga alguém bater achando que é mosquito.

Fora que dói. Muito. Sofrimento curto, na hora de colocar, mas muito intenso. Quem já fez, confirma.

Não sou tão careta assim; aceito o prego (em adultos) numa boa. Reconheço que estamos no século XXI, as pessoas são livres, etc.

E dou graças a Deus porque, por enquanto, ainda estão pendurando só os pregos. Imagine quando começarem a pendurar os quadros.

Não devo viver para tanto.

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