05 maio 2005

Meu blog-de-ventos


Tenho uma coisa com datas. Adoro lembrar eventos – e qualquer coisa que tenha data é um evento. Eu sei que é besteira, mas eu acho.

Evento sem data é vento.

Tinha mania de agenda, desde criança. Lá pelos 10 anos, comecei a notar que o tempo passava muito rápido (!), e resolvi que ia anotar os eventos mais importantes num diário. Gostei da brincadeira, tive vários. Vários diários e vários eventos. Além, é claro, de vários ventos.

Um dia eu fui a um show de um cantor argentino e me apaixonei pelo som dele. Cheguei em casa e registrei tudo no diário. Aí não queria dormir, para “prender” o que eu tinha ouvido na minha cabeça por mais tempo. Quanto mais forte eu conseguisse prender a música do cara na minha cachola, mais acessível (eu pensava que) ela ficaria na minha memória dali a 20, 30, 40 anos...

Eu tinha uma preocupação louca com esse negócio de futuro. Freud explica.

Agora eu me pego fuçando meu passado recente nesta bolha virtual que é a internet, e caio do cavalo. Sempre achei estranha essa definição de blog: “diário virtual”. O meu não era – eu pensava. O meu é de brincadeira. O meu são pílulas do dia-a-dia, coloridas. O meu é de mentirinha (nem tudo aqui é verdade).

De mentirinha, nada. Este blog é de verdadinha. E, no próximo mês, faz quatro anos.

Claro que eu não registro aqui nem 1% do que acontece na minha vida. Fantasio, camuflo, galhofo. Depois ainda edito. Deleto. Capricho. Conto meio conto, e aumento um ponto-e-vírgula. Faz parte da brincadeira.

Mas, quer saber?, eu tropeço e caio nas minhas próprias entrelinhas. Sei muito bem quem eu fui nesses quatro anos – evento a evento, post a post, conto a mim mesma o meu subtexto... diacho!

Tem coisa que a gente preferia nem lembrar. Também, quem manda ter essa mania de datas?

Por outro lado, outras coisas me dão puro prazer – reler, reler... até nunca mais acabar.

É muito bom, anyway, ter esses registros todos. Ainda que meio tortos, ainda que difusos, confusos, hilários, dramáticos, até surreais – mas sempre com datas. Datas são balcões que a gente cria no tempo, para a memória ter onde apoiar os cotovelos.

E para mantermos a doce ilusão de que os eventos da vida não são é ventos.

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