1986 – o ano em que eu não conseguia ler Zoológico
Andávamos pela rua, quando minha mãe avistou uma placa enorme: “ZOOLÓGICO”. Resolveu brincar comigo:
- Filha, o que é que diz naquela placa?
- Que placa?
- Aquela, lá na frente!
- Ah... não sei.
- Claro que sabe! O que é que está escrito lá, minha filha, bem grande? ZOO...???
- Não sei. Não tenho a menor idéia. Não enxergo!
Levou-me ao oculista (naquela época, não se dizia oftalmo). Eu lia muito bem, mas não era capaz de enxergar “zoológico” a uma distância banal.
Então, conheci dois bichos novos: hipermetropia e astigmatismo. Duas palavras que eu nunca tinha lido antes, e que me pareciam horríveis. Tem cura?
- Uma delas tem. E a outra pode diminuir muito. É só usar os óculos direitinho.
- Precisa usar na aula?
- Claro!
- Até na educação física???
- Hum... não, na educação física pode tirar.
Escolhi a armação das vidraças – na base do “menos feio”, porque bonito não achava nada -, e passei a torcer para chegar logo a aula de educação física. Até entrei para o time de basquete do colégio. Jogava mal, é verdade. Será que era porque não enxergava a cestinha?
Não importa. Mesmo no banco, não precisava usar óculos. Mais do que as cestas, isso era o que me fazia feliz.
No resto das aulas, e fora delas, usei os óculos direitinho. Suportei os apelidos (desnecessário citá-los), a piedade das professoras, os primeiros namoros postergados. Ah, tirei o atraso na adolescência!
Apelidei todo mundo, quero dizer.
20 anos depois - a confissão
Livrei-me do primeiro bicho. Agora só tenho astigmatismo, mas aponto zoológicos a quilômetros (uau!), toda orgulhosa. Trato-me com o mesmo oculista, que hoje é oftalmologista e exibe as revistas com as minhas crônicas por aí: “Tá vendo? É minha paciente há 20 anos! Enxerga tudo!!”.
“NE”
“UFVP”
“CDOHRL”
Antes de fazer 30 anos, preciso confessar, senão morro de culpa: já decorei as letrinhas dele!!!
Esperança ou a falta dela
Há 3 anos
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