27 junho 2002

BUENAS!

Pensaram que eu tinha abandonado vocês, né? Arrá, tou de volta!

Querem um gole de café com açúcar mascavo? Delícia. Hoje não está tão frio aqui no sul; um solzinho de esquentar os miolos na rua. Mas dura pouco - lá pelas 4:30h da tarde, o negócio é puxar as mangas do blusão até o pulso de novo, e enfiar o casaco por cima. Coisa buena!

Por outro lado, estou começando a sentir saudade do Rio de Janeiro, sobretudo do Recreio dos Bandeirantes e suas belezas naturais. Aquela rapaziada jogando "futivôlei" na praia, por exemplo, e o sol fazendo brilhar os bíceps, tríceps, e outros íceps mais.

Certa feita, andava eu, distraída, pelo calçadão da praia, quando fui atropelada por um íceps definido, destes beirando a perfeição - não bastasse íceps, ainda havia cabeça, tronco e membros: tudo incluído no pacote do atropelamento. É fato: de beleza, o Rio de Janeiro redunda. E outras undas mais.

Já contei a vocês daquele fatídico verão em que me dispus a retornar à adolescência, e me meti a pegar onda? Pois foi. Boadyboard, pés de pato, eu, meus vinte e poucos anos, e minha cara-de-pau. Mar adentro.

Foi um fiasco, evidente. Quem olhava de longe, via dentro d'água, não uma, mas três ou quatro moças se afogando - tamanha espuma que eu fazia, no afã de cruzar a arrebentação. Tive que fazer amizade com o salva-vidas daquele posto, e jurar pela alma da minha avó que eu sabia nadar, que estava tudo sob controle, e que não era necessário ele sair correndo atrás de mim cada vez que eu entrasse na água.

Quando consegui me livrar do salva-vidas, foi a vez dos "brothers-marinhos" quererem me resgatar com vida. Sim, os surfistas são todos "brohters", e, assim, sem saber, acabei virando uma também.

Teve um brother, um dia, que resolveu me perguntar se estava tudo bem, se eu queria ajuda. Olhei pro lado, havia vários íceps avantajados sobre uma prancha. Pensei na relação custo-benefício, e, com um meigo sorriso, aceitei a ajuda.

Uma vez em terra, agradeci enfaticamente, ainda bufando, enquanto o salva-vidas me olhava sem entender nada. Perdi a credibilidade naquele dia, mas valeu pelo íceps - também, não se pode ter tudo.

Depois eu fui perceber, acanhada, que os meus brothers, na verdade, preferiam me ver na areia mesmo. Não que se admirassem pelos meus íceps e undas, nada disso: é que eu, dentro d'água, mais atrapalhava que ajudava.

Como eu era uma novata-veterana-um-tanto-sem-prática, seguidamente me enfiava na frente de uma prancha bem maior que a minha, e impedia o sujeito de pegar justamente a melhor onda. Na maioria das vezes, eu tomava um caldo dela, rolava uns metros em direção à praia, bebia uns litros d'água, e depois ainda saía xingando a onda: VAI BRIGAR COM ALGUÉM DO TEU TAMANHO, Ô!!!

Muito me diverti. Até que, um dia, conheci um senhor de certa idade, muito simpático, que me ofereceu uma água-de-coco. Não era lááá uma Brastemp de íceps, mas era bem menos arriscado, e cansava menos.

Foi assim que eu pendurei os meus pés-de-pato, para a alegria geral da praia do Recreio.

Mas, não se iludam: no verão que vem, eu voltarei...

24 junho 2002

DOZE GRAUS

Oi, queridos. Aqui em São Leopoldo, às 17h, faz um friozinho de 12 graus, com céu de brigadeiro pairando sobre nossas cabeças. "É o meu Rio Grande do Sul, céu, sol, sul, terra e cor... onde tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor".

O fim de semana foi longo - desde o jogo do Brasil, pouca coisa funcionou até hoje, segunda-feira, dia de São João. A não ser as choperias e o turismo na serra, claro.


VIDE BULA

Ontem à noite, dei uma canja lá no Bar do André, como de costume, no meio da apresentação dos meninos da banda Vide Bula (na verdade, eles estavam em versão reduzida, fazendo um som-Brasil superbacana). Hoje em dia, a Vide Bula é a banda cover que mais vejo fazendo shows aqui pelo RS - e não é à toa.

Trata-se de um sexteto hipercompetente, entrosadíssimo e afinado; sem dúvida, um programão para fim de semana nenhum botar defeito. Vale a pena conferir, virei fã de carteirinha. Se você não gostar, eu me visto de odalisca e danço um xote no meio da praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, em horário de pique.

Mas você vem junto, que xote não se dança sozinha... e não se deixa uma dama sem par, cavalheiro, caso você ainda não saiba. (Também, eu tenho que ensinar tudo!)

Visitem o site dos garotos - www.bandavidebula.cjb.net -, vejam as fotos, a agenda, as letras das músicas (eles também compõem), etc... está dado o recado. Posologia e contra-indicações, VIDE BULA.


DIQUINHA

Dica do dia: seja honesto com você mesmo.

23 junho 2002

SHOUT OUT!!!

Alou, navegantes! Surpresa (até pra mim): JÁ temos linkzinho para comentários dos textos! :o)
Chama-se "shout out", e aparece aqui embaixo. Você clica nele, coloca ali o seu nomezinho, e manda um beijo para o papai, para a mamãe e para você. Ou o que tiver vontade! Não é ótimo?
A-D-O-R-E-I ! Agora vou poder falar com vocês mais seguidamente, e uns vão poder ler os comentários dos outros.
Coisas de Melissa...

MEG & LEOPOLD

Na verdade, o nome do filme é "Kate and Leopold", mas, para mim, a Meg Ryan é sempre Meg Ryan - com aquela carinha de Meiga Ryan, aquele cabelo ralinho, braços fininhos, olhos de anjo e sorriso de criança.

Kate & Leopold é uma comédia romântica (como não poderia deixar de ser) bem levezinha, daquelas de sair do cinema suspirando "ai, ai...". Levem suas namoradas, mas depois não reclamem se elas se lamentarem: "Aaaah, bem que você poderia ser um Leopold, de vez em quando...".

Leopold é um amante à moda antiga - com o diferencial de ter vindo do passado, de fato. Um homem de 200 anos, com corpinho de 30. Um sonho de príncipe encantado, com cavalo branco e tudo.

Kate (Meg Ryan) é uma mulher moderna, trabalhadora, de gestos frenéticos e cabeça confusa. Mais ou menos o que todas nós somos, mas com os olhos azuis que nem todas nós temos. Nada mais justo, afinal, Hollywood sempre foi mais charmoso do que as nossas reles vidas.

O filme une uma mulher independente e moderna com um príncipe encantado dos velhos tempos. De minha parte, sagitariana, baixista e vocalista de uma banda de rock, só posso mesmo assistir ao filme, dar boas risadas com meu tom irônico característico, e sair de lá balançando os meus cabelos tingidos, saltitante, como quem diz: eu, hein? Cara chato, esse tal de Leopold...

Sim, porque a minha mãe não me educou para ficar me derretendo por qualquer príncipe encantado, não senhora. Com sete anos de idade, eu pegava um pirralho do meu tamanho, daqueles bem irritantes, segurava no kimono dele, e o derrubava no chão. Depois, imobilizava o moribundo, e só soltava quando o professor de judô gritava "CHEGA!!!". Aí, o menino voltava a si, e me fitava com os olhos esbugalhados de horror - assim, me tornei uma mulher inesquecível... a meu modo, vá lá.

Leopold que se cuidasse comigo; que eu, de Meg ou Kate, não tenho nada. Sou dura na queda, meu filho, tá pensando o quê? Comigo, não. Se o vivente vier sozinho, há de se ver comigo. Se vier a cavalo, derrubo os dois.

Ok, digamos que o Leopold me apareça, vamos dizer, de calça jeans branca (em vez do cavalo), botinhas de couro marrom, e uma camisa qualquer. E que me atraia pela voz, pelo papo, pelos braços ou pelo furinho no queixo. Tudo bem, é só uma hipótese, admito que posso até me sentir um pouco balançada, embora trate de disfarçar o ocorrido em tempo recorde, por exemplo, chamando um táxi ou a minha mãe mesmo - o importante é saltar fora dessa situação constrangedora o quanto antes.

Se, por acaso, ele me convidar para sair antes da minha mãe aparecer, sou até capaz de aceitar. Talvez, talvez. Quando ele for abrir a porta do carro para eu entrar, vou fingir que nem vi, porque puxou um fio da minha meia, eu fiquei ali distraída, e quando percebi... ora, a porta do carro já estava aberta. Tudo bem, eu entro, sem reclamar. Dessa vez, passa.

Se estiver um frio de rachar, ele tirar o seu casaco e colocar nas minhas costas, vou fazer de conta que nem precisava, que sou resistente a baixas temperaturas, ora bolas. Leopold irá sorrir, doce, como quem diz: imagina se eu vou deixá-la pegar esse frio nas costas, depois é capaz de ficar gripada e não poder cantar...

Nem vou ligar para a preocupação desnecessária de Leopold. Se ele me fizer entrar antes dele no restaurante, e me abraçar na cintura, e for gentil com o garçom, e segurar na minha mão antes do prato chegar, e pedir o melhor vinho tinto, e me olhar nos olhos, e arrumar o meu cabelo que está caindo na testa, ainda assim eu não vou lhe dar a mínima. Homenzinho mais bobo, este.

Algum tempo depois, quando estivermos na Itália, passando a lua-de-mel e conhecendo a origem dos meus antepassados (ele fez questão de escolher a Itália por isso), eu não estarei lá muito certa do meu amor por Leopold. Provavelmente, estou só dando uma chance para que esse camarada aprenda como lidar com uma mulher moderna de verdade. Sim, deve ter sido por isso que eu casei com ele.

Quando, alguns anos depois, a Laura nascer (nossa primeira filha), eu talvez decida continuar vivendo com Leopold, afinal, ele terá a chance de ser o pai da minha filha, e não deve ser direito privá-lo de poder exercer essa tarefa.

Mas, uma coisa é certa: eu já terei aprendido a lição, e tratarei de educar a Laura de um modo totalmente diferente de como fui educada.

Mais ou menos assim:

Segunda-feira: judô.
Terça-feira: caratê.
Quarta-feira: bateria e percussão.
Quinta-feira: jiu-jitsu.
Sexta-feira: boxe.

Quero ver algum Leopold se meter a besta com a Laura, quero ver!

22 junho 2002

É BUSH!

Saiu hoje no jornal: "Bush sugere exercícios e dieta".

Sim, o presidente dos Estados Unidos convocou a nação para malhar, comer direito, e visitar os médicos regularmente. Por quê? Segundo o próprio, "a evidência é clara: um EUA mais saudável é um EUA mais forte."

Depois dessa pérola de afirmação - quase bélica -, o ilustre manda-chuva ainda disse que o descuido com a saúde debilita a nação, devido aos altos custos dos serviços médicos. Os EUA gastam U$ 183 bilhões só para combater doenças cardíacas.

Aaaah, bom. Tá explicado. Os americanos devem suar a camiseta e ficar sem o Big-Mac-nosso-de-cada-dia, mas não é em vão. O esforço terá valido: o país economizará seus preciosos dólares, e todos viverão felizes para sempre, graças aos conselhos do mestre Bush - praticamente uma fadinha do Walt Disney, de pureza e bondade.

Obesos do primeiro mundo, cuidem-se. Visitem o doutor, comprem uma esteira elétrica e façam alguma coisa pela nação. Sim, porque o papai também não pode fazer tudo, não é? Papai já disse o que deve ser feito; agora é com vocês.

Inacreditável. O sujeito já nem disfarça. Em vez de aconselhar o povo a se exercitar para viver bem, para sofrer menos com as doenças cardíacas ou até para parecer mais bonito, não: vamos emagrecer para engordar o cofrinho, e vamos malhar para fortalecer a nação.

Veja a que ponto chegamos. Raciocínio é uma palavra que começa e termina no mesmo lugar: o bolso. Se você, por acaso, acabar baixando o nível do seu colesterol, isso será apenas uma conseqüência, um "plus". Mas o importante, mesmo, é reduzir os gastos.

Enquanto isso, nós, felizardos filhos desta pátria mãe gentil, não esquentamos a cabeça com despesas de serviços médicos - afinal, não temos problema nenhum, a saúde vai bem, obrigado, somos belos e nossas bundas já são bonitas por natureza.

De mais a mais, nosso coração está funcionando bem, aquecido pelo amor que temos pela nossa seleção-canarinho. Somos um país livre, somos organizados (principalmente o tráfico), temos o carnaval, a alegria, a simpatia e - não um, mas dois! - Ronaldos.

Querem mais o quê?

Esses americanos é que arrumam muito problema. Comem muito bacon, ficam fora de forma, e depois saem correndo atrás do prejuízo - literalmente. E só pensam em dinheiro, coitadinhos.

Vou te contar, esse Bush é uma crônica que já vem pronta.

20 junho 2002

ESQUECIMENTO

Buenas, minha gente! Apareceram amigos de Jundiaí e Brasília, conectados ao BiBlog e não citados no texto em que eu falava das cidades. Bem-vindos, e me desculpem pelo esquecimento! :o)

REIVINDICAÇÃO

Já teve gente me pedindo encarecidamente que eu colocassse aqui no blog aquele linkzinho para vocês comentarem os textos.
Aproveito e explico, envergonhada e insatisfeita, que não entendo patavina desta coisa high tech - para mim, até um simplório web-blog é complicado, acreditem. Tanto que não fui eu quem fez o meu. Foi uma amiga, paciente e generosa, que arrumou tudinho e depois só me mandou um e-mail com todas as instruções, assim como quem explica para criança: "aperta aqui, depois aperta ali, escreve, e aperta ali." (Eu sou do tempo em que se apertava, não se clicava).
Decorei as lições dela, e até hoje eu me viro. Mas o meu é sem linkzinho, infelizmente, porque eu não cheguei até essa parte da lição. Rodei antes.

NOVELA DAS SETE

Isso mesmo, desocupado assiste. Eu assito, e cheguei a uma conclusão: a Regina Duarte é beeeem melhor vendendo sanduíche na praia, n'é não?
Por Deus, como aquela mulher sofre! E sofre de se atirar no chão, aos prantos, espremendo os olhinhos e tudo.
A pior parte da novela é o núcleo principal...

RUBÉOLA

Vamos lá, gurias, que as vacinas vão só até o dia 5 de julho!! (Ui, ainda não fiz a minha.)

MANO

Meu cabiludo preferido, como vai? Te mandei um e-mail, mas não respondeste. Vai por aqui, mesmo. Tou com saudade! Tinhas que ver, ontem, no Bar do André, o Marius e eu cantando "More than words"... acreditas nisso? Hehe.
Hoje vamos jantar lá na casa dele, depois vamos ao Factory ouvir a Vide Bula e esperar até a hora do jogo, para assistir nos telões. Amanhã, não presto pra nada.
Vê se faz uma festa por aí também!
Beijo, beijo, beijo!

F U I!
Boa sorte, Felipão, meu ídolo! Hohoho...

19 junho 2002

UTOPIA DE ÉDIPO

A Marília e o Reinaldo são um casal moderno. Ele - moreno, alto, beleza previsível e irretocável, moço, modelo e ator. Ela - loura, alta, beleza imprevisível e quase agressiva, madura, jornalista e apresentadora.

Ela tem a voz grave e um discurso marcante. Ele tem a fala doce e leve. Ela transmite autoridade e segurança; ele, sensibilidade. Cada qual com sua personalidade, combinam muito bem, mas parecem ter saído de mundos diferentes. E saíram.

A Marília é símbolo de uma geração de mulheres que lutou por seus direitos, repudiando o tricô e o bordado, fazendo escolhas, transgredindo as normas. Tudo isso, numa época em que transgredir dava cadeia.

O Reinaldo é, de certo modo, filho da Marília. Cresceu no tempo em que homem chorar já não era mal sinal, como bem ensinavam as Marílias - ainda tontas pelo atropelamento dos tempos modernos, sem saber exatamente que tipo de revolução estava havendo. Mas certas de seus objetivos; incansáveis, educando seus Reinaldos para serem homens de verdade, com choro e tudo.

O encontro do Reinaldo com a Marília é quase uma utopia edipiana; o amor entre duas gerações, exercendo plenamente o produto que surgiu da interação entre elas. É como se o destino abençoasse a evolução das relações entre os sexos, aprovando o resultado, e incentivando a continuidade desse processo ainda não terminado.

É claro que as filhas das Marílias também são belas esposas de outros Reinaldos; também os pais dos Reinaldos são excelentes maridos de outras Marílias. Contudo, enquanto os frutos ainda não se acomodaram em suas novas identidades, parece que os Reinaldos e as filhas das Marílias têm uma tarefa a cumprir: cada qual precisa redefinir a sua própria imagem no espelho, o que dá um certo trabalho, gera angústia e estranhamento em relação ao outro.

Por isso, a união da Marília com o Reinaldo é uma bênção entre gerações. Ela, já definida; ele, fruto dessa definição. Ambos se entendem - e não poderia ser diferente.

Se tiverem filhos, haverá três gerações em duas. Será a história fazendo resumo, evolunido a passos largos, simbolizando a rapidez da modernidade.

Se não tiverem filhos, não importa: já tiveram.

18 junho 2002

Oi, queridos. Como é que vocês estão, no Rio, em Floripa, em Sampa, em Minas, no RS, em Sorocaba e nos EUA? (Se houver algum leitor de algum outro lugar, por favor se manifeste, pois não é do meu conhecimento - ou é do meu esquecimento, perdão!).

Aqui em São Leopoldo, o dia foi de chuva, nuvens, sol, friozinho e Ivani. A Ivani chegou às 9h da manhã, creio eu. E se agarrou no carpete, tratando de aspirar toda e qualquer poeira que tivesse teimado em repousar por ali na última semana. Que a Ivani veio na terça passada, meus amigos, e só não arrancou o carpete a dente porque eu não deixei.

Que mulher competente, a Ivani!

Imagine que ela faz os azulejos brilharem tanto, mas tanto, que posso perfeitamente me maquiar na parede do banheiro. Nem uso mais espelhos, porque tenho pena de embaçá-los, um pouquinho que seja, com a minha respiração.

Não, eu não faria isso com as obras da Ivani. São impecáveis. O espelhão da sala, então, fica um luxo. Já pensei em arrumar uns cones (aprecio muito) e sinalizar as áreas próximas a ele, para evitar que um desastrado enfie o dedo e acabe cometendo um crime contra a impecabilidade da Ivani. Mantenhamos distância e respeito, portanto.

É verdade que, em dia de Ivani, há que se tomar certos cuidados dentro de casa. Precauções corriqueiras, coisinha à toa.

Eu me tranco, por exemplo, dentro de um dos quartos. Passo a chave, por cautela. E coloco, em frente à porta, um móvel bem pesado - a cama vai bem -, no intuito de evitar que a Ivani, empolgada e ágil, além de forte como um touro, entre com tudo e aspire o meu nariz pensando que é tomada.

Já combinei com ela: três batidinhas na porta, se precisar de alguma coisa, e eu saio do quarto para atendê-la. As batidinhas da Ivani, contudo, são um tanto intensas, de modo que eu fico em dúvida se um terremoto ameaça destruir a minha casa, ou se algum caminhão perdeu o rumo e veio dar com a carroceria na parede da sala. Mas, normalmente, é só a Ivani.

Um dia eu perdi a Ivani. Saí pelos quatro cantos da casa, angustiada, procurando-a. Já tinha escurecido, chegava de faxina!

Não achei. Pensei que ela tinha ido embora sorrateiramente, talvez pensando em não me incomodar no quarto - a essa altura, já percebeu que eu arrasto a cama de parede a parede e saio esbaforida toda vez que ela pede alguma coisa.

Fui fazer, então, o meu jantar. Quando abri a geladeira, a Ivani caiu para fora, deu com a testa no chão, e depois se pôs de joelhos, atordoada e indignada:

- E a lei das três batidinhas, pelo jeito, só vale pro quarto da patroa!!!

Desculpei-me, naturalmente, por ter invadido a privacidade da Ivani. Depois disso, nunca mais abri a minha geladeira sem bater antes. Nem o freezer, nem o microondas, nem o fogão, nem mesmo as gavetas da casa.

Nunca se sabe de onde a Ivani pode surgir.
Confesso que ando bebendo refrigerante dietético vez por outra - o que vai contra os meus princípios. Qualquer refrigerante vai extremamente contra os meus princípios.
Confesso que tenho comido carne de galinha morta, às vezes. O que vai radicalmente contra os meus princípios.
Confesso que tenho comido menos frutas e vegetais do que deveria.
Confesso que tenho pensado besteiras. Mas isso eu sempre fiz.
Confesso que estou com as unhas mal lixadas, por conta de ter tocado guitarra sem palheta durante meia hora ontem à noite.
Confesso que nunca entendi por que raios eu recuso a palheta, se já sei que vou terminar a noite com as unhas puxando o fio da meia-calça, e o esmalte todo descascado.
Confesso que o meu quarto está mais bagunçado que o time da seleção brasileira de futebol.
Confesso que, hoje, saí com meu moletom preto-desbotado, pensando "ah, não vou encontrar ninguém mesmo". E foi então que eu ouvi a buzina, seguida por um grito "OOOI, SUMIDA!!!".
Confesso que eu quis sumir.
Confesso que estou sentindo umas fisgadas indesejáveis nas costas, por ter saído - na sexta à noite - com aquelas botas de salto altíssimo que me deixam com mais de 1,80m (sem exagero). Trata-se de uma estupidez ortopédica, e minha coluna reclama enfaticamente, enquanto ainda tem "voz" para issso.
Confesso que estou bem melhor da gripe, embora só tenha sossegado o facho dentro de casa no sábado. (Essa eu devo a vocês). Deu pra cantar ontem à noite, e tudo.

Confesso que mudaram as estações, mas nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente, se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba...?

Sorry, friends. Confesso que estou sem inspiração.

16 junho 2002

KÉLI KI - Parte II

O Luis me mandou um e-mail, lembrando mais um trecho da célebre canção aqui abordada ontem. Segue abaixo, entre aspas (que é para evidenciar que a autora NÃO sou eu):

"... você quis me iludir, me enganar isso é caô...!"

Caô, segundo o próprio Luis, é "o máximo do desenvolvimento linguístico dessa menina".

Pois fui aos dicionários, e a palavra mais parecida com "caô" que eu encontrei foi mesmo "cão - animal quadrúpede..." sem ofensas, gente.

Caô, pelo que pude perceber até hoje, deve ser uma enganação, alguma coisa fajuta que alguém tenta passar adiante ou aplicar em alguma pessoa. Daí se conclui que a palavra "caô" é que, realmente, é um caô. Bem empregada, por sinal. Providencial.

Pensando bem, no entanto, talvez a menina tenha querido chamar o seu "baby-avô" de cão, tendo em vista a cachorrada que ele aprontara ao não lhe dar a devida atenção. Acontece que "cão" não rimava, e, para fins estéticos - técnica de poeta, meus amigos! -, ela resolveu acentuar o cachorro no final: virou um caô.

Caô, portanto, deve vir mesmo do cachorro - já que é uma cachorrada, em última análise. Com isso, a menina Kéli Ki nos presenteia, mais uma vez, proporcionando-nos a apreciação da vanguarda lingüísica, uma espécie de neo-língua que deve estar surgindo para causar uma verdadeira revolução na nossa comunicação.

Sejamos receptivos aos tiros de canhão. Só não vale aparar no peito.

15 junho 2002

TIPO ASSIM... KÉLI KI.

Poucas coisas grudam tanto no ouvido quanto a música daquela menina, a Kelly?, Keli?, Ke? - ah, vamos escrever como se lê: KÉLI KI, e pronto.

Por outro lado, tipo, há expressões que, tipo, também grudam muito no ouvido, e depois, tipo, assim, acabam grudando também na boca da gente. Tipo.

Essas duas, vamos dizer, tipo assim, essas duas mazelas da comunicação, aparentemente, nada têm em comum. Mas, se formos pensar, tipo, são exatamente idênticas na função - que é, justamente, não ter função alguma.

Expressões pouco recheadas de significado, como "tipo assim", ou "baba, baby, baba" são quinquilharias da linguagem coloquial, adornos que mais atrapalham do que enfeitam, mas... vá lá, adornos.

"Tipo assim" é uma pausa de raciocínio, um lapso voluntário (que, depois, torna-se involuntário), uma paradinha para descanso do cérebro. A pessoa pensa, fala, e depois inclui um "tipo assim" enquanto não sabe ainda o conteúdo da próxima frase. Um "tipo assim..." reticente pode levar minutos, horas ou até dias - se o usuário já for dependente químico e tiver seqüelas, o "tipo" pode durar meses. Trata-se de um caminho sem volta.

O sujeito começa usando um "tipo assim", vez por outra, na maior inocência. Quando vê, um "tipo" só já não lhe basta, e é preciso espalhar, tipo, no discurso, tipo assim, várias vezes essa expressão; caso contrário, tipo, o vivente sequer consegue chegar ao final da frase.

Quando finalmente a frase termina, então o usuário acaba fraquejando - e usa o "tipo assim" para iniciar um novo assunto; aí, começa tudo de novo.

Do mesmo modo, mas em proporções maiores, o "baba, baby, baba" é um mal que assola a linguagem musical - outrora conhecida como "poesia musicada" -, transferindo os sintomas do "tipo" para as linhas melódicas, e levando o vácuo cerebral aos palcos e danceterias das grandes cidades.

Contudo, não acho que deva ser proibido o uso do "tipo", nem tampouco do "baba". O problema é o excesso. Se a pessoa usar um "baba" no fim de semana, entre amigos, num ambiente saudável, até tudo bem. Vez por outra, tipo assim, que mal tem?

Muito cuidado, no entanto, com os abusos. Passando de dois "tipo assim", não dirija. Se dirigir, não use o "baba".

Tive conhecidos, infelizmente, que ingressaram pelas bandas ingratas dessas mazelas da comunicação, e nunca mais voltaram. Perderam-se, coitados, e seus cérebros foram comidos por cupins. Ainda vivem, ou sobrevivem, mas são tipólatras compulsivos, e passam os dias inteiros cantando aos seus avôs:

"Vô, cê não acreditou / Vô, cê sequer me olhou..."

14 junho 2002

NOSSO "DÉCIMO-TERCEIRO"


Outro dia eu escrevi que músico não tira férias, mas "férias" - entre aspas, porque não recebe por elas, e também porque, na verdade, nunca consegue parar de tocar ou cantar.

Hoje eu vim falar a respeito do nosso "décimo-terceiro". Claro que também entre aspas, e bota entre aspas nisso. Décimo-terceiro de músico, meu amigo, funciona assim: se quiser uma graninha extra, que vá arrumar trabalho extra. E não reclame.

Certa feita, resolvemos arrumar um décimo-terceiro lá pelas bandas do interior rio-grandense. Era Natal. E chovia.

Show marcado, depois de muita negociação, lá fomos nós. Sete horas de viagem, mais ou menos. Pegamos de tudo: neblina, garoa, chuvarada, aguaceiro na pista, lama, vento, árvore caída, buraco e vaca distraída. Mas chegamos.

O dono do estabelecimento, muito simpático, recepcionou a banda com abraços e sorrisos de orelha a orelha. Já desconfiei: aí tem.

Proprietários de casas noturnas e crianças levadas, quando sorriem de graça, é que boa coisa não fizeram. Pé atrás com eles.

Vamos direto ao assunto: o problema era o hotel. O combinado era um três estrelas, o melhor que havia na cidade. Mas "estava lotado" - entre aspas, é claro. Desculpa esfarrapada.

Resolveram colocar a banda, então, num "alojamento". Entre aspas. Na verdade, era o quartel da cidade.

O "camarim" - também entre aspas - era, imagine, o próprio quartel. E o "restaurante" onde faríamos a nossa "ceia de Natal" era, adivinhe? O refeitório do quartel.

Para chegarmos ao "camarim", deveríamos atravessar um campo de futebol, pular um muro de um metrinho, virar à esquerda e pronto. Ali, era o portão de entrada do quartel. Mais uma estradinha de chão batido, e chegávamos ao quarto dos meninos. Soldados simpáticos e prestativos nos acompanhavam. Cerca de meia-dúzia.

Eu, única menina da banda, tinha justamente o quarto mais distante ainda. Era escuro, chovia, e aquilo mais parecia um labirinto de filme de terror. Mas eu ia tomar banho, trocar de roupa e me maquiar (sem espelho), acompanhada por seis doces milicos que, entre risadinhas e comentários que preferi nem ouvir, levavam-me até o quarto e esperavam, de prontidão, do lado de fora da porta. Ainda bem.

A "ceia de Natal", acredite, era um churrasco tão duro e queimado, que até hoje não sei dizer se aquilo era vaca, porco, galinha, ovelha ou... nem quero pensar nisso.

O show, nem preciso dizer, foi um fiasco absoluto. Eu queria muito cantar, mas estava engasgada, com pedaços de sei-lá-o-quê entalados nos mais diversos cantos da minha garganta. Era impossível.

Sem contar que o palco era ao ar livre, e a chuvarada tratou de invadir a tímida lona que cobria nossas cabeças. Meu irmão - guitarrista - saiu com fama de drogado, por causa da performance estranha: mas era apenas choque elétrico, o povo não entendeu.

Minha maquiagem, então, era algo entre Bozo e "mulher da vida" - entre aspas, porque a delas é bem melhor.

Foi assim que, a duras penas, embolsamos nosso décimo-terceiro daquele ano. E voltamos para casa, no outro dia, embarrados, humilhados, famintos, exaustos, quebrados. E cantando:

- Noite feliz... Noite feliz...
UBA CORRENTE BELO FIM DA GRIBE

Nunca pedi nada a vocês, mas sempre há uma primeira necessidade. Pois hoje eu peço uma corrente pelo fim da gripe. (Ali, no título, meu nariz estava um pouco congestionado).

Anoiteci com aqueles sintomas típicos - dor de cabeça, coceira na garganta, calafrios, etc -, e amanheci completamente gripada. O problema, queridos, é que eu simplesmente ODEIO estar gripada. Não existe coisa mais horrível do que estar assim. Respeitem a minha dor. Ajudem-me.

Além do mal-estar, há o problema da voz. A voz da gente fica simplesmente horrível, e, como sabem, para quem trabalha com a voz (mesmo estando em "férias"), isso é o fim da picada. É um transtorno, é uma ameaça à vida, é um incômodo quase insuportável. Acreditem, não estou exagerando - mesmo sendo sagitariana e descendente de italianos.

Imaginem, por exemplo, um maratonista. Ele vai dormir com uma coceirinha na garganta, uma dorzinha de cabeça, e, na manhã seguinte, acorda... PARALÍTICO!! Mesmo que ele fique paralítico só por uma semana, já é o suficiente para que entre em desepero, não é?

Uma modelo, manequim, linda-e-maravilhosa, dessas que desfilam em Paris e Milão. Ela vai deitar com uma febrezinha quase de nada, e acorda... PESANDO 120 QUILOS!!

Mesmo que ela emagreça tudo de novo em poucos dias, e mesmo que nem dê estrias, ainda assim é de pensar em suicídio antes da gripe ir embora. Vai que algum jornalista metido acaba descobrindo, fotografa a beldade com as formas francamente arredondadas, e - babau carreira, dólares e mocinhos do Titanic.

Pois bem, acho que já me fiz entender. Estou me sentindo uma Gisele com 120kg, um corredor paralítico, um pianista maneta. Já os comovi?

Aqueles que não tiverem um coração de pedra, portanto, que me façam a gentileza de rezar uma Ave Maria ou duas, pode ser no horário do cafezinho mesmo, pedindo aos céus que eu saia desse estado deprimente o mais rápido possível. Por "mais rápido possível", expliquem lá à Santa Maria Mãe de Deus, eu quero dizer qualquer coisa milagrosa, eficaz, surpreendente. Esteja bem entendido.

Sim, porque, em cinco ou seis dias, eu saio dessa sem reza mesmo. De nada me adianta. Quero coisa inacreditável, de exclamar "óóóóóhhh!!!!".

Quem não souber rezar, não faz mal. Façam um pensamento positivo, acendam uma vela, mandem-me boas vibrações, o que for.

O importante é eu sair dessa cadeira de rodas, entrar correndo no meu biquíni vermelho, e depois tocar um Mozart emocionado para vocês.

13 junho 2002

MÁ FAMA

E-mail que recebi do meu irmão hoje, referente àquela história do cara da farmácia (ler abaixo):

****
"Se eu não aparecer mais por aqui, já sabem: o moço se ofendeu.
Desejem-me sorte." AHAHAHAHAHA!!
Pra quem te conhece, convenhamos, o certo seria:
"Se a farmácia não abrir amanhã, já sabem: o moço me ofendeu.
Desejem-lhe sorte."
****

Viram?
Estou com uma fama... tudo mentira, gente.
PARA OS RECÉM-CHEGADOS

Tenho recebido e-mails de gente que eu não conhecia, dizendo que achou link para o meu blog aqui e ali, que anda me visitando regularmente, e tal. Há quem pergunte quem eu sou, de onde vim, para onde vou, e coisas mais importantes - como a cor do cabelo, por exemplo.

Sendo assim, resolvi postar (acho postar muito feio, posso usar publicar?), digo, publicar aqui algumas coisas que sirvam para me identificar, no caso do sujeito não saber a que se destina estes escritos, os versinhos, as besteirinhas, e o raio da minha vida.

Pois bem. Meu nome é Bíbi Da Pieve, com o primeiro Bi mais forte que o segundo; por isso, adotei o acento (desde pequenininho, que me veio ainda berrando e envolto em fraldas gráficas. Eduquei e tudo, de modo que não sai mais de cima do meu Bi, nem por um decreto.) Incomodo-me quando me chamam de Bibiiiiii, como a buzina de um carro, por exemplo. Sou Bíbi.

Tenho 24 anos (mas isso é coisa que muda com o tempo). Sou sagitariana, com ascendente em câncer e a lua em touro. Moro no Rio de Janeiro há quatro anos. No presente momento, entretanto, acho-me tirando "férias" na minha cidade natal, São Leopoldo, que fica a uns 30 km de Porto Alegre, mais ou menos.

E por que é que ela tira "férias" entre aspas, se todo mundo tira sem aspas?

Explico: é que trabalho com música - sou baixista e vocalista de uma banda chamada Ana Lógica, e músico não tira férias (sem aspas) nunca, porque o diacho da atividade vicia, e a pessoa pode até tentar, mas não pára de tocar nunca. Pode não ser em público, mas continua tocando.

E outra coisa: não recebemos nas nossas "férias". Convenceram-se, agora, das aspas?

Não escrevo profissionalmente; minha profissão é a música, desde meus 13 anos, quando tive a idéia de me meter numa banda de rock. Por isso eu escrevo aqui; porque adoro escrever, e me divirto demais.

Vocês podem perceber que não tenho personalidade como escritora, por exemplo, porque hoje eu ando exagerando no tamanho das frases, enchendo de vírgulas, deixando o ponto para bem longe, transferindo o final. Sabem por quê? Ando lendo João Ubaldo.

Outro dia, aqui mesmo, usei termos regionalistas exageradamente - estava lendo Verissimo. E, assim, sigo pegando o sotaque os escritores, inspirando-me em quem sabe fazer a coisa de verdade, e mentindo pra vocês que também faço. Sei, sei que não convenço ninguém, mas o brinquedo é meu, dá licença?

Findo aqui a minha breve autodescrição, certa de que ajudei uns e outros a saberem onde é que andam pisando, para que, então, possam ter, quem sabe, um surto de lucidez, e decidam se arrepender amargamente do momento insensato em que lhes veio à veneta a idéia torta de estacionar o mouse por aqui. Ou não, vai saber.

Tenho dito.

12 junho 2002

DIA DOS NAMORADOS

Parabéns aos pombinhos, aos beijinhos e aos abracinhos; parabéns aos casais felizes, aos nem-tanto e aos tristinhos; muita alegria aos princepezinhos delas, muito amor às princezinhas deles, muito respeito, muita amizade, muita compreensão e muito carinho.
Aproveitem o friozinho, façam um foguinho,
e passem a noite bem juntinhos, bebendo um bom vinho.
Meus parabéns, também, a todos os sozinhos.
Eu só peço um favorzinho: deixem os diminuitivos, tão lindinhos, para eu escrever meus versinhos.
Vocês, que já são bem grandinhos, vão rimar as suas vidas com adjetivos melhores, superlativos - os maiores -, e aumentativos grandalhões.
Parabéns a vocês. Um abraço apertado, e vários beijões.


FOI MAU

BatZ, Hully, Denisinha e cia: desculpem por ontem, no chat. Caí, e não pude mais voltar. Obrigada pelas visitas ao meu Blog, e pelo carinho todo. :o)

VENCEU O TAMPAX

Queria comunicar que, no "causo" da farmácia, venceu a opção do Tampax. Por unanimidade!! Quem leu, sabe do que estou falando. Se eu não aparecer mais por aqui, já sabem: o moço se ofendeu.

Desejem-me sorte.

11 junho 2002

SEU ZEQUINHA E SEUS PROBLEMAS


O seu Zequinha é o senhor que corta a grama aqui de casa. Volta e meia ele aparece, com sua carrocinha e seu cavalinho, e pergunta se quer que corte a grama, vizinha? Quero, sim.
Então ele entra, liga a máquina barulhenta na tomada, e faz barulho e cheiro bom no pátio todo. Mas não pode estar chovendo, como agora.
Entretando, seu Zequinha me apareceu hoje, com chuva e tudo. Não quis fazer barulho nem cheiro bom, a vizinha entende, olha o mau tempo, e parece que a coisa ainda vai longe, tem visto a previsão? Quis foi um dinheirinho adiantado, que lhe falta para comprar o remédio da perna.
A perna do seu Zequinha sofre de um inchume crônico, por conta de uma mordida - segundo ele - de aranha. Já quiseram operar, mas ele não deixou ninguém meter a mão ali, com medo de que dê alguma zebra e acabem decidindo arrancar a perna fora, imagina, como é que ele vai cortar a grama? Não confia.
Então, o jeito é passar um remedinho cada vez que a perna ameaça explodir de tão inchada.
Se bem que a perna nem vale muito, ele comenta, porque já falta um dos dedos do pé. Que a máquina barulhenta pensou que fosse grama, passou em cima, e levou embora junto.
O filho dele, o mais moço, Juquinha, também tem problemas de saúde. Asma, o doutor disse. A Mariana, filha do meio, volta e meia fica anêmica, pobrezinha. E trem problemas de estômago, seu Zequinha acha, porque não pára comida nenhuma lá dentro. Só o filho mais velho, cujo nome nem sei, é que goza de plena saúde. Vai preso de vez em quando, mas, quando solto, é um bom moço. Até prenderem de novo, e aí o coitadinho fica obrigado a pensar besteiras, lá na cela, junto de maus elementos.
Este último, que costuma se hospedar nesses lugares não convencionais, tem até uma filha. Mas a mulher morreu, e o seu Zequinha cuida também da netinha, que ainda precisa de fraldas, muito leite e cuidados especiais. Imagina cuidar de tudo isso, vizinha, só com o dinheirinho que vem da grama?
Seu Zequinha nem sabe, mas acaba fazendo uma bela e utópica metáfora, afirmando que o dinheiro vem da grama.
Na verdade, na verdade, eu nunca via a perna dele, nem o dedo que não tem, nem o Juquinha, nem a asma, nem a Mariana, nem a anemia, nem o estômago, nem o moço que vai preso, nem a netinha, nem o leite, nem as fraldas: nada. Mas contribuo, mesmo assim. Pode ser que ele esteja sendo sincero.
Ou tudo isso é verdade, ou o seu Zequinha acha que o meu dinheiro também dá em grama!!

INSÔNIA DAS BRABAS

São duas e meia da manhã. Eu estava lá, na cama, tentando dormir, desde pouco antes da meia-noite. Rolava, e rolava. Rolei tanto, que caí da cama e vim parar aqui no Blog. Paciência, vamos brincar de contar "causo".

Sabe o que me aconteceu hoje? Fui à farmácia, e havia lá um atendente - desses que ajudam a gente a escolher o remédio. Moço simpático, e tudo. Sorriu, perguntou o que eu queria.

- Tem sabonete Sastid? - perguntei.
- Não, senhora.
- Tem algum outro, para acne?
- Temos só esses dois aqui... (mostrando)
- Ah... não conheço nenhum deles, nunca usei. Você tem alguma sugestão sobre qual seria o melhor?

Sabe o que ele me respondeu? "Não, senhora. Eu também nunca usei nenhum deles."
É mole???

Fiz uma cara de "ah, claro...", peguei o primeiro que eu vi, paguei e saí correndo de lá. Sei lá, já pensou se ele resolve me dar outra opinião forte com essa? Não sei se meu coração agüentaria. O pior é que ele deve ter ficando pensando "credo, que mulher tapada, será que ela não viu que eu não tenho problema de acne?"

Depois, fiquei rindo da situação. E estou decidindo o que fazer amanhã. Vocês me ajudam? Vamos lá: o que vocês acham que eu devo fazer?

a) Voltar lá amanhã, e sugerir que o moço dê uma estudadinha nos produtos que vende, para poder opinar mesmo sem ter tido 1.234.563.698 doenças diferentes;

b) Voltar lá, meter o dedo indicador no umbigo do moço, dar uma risadinha, e comentar: "arrá, você me pegou direitinho, hein!?" (Podia ser que ele estivesse brincando, eu que não entendi);

c) Sugerir que ele nunca trabalhe numa casa que venda bebidas alcoólicas (vai que ele resolve experimentar tudo, e é demitido no segundo dia);

d) Levar o meu sabonete lá e fazê-lo lavar o rosto com ele, para evitar que a cena se repita com outro cliente;

e) Pegar na prateleira um OB e um TAMPAX, e perguntar se ele sabe qual é o melhor. (Estou inclinada a decidir por esta opção, o que acham?)

E por falar em besteira, vamos ao segundo assunto. Ando encafifada com a mania que as pessoas têm de acentuar palavras como "nu", "tu", e - principalmente - aquela outra.
Gente, nu não tem acento. Tu não tem acento. Pode-se concluir, então, que aquela outra também não tenha! Por que insistir num acento inexistente? - pensei.
Eu tenho uma hipótese, não sei se procede; acho que deve ser para efeito psicológico. O xingamento seria mais enfático, por exemplo: "Ora, vá....ú!!!!"
Pois a idéia é equivocada, minha gente, porque acento é sinal gráfico, e nada tem com o tamanho do desaforo. Vamos nos desprender dessas dependências; vocês conseguem xingar mesmo sem acento, e fica forte. Querem uma dica? Eu dou: quando pronunciarem a palavra em questão, aumentem meio tom. Pronto, o seu nu (cansei de escrever "aquela palavra", vou substituir por "nu") vai ficar lá em cima, e vai se destacar. Esqueça o acento do nu. Libere o seu nu!
Um nu acentuado fica, além de incorreto, deselegante. Ora, aquele canudo pendurado no seu nu, que coisa mais feia. Um nuzinho puro, sem canudo, se basta. Vamos respeitar.
Desculpe tocar (sem trocadilho) nesse assunto do seu nu, mas é que me preocupo de verdade com ele. Andam cuidando mal do nu, alguém tem que fazer a defesa.
Tá entendido?
E outra: se quiser acentuar alguma coisa, use o ânus - que é muito mais fino, está presente na literatura científica, e é quase um protagonista da anatomia humana, uma vez que é insubstituível para fins... para fins, justamente.
Entretanto, se me permite, uma sugestão: para fins agressivos, prefira o nu. Nada como um nu bem empregado, certeiro, praticamente um nu artístico.
Exceto, é claro, no caso de querer xingar o patrão. Aí, prefira a suavidade do ânus - que o nu dá demissão por justa causa; já com o ânus, acredito eu, ainda é possível uma negociação. Acho eu, acho eu.
---
Quanta besteira. Viram o que acontece quando estou com insônia? Azar de vocês. Se eu tivesse um maridão do lado, maridão companheiro de todas as horas, compreensivo e tal, então teria com quem debater - alta madrugada - sobre a acentuação indevida do nu. Comigo é assim: alto nível.
Chega. Tchau. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.........

10 junho 2002

VAMOS FICAR NUMA BOA, GURIAS.

Hoje o papo é sério. Mas não é sisudo. Muito pelo contrário; vim aqui escrever uma carta contra os impecilhos criados pela nossa razão, essas pequenas impurezas que resolvemos, por algum motivo, colocar na vida. São pedrinhas que não enfeitam. Acumulam-se, com o tempo, e vão se tornando rochas capazes de esmagar boa parte do tempo que temos por aqui.

Rapazes, sintam-se à vontade, mas eu quero me dirigir especialmente às gurias - prometo que é só por hoje, ok? No entanto, o assunto é unissex, e serve a todos.

Meninas, moças, mulheres, senhoras, eu vos imploro: não percam mais tempo. Esqueçam exatamente TUDO que as faz sentir mal. É bobagem. Não existe motivo algum para que vocês se sintam mal. É tudo coisa inventada.

Da celulite ao mal-estar gerado pelo estresse no trabalho, do trânsito engarrafado à chuva na escova recém feita no cabelo: tudo balela. Eu garanto que não existe nada disso. São pedras criadas por nós mesmas, e, exatamente por isso, não podem nos destruir. Mas é preciso estar muito atenta para não levar uma tijolada na testa a qualquer momento.

Há uma campanha mundial contra a auto-estima. Querem que você se sinta feia e gorda. Querem que você pense que não deveria ter o cabelo tão enrolado assim, que compre chapinhas, que pinte, que esfregue, que dance, que pule, que arrume, que vista, que use... que vida???

Querem que você não seja você. Não entre nessa roubada, deixando que lhe tirem a capacidade de se gostar inteira, completa, mesmo sem anexos de silicone ou sorrisos sedutores. Amor próprio não é direito nenhum - é básico, é pré-requisito para qualquer vida que se preze.

Queridas, ninguém vai fazer por vocês. Saiam do ovo, estourem as cascas, rompam barreiras, pensem, critiquem, olhem-se no espelho de manhã cedo, sorriam, e digam: eu sou a pessoa mais linda que eu tenho. Porque é a única, e vai continuar sendo.

Tratem-se com a exclusividade que merecem. Vocês são de vocês, são belíssimas, e está decidido. Virem-se! Do avesso, se for preciso; mas chega de perder tempo com pedras invisíveis.

Não entrem na campanha anti-vocês. É fria. Freqüentem as academias por saúde mental e física, cortem o cabelo por vontade ou para fazer uma graça. Não digam "hoje à tarde eu tenho que fazer as unhas", porque ninguém TEM que fazer as unhas. Elas já estão feitas; vocês as enfeitam se quiserem.

Cuidem-se muito, sintam-se, estejam presentes de todo coração nas suas próprias vidas. Respirem, e percebam que o único movimento vital que os seus corpos fazem, que os liga ao mundo externo, é absolutamente involuntário. E ele não cobra nada por isso. Agradeçam, acarinhando-se.

Queiram qualquer coisa com muita força, esforecem-se, batalhem, rezem muito; mas é proibido fazer da vida uma espera, porque toda vitória é filha de uma vitória, neta de outra, bisneta de outra, e assim sucessivamente. Portanto, a vitória de HOJE é fundamental para o nascimento das seguintes. Engravidem de seus sonhos, façam a melhor cara que puderem, e saiam exibindo o barrigão - porque eles nascerão a cara da mãe, isso é certo.

Vamos ficar numa boas, gurias. Temos gerado a humanidade há milênios; suamos dentro das nossas casas, fomos às ruas, trabalhamos duro. Até hoje, lutamos contra preconceito e febre de criança, fazemos reuniões complicadas e leite morno, falamos no telefone com uma mão e seguramos a barra com a outra. Todo esse parto constante não pode ter outra finalidade que não a nossa felicidade.

Vocês sabem dar à luz um pimpolho melecado e gritante, e transformá-lo num advogado comportado e limpinho. De gravata e tudo! Não vão saber, então, transformar vocês próprias em seres humanos felizes, livres de pedras autodestrutivas? Deixem de frescura. Relaxem, mas não para evitar rugas.

Estamos combinadas?

08 junho 2002

SALVE, SALVE, MARINHEIROS!

Sabadão friozinho aqui no sul, gente. Coisa buena.

Seguinte: vou passar o dia desconectada, hoje, mas não resisti: tive que passar aqui para deixar um recadinho a vocês todos. Tenho recebido vários e-mails carinhosos - de velhos e novíssimos amigos -, coisa de gente à toa que resolve passar aqui e acaba pegando amizade por este modesto Blog. E voltam sempre. Coisa buena!

Agradeço, de coração esquentado e satisfeito barbaridade. Assim, vale a pena arriscar uns dedos de prosa, realmente meio sozinha, mas virtualmente pra lá de bem acompanhada.

Beto Muniz, um escritor de Sampa, tem andado por estas bandas - e se diz mui agradado por minhas traquinagens literário-cibernéticas. Fico honrada e agradecida, moço. Beijo grandão pra ti. (Quem quiser passar no Blog dele, tem link ali do lado).

Lello, querido, diz que virou freguês. És guitarrista, né? Tudo bem, ninguém é perfeito... (hehe, brincadeirinha de baixista arrogante). Beijo, e um lá maior bem alegrinho pra começar o fim de semana de bem com a vida.

Charles Pilger, velho amigo dos tempos da faculdade - que eu não completei, mas ele sim -, apareceu-me, de sopetão, no meio dessa poeira virtual. Comentou sobre a injustiça de eu ter sido expulsa da faculdade (NO SONHO, GENTE, NO SONHO...), e me deu total apoio. Valeu, Charles! Vamos marcar aquele café? Ainda não fui àquela cafeteria do lado do Mc, não. E me apetece.

Luis Saguar, obrigadíssima pelos elogios e pela assiduidade. O Luis é "designer" - mas as coisas que ele faz são imensamente mais bonitas do que essa palavra, te garanto. Beijo, beijo!

Os demais - manifestados ou ocultos do outro lado da tela -, por favor, sintam-se acarinhados e bem-vindos do mesmo modo. Tem erva-mate de sobra nesse bolicho; economizemos em tudo - menos na poesia e na prosa.

Abração de quebrar costela,
Bíbi Da Pieve

07 junho 2002

MOMENTO "MEU QUERIDO DIÁRIO"

Meu querido diário: São Pedro, hoje, está com incontinência urinária. Chove que Deus manda, desde a madrugada - se bem me lembro, se bem que durmo. Vim escrever aqui porque estou com uma preguiça homérica de ir para o banho; acordei tarde, tive pesadelos, e tudo em mim anda devagar feito cágado manco.

Meu querido diário: não adianta enrolar, terei mesmo que ir para o banho. Hoje o almoço é na Vovó, aquele peixinho confirmado que a Marisa faz e eu me esbaldo. No último dia, teve até suflê de brócolis. Havia vários brócolis (eu digo sempre no plural, porque não sei dizer o nome desta coisa verde no singular. Mas não faz mal, porque eles vêm sempre todos juntos, mesmo, é difícil separar. Vai ver é por isso, o singular nem existe. Ah, deixa eu pensar assim, pelo menos num rompante adolescente de sexta-feira chuvosa e melancólica...).

Meu querido diário: se eu fosse um pouquinho mais distraída, já teria grudado umas figurinhas coloridas na tela do micro. Estou amando este momento cor-de-rosa num dia cor-de-cinza.

Meu querido diário: quer saber como foi o pesadelo que eu tive? Eu conto. Eu estava fazendo uma faculdade de produção fonográfica, mas o local era o colégio onde eu fiz o segundo grau, e as pessoas eram estranhas. A maioria. Enquanto eu fazia um trabalho no computador, uma moça veio me importunar - queria usar o micro, e "tem que ser agora". Eu me irritei, ela implicou mais ainda, eu me irritei muito mais, e avisei: Pára com isso, ou eu vou bater em ti.

Olha que sonho violento, meu querido diário; eu nem sou assim de verdade.

Continuando. Ela não parou. Mas acabou tudo bem, minhas amigas me acalmaram.
No dia seguinte, porém, a cena se repetiu. Ela piorou a situação, porque começou a me xingar de vários nomes feios.
Aí, meu querido diário, permita-me o termo, mas tenho que ser honesta: fiquei p. da vida com a moça. Meu querido diário, ela estava impossível. Sabe o que eu fiz? Nem posso lembrar, que me irrito. Acordei com dor de cabeça e tudo.

Pois foi assim, diário, eu peguei a moça pela gola e pelo braço, dei-lhe um golpe de judô, e a derrubei no chão. O povo gritou, quis apartar. Nem bola. Continuei. Esperei a ordinária olhar bem na minha cara, fechei a mão e fui direto no nariz dela, que sangrou muito. Não contente, continuei esbofeteando a cara deslavada daquela sonsa, segurando com a outra mão pelos cabelos - para que a cabeça não me escapasse.

Diário, e você não diz nada? Tou contando uma história emocionante, pô! Diário panaca, sem graça.

Bom, foi aí que a filha da mãe ainda tentou se levantar, desaforada, e respirou com uma arrogância providencial. Respirou na hora errada e do jeito errado, diário boboca. Tá me entendendo?
Pensei em chutar-lhe a bunda, mas concluí que seria pouco. Para terminar, então, fui com as duas mãos ao pescoço da vagabunda, estrangulei bem apertado, e disse as palavras mágicas: NUNCA MAIS MEXA COMIGO !!!

Fui expulsa da faculdade no dia seguinte, por conta de um abaixo-assinado que os alunos fizeram, onde afirmavam que "a colega tem reações violentas e pode prejudicar o bom andamento da classe". Todos assinaram, sem exceção.

Escuta aqui, diariozinho mixuruca, você não acha que foi uma injustiça tremenda? Acha, sim! Alguém aqui não acha? Quem é que está a favor daquela sem-vergonha implicante? Agora eu quero saber. Alguém? Alguém? Pois não descanso enquanto não souber.

Alguém vai querer encarar???
MINHA LISTA DE PRESENTES PARA O DIA DOS NAMORADOS:

- 1 bolsa marrom;
- 1 par de botas marrom (para combinar com a bolsa);
- 1 batom marrom (para combinar com as botas);
- 1 blusinha marrom (para combinar com o batom);
- 1 relógio marrom (para combinar com a blusinha);
- 1 jaqueta de couro marrom (caso faça frio - haha, te peguei!);
- 1 namorado inteligente, sensível, carinhoso, compreensivo, charmosérrimo, criativo, bem humorado, espirituoso, divertido, gente boa, trabalhador, meigo, doce, educado, surpreendente, brilhante, fascinante. E com um furinho no queixo.
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Pensando bem, melhor mudar a lista de presentes:

- 1 bolsa verde;
- 1 par de botas verde;
- 1 batom verde;
- 1 blusinha verde;
- 1 relógio verde;
- 1 jaqueta de couro verde.

Tudo isso para combinar com o novo namorado. Marciano, com toda certeza.


05 junho 2002

COMPRO MÁQUINA DE ESCREVER - MOTIVO: INDIGNAÇÃO.

Minha gente, não pode ser tão difícil assim. Não está correto. Eu só quero escrever, pegar um papelzinho e bater as teclas, registrar os meus pensamentos, as minhas cartas, meus versos, minha... indignação!!

Chegou o tal do Kit Terra, com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiz todo um ritual místico, coloquei Enya no CD player ali da sala, acendi um incenso, tomei um bom banho, passei óleo "Paixão" no corpo todo, enrolei uma toalha no cabelo, sentei-me em frente ao micro. (Já tinha feito as unhas ontem). Abri a embalagem do Kit. Li as instruções. Abri o drive do CD, que ejetou-se, simpático e receptivo. Dei-lhe o CD ROM, e pressionei o botãozinho recomendado; cheirosa e iludida da vida.

Nada. Absolutamente nada.

"Caso o CD não abra automaticamente...", patati patatá - diziam as instruções.

Mas, como assim? Estamos em 2002, somos praticamente obrigados a comprar um computador, e ainda estamos sujeitos a "caso não abra"?? Como assim, caso não abra? Mas o negócio aqui não está ligado na tomada?

Está, mas tem "caso não abra". E não abriu.

Lá fui eu executar o plano B do manual de instruções. Casualmente, não abriu de novo.

Liguei para o suporte técnico do provedor, para ouvir a moça me dizer: "É melhor chamar um técnico de sua confiança..."

Não existe técnico. Como assim, técnico? A senhorita sabe quanto é que custou esse computador? Pelo preço, deveria ter um técnico aqui dentro, encolhidinho, 24 horas por dia, esperando as minhas ordens. E o "caso não abra" seria sempre culpa dele.

Na falta de um técnico - coisa absurda, técnicos não existem -, liguei para o meu irmão. Interurbano para o Rio de Janeiro. Mais de meia hora de tentativas frustradas: clique aqui, clique ali, desligue, ligue de novo, tecle isso, tecle aquilo. Funcionou?

Não. A conclusão foi a seguinte: o programa não pode ser instalado, porque o meu Windows é 95.

Uma pessoa, com 7 anos, é criança. Um cachorro, é adulto. Pois o tal do Windows, com 7 anos, é praticamente um inválido. Acreditem, o mundo da informática é o mais preconceituoso de todos.

E nós estamos todos nas mãos dessa tecnocracia deslavada e sem-vergonha!!

Estou indignada, como podem perceber. Vou comprar uma boa e velha máquina de escrever, daquelas bem duras e barulhentas - que assim eu exercito os dedos também, faz bem para o contrabaixo. Quem quiser me vender uma, por favor, entre em contato.

MAS PELO CORREIO CONVENCIONAL!! Estou de mal com a informática.

04 junho 2002

-- "Trem-Bala" É LIVRO DE SEGURAR O XIXI --

Declaro, em blog internacional, minha admiração pela escritora gaúcha Martha Medeiros - que coluna (do verbo "colunar") no jornal Zero Hora e no site Almas Gêmeas, do Terra.

Ontem à noite eu li o livro que a Martha publicou em 99 pela L&PM Editores, chamado "Trem-Bala". 259 páginas de uma literatura que derrete na boca, dessas que fazem a gente segurar o xixi até o último parágrafo, e ainda se perguntar: já acabou?

Acaba, mas é bom demais enquanto dura. São crônicas e mais crônicas que nos fazem entrar numa viagem intensa e ágil, sem querer parar no sinal, sem querer desviar a atenção um minuto sequer, e, principalmente, sem querer parar para aquele xixi - que, afinal, pode esperar.

Se vale um conselho: por via das dúvidas, não beba muita água antes de entrar no trem.

A Martha é uma escritora de palavras certeiras. A crônica vem sem rodeios e sem gorduras; é praticamente um texto desnatado, recomendável a qualquer vivente que queira cuidar da saúde - sobretudo a mental.

Sim, porque o Trem-Bala cutuca e faz pensar. Trata de assuntos corriqueiros, do interior ou das capitais, da alma ou da unha encravada, tanto faz: são particularidades universais, e você também está ali. Todos nós estamos.

O pensamento da autora é curioso e intrigante, como o dos melhores escritores que conheço. Aquele estranhamento diante da vida é traço fundamental do bom cronista, e a Martha sai cronicando com um pé nas costas, bem como deve ser. Quem quiser que corra atrás.

E a danada ainda dispõe de todo talento da poesia que Deus lhe deu (os primeiros livros publicados foram de poesia), conferindo ao texto aquele algo-mais, adoçando as idéias, quase que transoformando em música o que já soaria muito bem só no preto-e-branco literário.

Ok, chega. Para quem gosta de literatura, faz bem. Para quem não gosta, faz melhor ainda.

02 junho 2002

Destranca, blog maluco.

01 junho 2002

Entrei numa lojinha de produtos naturais, e fui dar uma olhada nas novidades. Duas moças, jovens atendentes do único caixa do estabelecimento, fofocavam, entre risadinhas e expressões animadas.

Achei aquilo bonitinho. Não era vulgar, nem nada. Não era alto demais. Era apenas uma conversa entre amigas, um inocente bate-papo que conferia ao ambiente um arzinho despretensioso, informal, gostoso.

Peguei as minhas barrinhas de fibra, e fui em direção a elas; já sorrindo, também. O clima era bom.

Para a minha surpresa, bastou eu colocar os produtos em cima do balcão, para que as duas fechassem a cara e me olhassem com expressões sisudas, quase militares:

- Pois não, senhora?!

Cheguei a ouvir o barulho da corneta.

Desfiz meu frustrado sorriso, paguei o que devia, e fui-me embora pisando duro, numa marcha involuntária. Fazer o quê?

Ah, o mundo anda mesmo muito protocolar e sem graça. Vivemos consultando os manuais de como viver em sociedade, lendo bula de remédio e livro de auto-ajuda - a corrida em busca da "felicidade".

E perdemos o senso de humor, a capacidade de improvisação, o natural, o simples. Nós estamos em algum canto, por aí, rindo de nós mesmos - por termos nos perdido em meio a personalidade das máquinas.

---

Querem um exemplo? Pois eu dou.
Leiam, logo abaixo, o e-mail que eu mandei para o suporte do meu novo provedor. Em seguida, leiam a resposta que eu recebi:

---

Caríssimos,

faz mais de UM MÊS que eu assinei o Terra. No dia da assinatura, me
disseram, ao telefone, que eu receberia dentro de alguns dias o Kit
Terra para atualização dos meus programas. E eu acreditei.

Tenho o Oulook 4.0, e não posso usá-lo, como sabem, porque o Terra
não funciona com ele.

Já refiz o pedido do Kit umas três vezes, usando de todos os meios
possíveis e imagináveis - por telefone, suporte on line, e-mail...

Venho, por meio deste, pedir a vocês, pelo amor que têm ao Grande
Patrão dos Céus, que ME ENVIEM O TAL KIT o mais breve possível. Estou
apelando a todos os santos, rezando noite após noite, acendendo velas
e incensos ininterruptamente. Tenho fé que, desta vez, o Kit há de
chegar antes que eu incendeie a minha própria casa - ou mate uma
galinha bem preta e me ponha, de cócoras, numa encruzilhada dessas
bem escuras, a implorar aos espíritos (do bem ou do mal, já não
importa) que consigam a façanha de me arrumar um Kit Terra.

Por favor, peço providências. Sei que vocês devem dispor de vários
Kits aí, um só não deve fazer falta.

Agradecida e munida de fé, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,

Bibi Da Pieve

---

Prezada sra. Bibi,

Estamos direcionando a sua mensagem ao departamento competente para que
possamos lhe enviar o Kit de Acesso o mais breve possivel.

Atenciosamente,
---------------------------------------------------------------------------
Theo Zelanis
Suporte E-mail
SAN - Servico de Atendimento Nacional
----------------------------------------------------------------------------

Viram?
"Prezada senhora, estamos direcionando" - com aquele gerúndio inconfundível do pessoal do telemarketing.

Então eu me esmero, uso de toda minha boa vontade e senso de humor, e escrevo uma carta amalucada ameaçando fazer macumba para que apareça aquilo que já deveria estar na minha casa há mais de um mês, e o que recebo em troca é... um tratamento formal e um gerúndio vago, desnecessário e pobrezinho que só.

Assim, não há jeito. Nenhuma referência à minha galinha preta, nenhum comentário sobre as almas penadas, nem mesmo um recado para Jesus Cristo! Nada.

Prezados senhores: se continuarmos neste caminho extremamente sóbrio e formal, muito em breve as relações humanas ESTARÃO SENDO tão profundas quanto o sentimento que une um teclado ao seu monitor - ou a outro qualquer, afinal, é tudo igual mesmo.

E reduziremos o nosso raciocínio ao sistema binário, tal como nossos irmãos quadrados - tão úteis quanto descartáveis.
Atenciosamente,
Bibi Da Pieve