21 junho 2001

Fim do mistério
Bibi da Pieve

É com notável satisfação que esclareço, por meio deste, um dos mistérios mais importantes dos últimos tempos. Acalme-se e se cale, inquietude. É minha vez de botar a boca no dedo, e o dedo no teclado. Do micro.
Adiante-se: abra a sua boca. O máximo que conseguir. E controle a baba, pois vai ficar nessa posição por muito tempo. Eu descobri. E acabou o segredo, que a minha boca é coisa sem igual. Descobri, rapaz; eu desvendei, menina, o mistério da paixão.
Não a paixão de Cristo, aquela, que já tem dois mil anos. Eu digo essa paixãozinha, mesmo. A paixãozinha nossa de cada dia, contemporânea que só ela. De virar na direção errada, perder o ônibus, o senso, o juízo, o diabo a quatro. E ficar de quatro.
A paixão é o seguinte: marketing. Sério. Sei do que estou falando, homem de Deus! Pura jogada; estratégia barata, pra vender muito caro. E quem paga o pato somos nós; os patos, aqui. Tira o time, não. Todos nós. Todinhos.
Não existe isso de se apaixonar. Pensamos que sim, mas não. Veja bem, temos dois caminhos a seguir, mas vamos ao início de tudo. Não quero discutir religião, que é roubada. Portanto, admitamos estas duas situações - Adão (e Eva), ou os macacos. Dá no mesmo, no fim. Ou melhor, no começo.
Adão foi parido, aliás, inventado. Sei lá. Mas o fato é que apareceu por aí, o Adão. Eva, como toda a mulher, fez um charminho e só chegou depois (deve ter marcado uns dois séculos antes, e fez muito bem, que já chegou arrasando). O que fizeram? Um lanchinho natureba - maçã -, e um mundaréu de filhos. Literalmente - todos nós. Cadê a paixão? Nada! Não havia isso. Amor e sexo, tudo bem. Mas essa frescura de paixão, repito, não existe.
No caso dos macacos, nem preciso explicar. Já imaginou um macaco, todo bobo, oferecendo flores pra macaquinha dos seus sonhos? Pára com isso; macaco nem deve sonhar! E não sonha porque não é trouxa. Trouxas, já disse, somos todos nós. Sonhadores.
A macacada foi fazendo filho, se transformando, fazendo filho, comendo banana, banana, até que ficou em pé, nas duas trazeiras. E aí, meu bem, danou-se. Deu no que deu.
Essas coisas da natureza, do início dos tempos, é que são essenciais. A nossa essência, sacou? O resto é invenção pra vender produto. Paixão, meu caro, é o mesmo que aqueles espremedores de laranja automáticos. Quem é que precisa daquilo? Dizem que é pra você fazer menos força, mas, que piada, querem mesmo é tomar uns bons goles do suco do seu salário. Loucos de preocupação com as minhas mãozinhas, que estão. Comigo, não!
Apaixonados, dizemos que estamos felizes. Então compramos um CD; musiquinha, pra lembrar do outro. Uma roupa ajeitadinha; afinal, tem que estar bonito. Mora longe? Despesa com passagens. Mora perto? "Vou de táxi". Flores. Perfumes. Presentinhos. Bombons, festinhas, viagens, meu Deus, lá se foi o décimo-terceiro. Então você se vê afoito, coitado; duro! Sim, porque dinheiro pode até não trazer felicidade, mas garanto que a falta dele leva a danadinha embora. Rapidinho.
Portanto, está na sua cara, desnudo, o ex-mistério. A paixão de Cristo, tudo bem, até respeito. Já viu o tamanho daquela cruz? Nem eu, mas só imagino, coitado. Entretando, essa outra paixão, já disse, é armação. Marketing, sim senhor.
Tudo se resume - pra resumir - na sua escolha. Uma simples escolha, e você me ajuda a desmontar esse mercado hipócrita que nos cercou de idéias absurdas sobre bombons e flores. Faça a sua opção: se você vai de Adão e Eva, fique com a maçã. Se vai de macacada, seu negócio é com a banana. E vamos à luta.
Chega de muitos agradinhos. Foi-se o tempo. Se ela gosta mesmo de você, macaco, não vai se importar de encarar uma penca de bananas. E você, Dona Eva, se está mesmo tão caidinha pelo rapaz, tire a prova dos nove - ofereça-lhe uma polida maçã vermelha e a sua doce companhia. Que mais ele pode querer? E, se quiser, não presta. Vai por mim.
Quero ver, agora, a cara dos caras:
- Compre isso! Compre aquilo! Elas avançam!
Avançam, nada. Paixão não existe. Banana e maçã tem de sobra; a terra dá. Isso sem falar, Deus me perdoe, mas vou ter que confessar, com o veneno escorrendo pelo canto da boca - que o melhor, o melhor disso tudo é que as duplas sertanejas vão, finalmente, desaparecer do nosso mapa!!! Já pensou? Vale ou não vale, o esforço? Se vale.