05 maio 2004

Te falei da TV?

Vocês não vão crer: a antena interna da nossa TV se escangalhou de vez, e agora só pega a Band. Parece até castigo. Não que houvesse muita opção na TV aberta antes disso, mas, convenhamos, assistir ao Gilberto Barros chega a ser um prenúncio de pesadelo, na certa.

Valei-me, Gilberto Braga! Como vou viver sem acompanhar os próximos capítulos de “Gritos Histéricos de Beatriz Vasconcelos”? Será que eu vou morrer sem saber quem matou Lineu??

Como poderei dormir sem a luz dos holofotes azuis que Renato Mendes exibe, na maior, como se fosse apenas um par de olhos? Como poderei me aconchegar virtualmente naquele latifúndio labial que pronuncia as maiores maldades, não conseguindo, no entanto, deixar de ser docemente encantador?

Estou perdida e mal paga, tendo que ir para a cama com Gilberto Barros e perdendo as últimas do Espaço Fama. Nem sei o que é pior. (E também não estou perguntando).

O pior é não dispor de nenhuma vizinha camarada, para assistir à boa e velha televizinha – aparelho tão antigo quanto a televisão, vocês sabem. Meus vizinhos...



Te falei do vizinho?


Outro dia, no apartamento em frente, teve uma rave. Rave, sim: música eletrônica NO ÚLTIMO VOLUME , um entra e sai de gente, portas batendo, gritos empolgados de “uh-huuuu!!!”, latas e mais latas de cerveja, e uma fumacinha mais que suspeita.

Do lado de cá, dor de cabeça e sede de vingança.

Estávamos preparados para solicitar intervenção da polícia, já com o dedo no telefone, quando, às 22h em ponto, cessou-se o fuzuê. Nada havia a ser reclamado, afinal, começaram a bagunça às 2h e terminaram pontualmente às 22h, respeitando o horário de silêncio. Uma pena.

No dia seguinte, fizemos a “nossa rave”, ou seja: um fandango beeeem gaúcho, também NO ÚLTIMO VOLUME, regado a Gaúcho da Fronteira, Teixeirinha, Tchê Barbaridade, Tchê Guri, Tchê Bagual e... outros tchês que estivessem disponíveis.

Quem ouvia, pensava estar rolando o maior bate-coxa aqui dentro. Os gaúchos gastando o solado da bota, as prendas rodando vestidos e tranças, chimarrão e churrasco. Que nada.

Fechamos tudo e fomos para o lado de fora, na varanda, olhar a praça. Bem sossegados.

Bem coisa de gaúcho.



Te falei do Pilates?


Estou fazendo Pilates. Estou enamorada! O Pilates é uma maravilha.

Sobretudo para quem quer alongar e fortalecer a musculatura, mas não agüenta aqueles ambientes de academia - com cheiro de ferro e suor, música alta, aula disso num lado, aula daquilo noutro, carteirinha, fichinha com séries pré-concebidas muito suspeitas, cheias de íceps, íceps, íceps que não acabam mais. Sem falar no papo-aranha e na solidão que te deixa, invariavelmente, com cara de boba, a se perguntar: mas que diabos eu estou fazendo aqui?

Bem, o Pilates é diferente. As aulas são dadas por fisioterapeutas, e acontecem num estúdio próprio para a atividade. Bem silencioso. Bem aconchegante. Um Santana no rádio (música ambiente), no máximo.

A regra é ter, no máximo, um fisioterapeuta para cada três alunos. Isso torna as aulas menos solitárias; dá a impressão de ter um personal trainer só para você. Os exercícios são feitos em aparelhos próprios, que geralmente usam molas como regulador da tensão (nível de dificuldade) nas atividades. Faz-se tudo muito devagar – o que, naturalmente, é um pouco mais difícil. Experimente fazer abdominais beeeeem de-va-ga-ri-nho e sem dar o famoso impulso no início do movimento, e entenderá do que estou falando.

Tem o lance da respiração, que requer uma certa concentração e te faz estar mais “presente” no momento. E, o mais legal: em muitos movimentos, você alonga praticamente ao mesmo tempo em que faz o esforço muscular. Achei isso fantástico, pois na musculação é o contrário: você “bomba” o músculo por repetidas vezes, e só no final da aula dá uma esticadela para aliviá-lo. No Pilates, alongar é tão importante quanto o esforço.

Devo dizer que, para quem pretende ficar com o corpo malhado em questão de poucas semanas, não deve ser a atividade apropriada. Nesse caso, acho melhor ir puxar ferro mesmo.

Para quem, como eu, sofreu com dores horrendas causadas por uma inoportuna hérnia de disco na lombar, tem problemas de postura, ou fica muito tempo sentado no escritório, ou apenas quer uma atividade física que dê muito prazer e alivie o estresse; a esses eu indico o Pilates veementemente.

Só que é bom estar informado: como já virou modinha, há pencas de picaretas se dizendo instrutores de Pilates por aí. Tem que ver o diploma de fisioterapeuta, saber da experiência, da história do local etc.
Elisabete não interage


Peguei um busum maneiro hoje. Isso para entrar na linguagem dos cariocas, ou de parte deles. O busum era igual a todos os outros, mas o motorista era a particularidade daquele coletivo.

- Motorista! Você me deixa no início da praia do Leblon? – Perguntava uma dama, esticada sobre a roleta que já tinha passado.

O motorista fez sinal com o polegar em riste. Positivo, madame.

E logo perguntou a quem quisesse ouvir:

- Qual é a praia do Leblon, afinal??

Achei que ele estivesse de brincadeira. Estávamos na Av. Niemeyer, e qualquer gaúcha como eu sabe que o Leblon é a primeira praia depois dela. A cobradora (Elisabete, descobri depois) resolveu ajudar:

- É a próxima que você vai ver.

- Aaah, positivo.


Alguns metros depois:

- Elisabete, tá vendo aquele cara ali na praia, com a camisa cor-sim-cor-não? Repara, Elisabete. Tá discutindo com a própria sombra, coitado. Eu conheço ele. É lá de Cascardura, Elisabete. Doido, doido.

(Elisabete nem ouvia, tamanho era o barulho do motor do ônibus. Mas ele continuava o discurso, como fosse um palestrante sem se importar com o feedback).

- Dia desses, Elisabete, estava o doido discutindo com a sombra, foi quando um “poliça” cismou que era com ele. Os poliça, você sabe, quase nunca aparecem. Quando aparece, Elisabete, pode escrever que é pra dar uns tiros pra cima e levar meia-dúzia de pobre-coitado, ou dar uma sova. E foi o que ocorreu nesse dia, foi quando deram uma sova, mas uma sova nesse maluco, que eu não sei como ele ainda tá vivo, o pobre.

E mudava de assunto, subitamente:

- Tá dando pra ver a lua daí, Elisabete? Ainda não tá cheia. Amanhã fica cheia. Amanhã vou cortar o cabelo.

Elisabete arrumava o casaco, contava os trocados, controlava a roleta. Tinha um cabelo crespo sem volume, empapado de gel, e um sorriso difícil.

Talvez, se Elisabete interagisse mais...