03 março 2003

Da série Textos sob Encomenda...

Tema 1 – “Como não ficar minhocando”
Determinado por – Denise
Autora – Bíbi Da Pieve


MINHOQUICE TEM CURA

Minhocar consiste em pensar excessivamente sobre um problema qualquer, criando hipóteses, elaborando soluções, prevendo desfechos, fantasiando catástrofes - sem, efetivamente, chegar a lugar algum.

Isto posto, pode-se concluir que, afinal, todos nós minhocamos. É verdade. Contudo, a diferença entre o minhoqueiro esporádico e o minhoqueiro crônico é claríssima: o primeiro reflete sobre problemas. O segundo CRIA problemas a partir de qualquer coisa que lhe apareça à mente. Vamos nos ater ao primeiro grupo, portanto.

Se você tem uma boa criatividade, gosta de exercitá-la, não se incomoda em perder meia horinha aqui e ali somente imaginando coisas, é chegado a um draminha... calma, você ainda pode ser uma pessoa normal. A minhoquice só é detectada quando a pessoa passa a reger sua vida (ou parte dela) a partir de conceitos oriundos de uma lógica completamente “torta”, equivocada.

Em outras palavras, a minhoquice desregula a bússola, e o sujeito acaba tonto, absorto num mar de conclusões que nem sabe mais de onde tirou. Perigo.

O pior minhoqueiro é aquele que acha que sabe o que os outros estão pensando. Infelizmente, o tipo é mais comum do que se imagina.

Ele é tão bom em diálogos interiores, que você está dispensado de contribuir na conversa. Silenciosamente, a partir de um simples suspiro seu, ele pode concluir que você não está satisfeita com o casamento, que ele se esforça para ser um bom marido, mas não adianta, você não dá valor, imagina, ele até te trouxe para tomar chope em plena terça-feira, está certo, o chope está meio quente, mas que culpa ele tem, se ele xinga o garçom você reclama igual, nada está bom, assim não dá, acho que chegamos a uma situação limite, alguém aqui vai ter que tomar uma decisão... Depois de minhocar tudo isso, ele verbaliza só a última frase:

- Está tudo acabado entre nós!!! – e joga a aliança dentro do chope morno.

Contrariar um minhoqueiro assim é até possível, mas dá um trabalho do cão. Até convencê-lo de que você suspirou porque viu que a farmácia estava fechando justo quando você lembrou que precisava de absorvente... Há quem afirme ser mais rápido e fácil arrumar outro marido.

Portanto, se você é um minhoqueiro de cabeça cheia, o melhor a fazer é buscar tratamento. Sim, a minhoquice tem cura, e aqui veremos algumas dicas para resolver esse problema.

O primeiro passo é ocupar seus ricos miolos com algo que não permita que seu pensamento “ande em círculos”. Pratique o linear, o racional. Ora, vá jogar xadrez!

Segundo passo: confesse cada minhoquice sua a um parente ou amigo íntimo, e ACREDITE quando ele disser que determinada conclusão não tem o menor cabimento. Um mero observador costuma detectar com sucesso quando há minhoquice naquele angu.

Terceiro passo: deixe AGORA de desenvolver qualquer pensamento com base no que você “intui” que outra pessoa esteja pensando. Cheque a hipótese; perguntar não ofende, e evita divórcios desnecessários.

Quarto passo: esqueça o “se”. Se eu fizesse, se eu comprasse, se eu deixasse... pensando, morreu um burro. Enfie na sua cachola que há um universo infinito de possibilidades; é mais fácil você derreter a sua cabeça do que esgotar todas as hipóteses da vida, ainda que em teoria.

Quinto passo: não traga situações do futuro para o seu presente. Antecipá-lo é, literalmente, envelhecer antes do tempo. E dá rugas.

Sexto e último passo: finalmente, quando aquela amiga lhe vier convidar para uma apetitosa sessão de minhoquice a duas, decline educadamente. Diga-lhe que não transa mais esse tipo de coisa, que passou a fase da farra cerebral. Agora você anda de cabeça limpa, e vive um dia de cada vez.

Ela vai estranhar, insistir, e talvez até chamá-la de careta. Não ceda. Seja forte. Diga não à minhoquice, compre essa idéia.

Se preciso, faça uma camiseta: “MINHOQUICE: TÔ FORA!”

E use sempre camisinha, para evitar a minhoquice do dia seguinte...