07 setembro 2004

não resisti...
a um pouquinho de Paulo Leminski:

"alguém parado
é sempre suspeito
de trazer como eu trago
um susto preso no peito,
um prazo, um prazer, um estrago,
um de qualquer jeito,
sujeito a ser tragado
pelo primeiro que passar

parar dá azar"

Querido diário


Eu não escrevo aqui há quatro dias – o que, para mim, compulsiva e exagerada, é quase uma eternidade. Posso fazer um momento “meu querido diário”? Licença.

Os últimos dias no Rio têm sido quentes, mas não aquele calorão insuportável do verão. Temos sol e temos vento; não chega a empatar, mas o segundo refresca o que o primeiro abafa, e vai-se agüentando firme por aqui. As noites têm sido frescas e ideais para um chopinho a céu aberto.

Domingo, Erica e eu fomos ao teatro. Abalou Bangu, com André Valli (o eterno Visconde de Sabugosa, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, lembra?). Algumas boas tiradas e a excelente atuação dele valeram a ida. Nem mais, nem menos.

Depois rolou um chope no Rosa Shopping – bar Na Bôa -, com batatas fritas e tábua de carnes suficientes para dois. Éramos três. Nem menos.

***

O último livro que li – devorei, aliás – foi As Mentiras que os Homens Contam, do Verissimo. E recomendo a todos, dos 8 aos 80, que Verissimo nunca é demais. Ponto, parágrafo.

***

Ontem à noite eu fui à Zona Sul e voltei, lá pela 1h, com indigesta impressão de estar sendo escoltada pela Polícia. O policiamento em Ipanema foi reforçado no feriado - eu ouvia no rádio durante a ida -, por conta dos últimos acontecimentos (um vigia que tentou impedir um assalto levou bala às 3h da tarde, e o pessoal do morro Pavão-Pavãozinho andava em discórdia outra vez).

O que eu fiz foi me trancar no carro daqui até o Leblon, e deixá-lo com um manobrista numa rua relativamente movimentada – véspera de feriado -, para então me trancar com um amigo dentro de um restaurante e olhar a vida passar lá fora. Volta e meia o som ambiente era intercalado por umas sirenes, uns alarmes, nada incomum.

Na volta, como já disse, parecia escoltada. De tempos em tempos, reduzia para uma blitz, onde meia-dúzia de sujeitos bem armados me observavam com compreensível desconfiança. Durante o percurso, viaturas e mais viaturas se anunciavam pelo retrovisor, como lantejoulas vermelhas, até passarem por mim, gritantes e urgentes.
E a gente precisa continuar – a viver, a conviver, a trabalhar, a trafegar. Às vezes dá vontade de respirar bem fundo e fazer mais um: ponto, parágrafo. Antes de começar tudo outra vez – até porque não há outro jeito. Ponto.