04 junho 2002

-- "Trem-Bala" É LIVRO DE SEGURAR O XIXI --

Declaro, em blog internacional, minha admiração pela escritora gaúcha Martha Medeiros - que coluna (do verbo "colunar") no jornal Zero Hora e no site Almas Gêmeas, do Terra.

Ontem à noite eu li o livro que a Martha publicou em 99 pela L&PM Editores, chamado "Trem-Bala". 259 páginas de uma literatura que derrete na boca, dessas que fazem a gente segurar o xixi até o último parágrafo, e ainda se perguntar: já acabou?

Acaba, mas é bom demais enquanto dura. São crônicas e mais crônicas que nos fazem entrar numa viagem intensa e ágil, sem querer parar no sinal, sem querer desviar a atenção um minuto sequer, e, principalmente, sem querer parar para aquele xixi - que, afinal, pode esperar.

Se vale um conselho: por via das dúvidas, não beba muita água antes de entrar no trem.

A Martha é uma escritora de palavras certeiras. A crônica vem sem rodeios e sem gorduras; é praticamente um texto desnatado, recomendável a qualquer vivente que queira cuidar da saúde - sobretudo a mental.

Sim, porque o Trem-Bala cutuca e faz pensar. Trata de assuntos corriqueiros, do interior ou das capitais, da alma ou da unha encravada, tanto faz: são particularidades universais, e você também está ali. Todos nós estamos.

O pensamento da autora é curioso e intrigante, como o dos melhores escritores que conheço. Aquele estranhamento diante da vida é traço fundamental do bom cronista, e a Martha sai cronicando com um pé nas costas, bem como deve ser. Quem quiser que corra atrás.

E a danada ainda dispõe de todo talento da poesia que Deus lhe deu (os primeiros livros publicados foram de poesia), conferindo ao texto aquele algo-mais, adoçando as idéias, quase que transoformando em música o que já soaria muito bem só no preto-e-branco literário.

Ok, chega. Para quem gosta de literatura, faz bem. Para quem não gosta, faz melhor ainda.