04 outubro 2002

YES, WE HAVE BANANAS


Instalaram uma feira aqui ao lado do nosso prédio. É assim que se diz – instalaram uma feira? Não sei. Depois da invasão dos softwares, parece que tudo é de instalar.

Fiquei com preguiça de “fazer a feira” (como os cariocas dizem); ainda não fui. Mas tenho sonhado muito com o dia em que sairei daqui com uma sacolinha no ombro, e tratarei de buscar bananas-prata e maçãs verdes na feira. O que me falta é disposição, mas, em contrapartida, tenho imaginação que dá e sobra.

Estou tratando do figurino. Não sei com que roupa eu vou. Acho que roupa de feira tem de ser meio coloridinha, primaveril, e eu não tenho nada que misture cores, nada de flores, nada, nada. Gosto de cores “burras”, como costumo dizer. Quando compro uma blusa vermelha, é exatamente aquele vermelho que você imagina quando lê escrito: VERMELHO. Bem grande, assim, ignorantão.

Esse negócio de vermelho “puxado para o...” não me convence. Verde é verde, azul é azul, e assim por diante. Minhas cores são assim; honestas, francas.

Agora, para a feira, preciso arrumar um visual de menos impacto. Acho que vou a um brechó comprar um vestidinho de tonalidade duvidosa, sei lá, com florezinhas ou mesmo rabiscos incoerentes de todas as cores desbotadas que eu achar. Um estampado desses que parecem salada mista, cortina de salada mista, algo do gênero.

Sandália. Não posso deixar de comprar uma sandália sem salto-alto, que a gente anda muito na feira. Se bem que, por aqui, temos só três ou quatro barraquinhas. Não importa. O tamanho da feira não pode determinar o traje, senão vira bagunça. Feira é feira, e pronto. Salto baixinho.

O cabelo vai todo preso para cima, até para não atrapalhar no apalpar das frutas. Há que se ter muito cuidado, numa feira, para escolher bem o produto. É básico.

O texto é fácil. Basta reclamar de tudo um pouco, começando pelo tempo, vizinha, que está há dias nessa indecisão, ora chove, ora esquenta, não é? E o preço do morango, então? Quis fazer, noite dessas, uma festinha lá em casa. Festinha particular, entende?, para o maridão, com morangos e chantilly, não sei se estou sendo clara... é, festinha de sacanagem, isso mesmo. Só que não deu, amiga, simplesmente perdi todo entusiasmo ao me deparar com o preço do morango, que já foi mais humilde. Assim, não há sacanagem que resista!

E a vizinha há de comentar que, ontem mesmo, o menino mais novo teve um febrão que foi de preocupar. Banho frio, afinal, é bom? Não sabe. Na dúvida, colocou todos os edredons da família por cima do moleque, que acordou encharcado no meio da madrugada. Mas a febre dele baixou; o problema é que o marido e os outros três, hoje, amanheceram espirrando, porque dormiram destapados. Aí ela teve a idéia de vir buscar uns limões, aproveitou que era dia de feira...

Assim, eu vou fazendo as compras, com meu vestidinho alegre e minha sandália sem graça.

Vou chegar em casa, orgulhosa, colocando as frutas numa fruteira – preciso comprar uma -, por ordem de tamanho ou de chegada ou de cor mesmo. Os legumes, devo empacotar e guardar na gaveta debaixo da geladeira.

Depois, às 11h da manhã, colocarei a couve-flor e uns rabanetes no microondas (deve ser assim que se faz), lerei as instruções na embalagem, e seguirei à risca. Assim que apitar, farei o mesmo com a rúcula, o agrião, os tomates e, sei lá, o pimentão VERMELHO (como a minha blusa).

Quando estiver tudo cozido – será que precisa de água? -, ou assado, não sei como se diz, então eu chamarei a família, colocarei a toalha xadrez por cima da mesa, e uns pratos, e uns copos.

E sairei correndo pela porta dos fundos. (Na verdade, a sandália baixa era pra facilitar a fuga).