21 agosto 2002

EPA, EPA, EPA!

Estava andando na praia, agora há pouco, quando o moço que vende Biscoito Globo - pronúncia: bixcoito-globo - me parou com a seguinte frase:

- E a loirinha vai levar um doce ou um salgado pro namorado, noivo ou marido?

Levei um susto. Loirinha?? Fiquei olhando para ele com cara de tacho. Ele atacou:

- Está namorando, está solteira ou está casada, loirinha?

Loirinha, de novo. Rebati - "estou dura!!" -, e segui a minha caminhada. Ora, bolas.

Parei na farmácia que fica ali perto do postinho, e fui direto à prateleira dos tonalizantes. Ok, estou precisando de retoques. O último foi o Terra, número 22 da Casting, mas ali não tinha. Tinha só o Noz - um tom mais grave, digo, mais escuro. Vai esse mesmo. Tenho urgência.
Ora, bolas.

Nada contra as lindas loirinhas - sou fã do jeitinho meigo da Meg Ryan, por exemplo. Dou todo meu apoio. Mas, eu? Poxa, vocês não sabem o tempo que eu gasto em frente ao espelho, a tingir minhas madeixas da cor TERRA, empapando cada fio como se fosse o único, louca de medo de fazer mechas sem a mínima intenção.

Aí, vem o tio do bixcoito-globo, e me acusa de LOIRINHA?? Comigo, não.

Sou muito morena, morena tropicana (pelo menos de cabelo): ai, ai, iô, iô.


FUSCA PRATEADO

Hoje eu ia dirigindo pela Av. das Américas, quando avistei à frente um fusca prateado, a coisa mais lindinha do mundo. Todo limpinho, brilhando, cuidadíssimo - coisa rara e bonita de ver.

Quando olho a placa: Porto Alegre. Olha, que bacana! E uma mulher dirigindo. Conterrânea!!

Já fiquei toda faceira. Vou ultrapassar, e buzinar. Vou acenar! O fusca é perfeito!

Ainda outra surpresa: na bundinha do fusca, um adesivo com a bandeira do RS. Vou sorrir, e vou aumentar o volume do Vitor Ramil para ela ouvir! Tem jeito de gente boa, a moça...

Antes de ultrapassar, ainda olhei mais uma vez para a bunda do carro. E vi. Vi o que não poderia ter visto. O terrível, o inoportuno, o descabido: um adesivo do Internacional. Acreditem, a moça era colorada.

Nada pode ser perfeito.

O fusca nem era prateado, pensando bem; era cor-de-cinza. E feio, o coitado. Muito feio.

Ultrapassei reto, e fui-me embora.
Minha gente,
não é que pintou insônia?? Pudera, fui deitar cedo demais... como vão vocês?

Eu vou bem, obrigada.
Um tanto de saudade do Sul - e seus respectivos -, mas tudo bem. Às vezes, bate um banzo melancólico... mas isso é coisa de madrugada insensata.

Aliás, toda madrugada é insensata, desde que me conheço por coruja.

Eu sabia que tinha alguma coisa estranha no ar, mesmo antes de constatar que meu irmão havia lavado a louça que eu deixei na pia, assim que voltou do trabalho, à noite.

(Um parênteses: aqui, mais certinho seria "meu irmão havia lavado a louça que eu DEIXARA na pia...", mas eu fico meio assim de usar o pretérito mais que perfeito, pode soar formal demais. Sabe o que é isso? - Trauma de ter sido obrigada a ler Guimarães Rosa e José de Alencar com 12 anos de idade. Belo incentivo ao hábito literário. 90% da turma saía com a convicção de que ODIAVA ler.

Veja bem - continuando entre parênteses -, nada contra os grandes escritores; o problema é OBRIGAR qualquer adolescente a se concentrar numa literatura lenta e rebuscada, enquanto o coitado mal consegue se concentrar nos artigos coloridos das revistas preferidas.)

Mas, voltando à louça que eu DEIXARA na pia: a surpresa da madrugada foi encontrar tudo limpinho, como num passe de mágica. Eu não disse que toda madrugada é insensata?

Meu irmão lia para mim, quando eu era pequena, uma historinha chamada "Pedrinho vai ao médico". Era de uma coleção de livros azuis que tínhamos em casa. Havia outras histórias, mas eu insistia na do Pedrinho, e, por mais que já soubesse o final, adorava ouvir de novo, e de novo, e de novo.

Se ele mudasse alguma coisa no texto, de improviso, era só para chamar minha atenção. E eu reclamava - não é assim!! Agora o médico vai ouvir o coração do Pedrinho!

Hoje eu adoro quando ele muda alguma coisa de improviso.
Na guitarra ou na pia da cozinha.