23 agosto 2007

Cena no Aterro do Flamengo

À beira da ciclovia, no meio de um quadrado formado por quatro árvores, uns cobertores espichados no chão. Ao lado, atrás de um dos troncos, um morador de rua penteava os cabelos com um espelhinho de mão, no maior capricho.

13 agosto 2007

Medo

Tenho um medo que me pelo de perder tudo. Pronto, confessei. Família, casa, as pernas. O ar. Capacidade de me alegrar com palavras engraçadas e doces – cupuaçu, por exemplo. Perder o chão. Pior, perder a memória e a imaginação (que é a memória para frente, ou para os lados).

Ah, tenho um medo que me pelo de perder os lados.

03 agosto 2007

Hábito

Eu ontem vinha pela rua mordendo o lábio inferior, como faço. Pensava sei lá o quê, mas mordia com força, como faço. Andei uns quarteirões. Mordia. De repente, me dei conta.

-Por acaso eu estou com alguma dor ou incômodo no corpo?

Não.

- Por acaso estou devendo dinheiro aos amigos?

Não.

- Por acaso atropelei um cachorro? Minha calça rasgou? Unha quebrada? Atrasada e despreparada para reunião importante? Peguei emprestado e não devolvi? Acordei de ressaca na cama errada? Escondendo bombom dos sobrinhos? Estacionando em vaga para deficientes? Informação errada aos velhinhos?

Não, não, não e não. Então, podes me explicar por que diabos eu mordo o lábio inferior como quem tem culpa, inquietude, ansiedade, expectativa ou apavoramento da vida?

Por hábito- esse cupim da pior espécie. Um dia você acorda e tem hérnia de disco. Mau hábito, o cupim da boa postura. Um dia você vai vestir uma calça e percebe que “inchou” dois números. Deu cupim nas refeições e você acabou se habituando.

Desmordi a boca na mesma hora.

- Diacho, por que não posso simplesmente relaxar? Por que será? Hein?

No “diacho” da frase acima eu já estava mordendo outra vez, mas agora com motivo. Encucadíssima.