02 novembro 2002

Eles vão te pegar!


Não sei se já notaram, mas o tempo do fulano "ficar" com a fulana já é coisa do passado. Atualmente, os fulanos “pegam” as fulanas, e - o que é ainda mais animador! - as fulanas também pegam os fulanos.

É um tal de pegue-se quem puder, e o critério há muito também não aparece como protagonista da trama. É só um mero detalhe. O importante é pegar.

“Pegar” refere-se ao ato de beijar alguém na boca, sem compromisso, e depois experimentar algum tipo de relação sexual com a pessoa. Também "sem compromisso" - como diria o vendedor de cangas na beira da praia, na tentativa de lhe vender uma peça. E a intimidade entre os “pegantes” também regula com a que você tem com o vendedor de cangas.

Por relação sexual, hoje em dia, entende-se uma vasta gama de possibilidades. Já não se mostra eficaz o termo "ir para a cama", porque o local da “pegação” é o de menos.

Também não se pode fazer nenhuma alusão à posição horizontal, outrora a principal evidência de sexo entre duas pessoas, porque as criaturas andam se pegando em diversas posições, das estapafúrdias às inimaginárias, da criatividade ao verdadeiro contorcionismo. O motivo do “pegar diferente” está estampado, geralmente, nas revistas femininas, onde a sacanagem (com perdão do termo) aparece revestida de pomposas explicações psicológicas - "investir na relação" e "sair da rotina" são dois dos principais disfarces para a pegação, digamos, não ortodoxa.

Tampouco o pegar fica limitado à quantidade de indivíduos envolvidos no ato. Percebo que a multiplicidade sexual, se é que existe o termo, está cada vez mais presente entre os seres. Eu diria "casais", mas eis que também esse termo já soa obsoleto, pela conotação de gênero - um masculino e um feminino - que, tenho observado, cheira a poeira do século passado.

Uma vez extrapolados os limites de gênero, número e grau, há dois modos pelos quais podemos interpretar a nova atitude sexual dos seres humanos. O primeiro é otimista e romântico, além de quase religioso (do termo religare, lembram?): talvez estejamos passando por uma fase de descoberta universal, e, muito em breve, o amor não conhecerá fronteira de espécie alguma. Amaremos ao próximo, e ao seguinte, e ao seguinte, e ao seguinte - um passinho à frente, por favor. Olha que já estamos quase lá.

O outro modo de interpretação, não tão romântico – mas tão divertido quanto – sugere que essa pegação desenfreada entre os homens (exclua o gênero, claro) se trata mesmo de uma imensa PEGARIA – substantivo que surge da junção entre os termos “pegação” e algum outro que comece com “p” e termine em “utaria”.

De qualquer maneira, vale o alerta: se ficar, o bicho pega. E, se correr, o bicho come – o que dá no mesmo. Salvo pormenores da terminologia sexual e/ou anatômica, tanto faz se você é homem, mulher, moça, velha ou coisa que o valha: fatalmente, você tem algo que interessa a quem pega. E eles vão te pegar.

Caso queira se abster da “pegaria” vigente, um único conselho: cuide bem do seu. E depois não diga que eu não avisei.