04 fevereiro 2004

Meu vizinho e seu gato


Vocês não vão acreditar, mas é real: hoje meu irmão abriu a porta do nosso apartamento, e me mostrou um capacho. Um capacho normal, formato meia-lua, cor meio verde. Só que nós não temos um capacho em frente à porta. Nunca tivemos. E o capacho apareceu ali.

Fiquei olhando sem entender direito, e logo reconheci: era o capacho do vizinho do 104, aqui do lado. Aquele mesmo vizinho que, há alguns meses, tinha o péssimo hábito de roubar o meu jornal de manhã cedo, ler tudinho, e depois devolvê-lo, meio despetalado. Até que armei um esquema com o porteiro – que passou a arremessar o jornal direto para a minha varanda, evitando escalas indesejadas.

Mas, voltando ao capacho, observamos que o vizinho estava sem; óbvio, o capacho dele viera parar na nossa porta. Por que seria?

O mistério não durou dois segundos: imaginem que, sob o capacho, escondia-se uma extensão que saía por debaixo da porta do vizinho em questão, e terminava atrevidamente conectada à tomada do corredor do prédio.

Meu vizinho está fazendo um gato.

Deve estar deixando o ar refrigerado ligado o dia todo (não sem razão, aqui tem feito um calor do cão!), e atravessa a sala com um fio branco que abocanha a energia do condomínio – que, diga-se de passagem, anda mesmo um absurdo de caro. Reconheçamos, não foi má idéia.

O que mais gostei foi do cuidado com o gato: não que bastasse para esconder o fio (enorme, por sinal!); mas, gentilmente, o vizinho nos emprestou o seu capacho para evitar que tropeçássemos no rabo do bichano.

É ou não é uma gentileza?