05 abril 2006

Mais uma do cacet(inho)

Ainda vou escrever um livro – ou, pelo menos, um capítulo – sobre os micos que paguei na vida por causa do cacetinho. Você sabe: cacetinho é como nós, gaúchos, chamamos o pão francês.


CENA
Recreio dos Bandeirantes - Rio

Minha mãe e eu, cansadas, às 10h da noite, vamos ao supermercado. Começo a procurar a marca do pão de forma light que eu gosto, mas não encontro.

Minha mãe, paciente, espera. Olha para os lados. Distrai-se com os iogurtes.

- Tão caros...

Continuo procurando, e nada. Minha mãe - cuja paciência é ponto forte, mas não se pode querer milagre! – resolve ajudar. Lá dos iogurtes, enche os pulmões de ar e brada:

- FILHAAAAA!!! SE NÃO TEM A MARCA QUE TU GOSTAS, NÃO QUERES LEVAR UM CACETINHO???

Ecos no supermercado: “cacetinho... inho... inho...”

A filha aqui, em vez de se tocar logo da gafe cometida, reflete dois segundos e pondera (em voz bem alta, claro):

- POIS É... O PROBLEMA DO CACETINHO É QUE AMANHÃ ELE JÁ NÃO ESTARÁ TÃO BOM!

Um senhorzinho passa e estoura um riso breve, nervoso. Decerto pensou no triste envelhecimento do cacetinho.

“Desculpe, senhor. Não é nada pessoal. Muito pelo contrário. O seu, amanhã, é capaz de estar até...”

Melhor não dizer nada.