30 abril 2005

Quando a gente pensa que já viu de tudo...


Olha essa. Deu hoje no Globo:

Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para os “preconceitos nossos de cada dia”, a Secretaria especial dos Direitos Humanos elaborou e está distribuindo a cartilha “Politicamente correto”. A publicação reúne 96 palavras, expressões e piadas consideradas pejorativas e que revelam discriminações contra pessoas ou grupos sociais, como negros, mulheres, homossexuais, religiosos, pessoas portadoras de deficiência e prostitutas.

E por aí vai. Mais adiante, a matéria apresenta uma série de expressões “condenadas” pela tal cartilha. Selecionei algumas, e ia comentar cada uma delas, mas acho que as “explicações” falam por si próprias. Veja:


A COISA FICOU PRETA: forte conotação racista contra os negros, pois associa o preto a uma situação ruim.

BAITOLA: utilizada para depreciar os homossexuais, assim como bicha e boiola. Sugeridos como corretos: gay e entendido (a).

FARINHA DO MESMO SACO: junto com expressões como todo político é ladrão, todo jornalista é mentiroso, os muçulmanos são terroristas, ilustra a falsidade e leviandade das generalizações apressadas, base de todos os preconceitos. O fato de haver políticos corruptos, jornalistas imprecisos e muçulmanos extremistas não significa que a totalidade desses segmentos mereça aquelas respectivas acusações.

GILETE: o termo adequado é bissexual.

NEGRO: a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta.

PALHAÇO: o profissional que vive de fazer as pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade.

SAPATÃO: usada para discriminar lésbicas,mulheres homossexuais. Entendidas e lésbicas são termos mais adequados.

VEADO: uma das referências mais comuns e preconceituosas aos homossexuais masculinos. Expressões adequadas são gay, entendido e homossexual.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra.
Sábado bom


Sábado amanheceu com chuva e árvores dançando aqui em frente.

“Venta / ali se vê / aonde o arvoredo inventa um ballet”
(Nei Lisboa)


Americanas.sem


Meu irmão fez uma compra pela Americanas.com, que não chegou dentro do prazo prometido. Mandou e-mail cobrando. Ninguém respondeu. Mandou outro. E nada.

Ligou para a central de atendimento (você é quem paga a ligação). Hoooooras e horas para ser atendido.

- Eu queria saber do meu pedido, número tal.
- Um momentinho que eu estarei verificando, senhor...
Um momentão se passou.
- Realmente, senhor, consta aqui que a sua compra não chegou.
- Sim, isso eu sei. Queria saber onde foi parar, então.
- Consta aqui que o produto estará voltando à loja, senhor.
- Voltando? Mas por quê??
- Não tenho essa informação, senhor, desculpe...
- Tá bom. E eu vou receber quando, afinal?
- Depois que o produto retornar à loja, teremos um prazo de seis dias úteis para a nova entrega.
- E quando é que chega na loja?
- Não temos essa informação.
- Sei. Então eu quero cancelar o pedido.
- O pedido só poderá ser cancelado depois que o produto chegar à loja, senhor.

Aí ele armou uma quizumba, e a moça “abriu uma exceção”: cancelou o pedido na hora mesmo.

29 abril 2005

Lembrete


O computador vive emoldurado por dezenas de post-it - que eu grudo, compulsivamente, para me lembrar dos compromissos. Até para tomar comprimido tem post-it. Acabou o sabão em pó. Post-it. Médico. Post-it. Filme que vai estrear no cinema. Post-it. Assunto para coluna na revista. Post-it. E eles estavam acabando.

Cheguei em casa, toda animada.

- Olha! Comprei mais um moooonte de post-it!

Meu irmão, balde-d’água:

- Bah, Bíbi. Abre essa mão e compra logo um Palm.

Homem, para gostar dessas engenhocas, nunca vi. Graça nenhuma. Se o post-it é tão mais coloridinho...

***

Não sei se vocês já perceberam, mas eu estou postando pra caramba durante a semana. É para distrair vocês - já que, como têm notado, nos fins de semana é mais raro eu escrever aqui. Tem fundamento. Este blog está se profissionalizando. Passo a passo.

Primeiro passo: a folga.
Hoho.

***

Faço frete


Sem entrega
dá mais barato
- ponderou.

Montou-se
Instalou-se
Ligou-se
Divertiu-se
Brigou-se
Desculpou-se
Voltou-se
Amou-se.

Entregou-se, enfim.

Deu foi um barato
maior ainda.
Papo no salão


Mãe da Gabriela (7 anos) contando:

- A Gabi inventa cada uma! Outro dia, voltávamos de Angra quando ela anunciou: “Mãe, temos que correr!” Tinha festa de um amiguinho, no play, dali a uma hora.

Chegamos em casa, ela numa euforia só. Tomou banho, enfeitou-se toda e saiu, mandando beijinhos no ar.

Lá pelas tantas, voltou, com uma sacolinha cheia de doces. Chapeuzinho, língua-de-sogra etc.

Dia seguinte, chega em casa o Vítor, irmão mais velho, contando: corria no prédio o boato de que a Gabi tinha sido expulsa da festa no play.

“Que história é essa, minha filha??”

“Mentira, mãe! Tudo mentira. Eu não fui expulsa, nada. A tia lá (mãe do aniversariante) uma hora olhou pra mim e disse que não me conhecia, o que é que eu tava fazendo lá, e tal. Eu falei a verdade. Quem me convidou foi o filho dela!!”

Detalhe crucial: o garoto fazia um ano.

“Gabriela!! Você entrou de penetra na festa, que coisa mais feia!! Que vergonha, minha filha, ser expulsa...”

“Já disse que não fui expulsa, mãe! A mulher só pediu para eu me retirar. Só que eu ainda tava com fome, daí enchi uma sacola com os docinhos e vim embora, foi isso. A festa tava meio chata, mesmo. Uma pirralhada, não tinha ninguém da minha idade. Mas o brigadeiro tava show...”

***

As outras mulheres no salão ficaram indignadas com a tal mãe do aniversariante, que coisa feia fazer isso com uma menina de sete anos, tadinha! Aí a mãe da Gabriela contou outra.

***

Um dia, fui levar a Gabi para brincar na piscina do prédio. Cheguei lá, e, como de costume, esparramei os brinquedos dela pela água. Foram chegando outras crianças, outros brinquedos – é sempre assim, acaba todo mundo partilhando, mistura tudo, depois cada um cata os seus e vai embora, né?

Pois bem. A Gabi, lá pelas tantas, brincava com a boneca de outra menina. Foi quando a mãe dessa menina chegou para mim e disse, com o maior jeito de antipática:

- Você poderia pedir à sua filha que devolvesse a boneca da MINHA filha, por favor?

Não tive dúvida.

- Pois não. Gabi, querida, devolve a boneca da sua amiguinha.
- Ah, mãe, mas ela me emprestou... (realmente, a amiguinha não estava nem aí para a boneca).
- Eu sei, filhinha, que ela te emprestou. Mas a mãe dela é sem educação, e não quer que você brinque com a boneca dela.

Falei bem alto, todo mundo viu. A mulher ficou a-zul.

28 abril 2005

D’eu no Globo


Meu sonho era o meu blog sair numa coluna de algum caderno de informática. Tenho alguns amigos blogueiros que já saíram. Chiquérrimo. A gente se sente meio assim, sabe como é, ego-ponto-com.

Pois o Gravatá, do caderno de Informática do Globo, deu-me esta honra no dia 18/04.

E a indicação ainda foi parar no blog dele. Confira o texto:


Bibi que barbaridá

Quando se fala em movimento messiânico no Brasil, logo nos lembramos de Canudos e Contestado. Pouca gente se lembra dos Mucker, dizimados pelas tropas de San Tiago Dantas no século 19 em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Pois foi lá que nasceu Bibi Da Pieve, a cronista-revelação da revista “Época” que hoje divide o tempo entre a pena, o teclado e sua banda de rock (é baixista e vocalista). Apesar de ser da terra de macho e da brava líder messiânica Jacobina Maurer, Bibi não agüenta mais receber propostas para aumentar o pênis. “E o trabalho que vai dar para erguer esse monstro do prazer? Haja comprimido-guindaste!” protesta a bem-humorada escritora. Clique aqui para acessar o site de Bibi.
Corja de incompetentes

Comprei a calça jeans. Não foi barata. Usei poucas vezes. Começou a descosturar o bolso, do nada. E o cós também. Eu bufo, tu bufas, ele bufa, nós bufamos.

Bufando, fui ao lugar onde eles supostamente concertam roupas. Mostrei – aqui e ali, assim e assado -, expliquei o ocorrido, com a maior calma. Dá para arrumar isso? Sim, dava. Que eu fosse buscar dali a três dias. Combinado. E pago, inclusive.

Volto lá hoje, a moça demora a achar, mas acha. E a calça vem parar nas minhas mãos. Um pedaço do cós está arrumado. O bolso, do mesmo jeito. Ali adiante, ainda no cós, um trecho permanece descosturado. Eu bufo, tu bufas...

- Olha só... (inspiro)... aqui ficou um pedaço aberto, aqui ficou outro... (expiro)...

A moça olha bem para a minha cara, com jeito de quem pensa: “Ô, perua nojenta! Nunca está satisfeita, não??”. E vai lá para os fundos, consultar a costureira-com-cara-de-jabuti-lesado. Costureira olha por cima dos óculos, com desdém. Examina a calça. Mexe, remexe, faz um biquinho de insatisfação.

A moça volta e me diz:

- Ela disse que só tinha visto aquela parte... tem como cê buscar amanhã??

Eu sei. Eu sei que devia ter acertado a sombrinha no meio da testa da costureira, criando assim o primeiro jabuti unicorne da Terra – ia dar no Globo Repórter e tudo, eu sei, perdi essa.

Mas meu dia foi difícil. Fui dormir lá pelas tantas da madrugada, e me acordei às 8h da matina com um megafone estourando meus tímpanos - o sujeito anunciando/ameaçando que ia ter feira, de hoje em diante ia ter feira, legumes e verduras pelo melhor preço... e os fiadasputa vão escolher logo a praça em frente à minha janela para fazer isso! Tá bem.

Aí a minha disposição não vai até as 3h da tarde, sobretudo para golpes mais bruscos, como o da sombrinha na testa do jabuti. Ocorre que resolvi aceitar, volto lá amanhã, ou depois, ou qualquer dia desses, e pego a maldita calça que nem sei se eu quero mais.

- Mas só depois das 20h, tá?

Dá vontade de morrer... Só para voltar à meia-noite e puxar o pé dela, eu digo.
O Papa é pop

E o pop não poupa ninguém. Essa eu não vou perder. Meu irmão, outro dia:

- Tô com medo desse novo Papa...
- Por quê?
- Mó cara de Hannibal!

Desculpe a malcriação católica. Mas, bah, tem a ver...

27 abril 2005

Pegadinha virtual


Recebi hoje a mensagem abaixo, e logo fiquei desconfiada:

Esta é uma mensagem automática. Não responda!
Olá, Você está recebendo um cartão virtual VOXCARD remetido por:

Otavio - otaviol@hotmail.com.br

clique aqui para ver seu cartão

Caso não consiga visualizá-lo, digite o código 93E76B4YF68A3RF326GT392876DF62 no campo existente em nossa página principal.

Este cartão ficará disponível por 3 dias.



Ã-hãm, sei. Primeiro, que não conheço nenhum Otavio. Assim, sem acento, pior ainda. Desconfio muito de Otavios sem acento.

Como o site VOXCARDS (de cartões virtuais) realmente existe, resolvi ir direto à home page deles, em vez de clicar nos caminhos sugeridos pelo e-mail que eu recebi. Cheguei lá, coloquei o (suposto) código no campo existente para “ler cartão”. Não deu outra.

“Esse cartão não foi enviado pelo Voxcards, foi um spam direcionando para outro site.
Já estamos tomando as devidas providências contra o remetente desse cartão.
Pedimos desculpas pelo transtorno (...)”

Esse povo desocupado inventa de tudo.

Você aí, portanto, desconfie dos Otavios sem acento. E dos com acento também (nunca se sabe)...

***


Frente fria


A frente fria demorou, mas chegou ao Rio. Ontem à noite, saímos do teatro e chovia de verdade.

Não penso que seja inadequado isso de os cariocas odiarem chuva, porque a cidade realmente não combina com tempo feio – embora eu ache que a cor do mar, e até as praias, fiquem muito mais bonitas quando está nublado. Mas isso só eu acho... ou quase só.

Enfim, eu gosto do Rio com “frio” (entre aspas, vamos combinar que 18 graus não é frio).

Jantamos. Na saída do restaurante, o manobrista buscou o carro e embicou na calçada, só faltou entrar pela porta do restaurante para que não nos molhássemos. E ainda explicou:

“Senão, pisa na água!”

Taí, vai bem uma gentileza exagerada. Vez em quando, né?

***

Arma


No centro da cidade, de dentro do táxi (parado no engarrafamento, claro), vimos a cena. 3:30 da tarde. Um PM apontava o cano para um homem, suposto ladrão flagrado, e gritava. Até onde vi, não encontrou nada.

Mas eu tenho um pânico danado de arma. Vontade de sumir quando vejo um negócio desses de perto.

***

Blog maluco


Não sei o que há com este blog – sumiram os espaços para comentários. Espero que se arrume sozinho, porque eu não sei arrumar. Blargh, blog!

26 abril 2005

Auto-ajuda: Teoria 3D

Um dia eu vou escrever um livro de auto-ajuda, já disse. Estou criando uma tese para quem quer mudar de vida, dar a volta por cima, sacudir a poeira – e outras pieguices brônquio-fatais. Vocês sabem.

Trata-se da Teoria 3D. A saber:

D-1: Desejo.
D-2: Determinação.
D-3: Disciplina.

Sem esses três pilares, nada feito. Vou explicar, até porque não sei desenhar.

Desejo é quando você aprecia tanto alguma coisa, que instantaneamente se imagina a possuindo. Não, não vale sacanagem, estou falando sério. É quando você, ao vislumbrar uma situação, agarra-se à idéia de vivenciá-la – como diria meu tio – tal qual merda em tamanco. Não desgruda da sua cabeça. Pronto, você deseja.

Determinação é quando você se convence do desejo que tem. Aí está. Não adianta desejar uma coisa agora, amanhã outra, depois esquecer tudo. Esse desejo é desprovido de determinação, ou seja, vai dar em nada. É pura fantasia – e a gente vive disso também, eu sei, eu sei, mas é material para um segundo livro, e não me desconcentraaaaaa!!

Como se vê, estou determinada.

Terceiro e último. Disciplina. Uma vez desejada a coisa, e outra vez desejada a mesma coisa, e outra vez desejada a mesma coisa – ou seja, uma vez determinado o desejo, é hora de ter disciplina. Isso, diacho, é uma praga necessária.

Toda vez que eu penso nessa palavra – disciplina –, minha memória enfadonha vai parar numa sala de aula de mil novecentos e sei lá quantos, com uma professora de educação artística, feia como um raio e chata com um trovão engasgado, a rugir entredentes (não sei como ela conseguia):

- DISCIPLINAAAAAAAAAAA, TURMA!!!!!!!

Aquilo marcou a minha vida. Disciplina era sobrenome de bruxa, ou apelido do cão que aquela senhora acolhia, carinhosamente, no ventre.

Mas hoje eu sei que não é nada disso. É bem pior.

Brincadeirinha. Good news: disciplina é um monstro que se adestra.

No início, o bicho corcoveia e te olha feio. É assim mesmo, não adianta. Mas a origem está num ato de amor: o Sr. Desejo comeu a Srta. Determinação (ops!, perdão da sacanagem), e da barriga dela saiu uma gosma que vai te perturbar a vida. Ou você encara e amansa a fera (com disciplina), ou vai sair dessa frustrado e mal pago.

Eu sei que “ou vai sair dessa frustrado e mal pago” não é frase adequada para se terminar um tratado de auto-ajuda, e que eu deveria procurar imagens mais inspiradoras e coloridas, como purpurinas ao vento - ou outras pieguices brônquio-fatais. Mas penso que a ameaça da frustração pode ser positiva, sim, sobretudo se vier acompanhada de infortúnio financeiro.

A minha intenção, juro, é incentivar o leitor a largar a preguiça de mão e tomar para si a responsabilidade de domar os bichos que o desejo vai parindo pela vida afora.

A menos, é claro, que ache mais confortável terminar os dias choramingando e apelando para o quarto “D”, que não consta na minha teoria, mas se sabe que é o melhor ouvinte para as ladainhas dos acomodados de plantão.

Deus.

21 abril 2005

Uma chorumela


Vem cá, por acaso vocês recomendam este blog por aí?

Bem que podiam começar a recomendar, né? Puxa, eu podia estar roubando, podia estar matando, mas não: estou aqui, escrevendo honestamente (mais ou menos)... pensa bem, pensa bem!


Outra chorumela


A TV está uma porcaria. Não há nada de interessante para ser visto. E as notícias não animam.

Ah, deu no rádio: subiu o cacetinho.

Calma, nem te acende. A gaúcha aqui chama pão francês de cacetinho. E o que subiu foi o preço dele.

Êêê, mente suja...

20 abril 2005

Enquanto ele lia o jornal eu espiei, de soslaio, e vi alguma coisa sobre o conclave. Na hora:

- É hoje a reeleição do Papa, né?

Dá um desconto, please, eu recém tinha acordado...

***

Pensando bem, reeleição do papa não está de todo errado. Imagina. O papa é uma entidade católica, não é? Quem morreu foi o jota pê. Agora entra aquele alemão, que segue sendo - o quê? - papa. Logo, houve nova eleição do papa. Eleição de novo. Do papa. O prefixo “re” significa... senão, vejamos...

(Fiéis em coro: Cala a boooooca, Bíbi!!!)

Amém, pronto.

19 abril 2005

Anos 80 – back to... quando?

Vou te contar. Tô deprimida com essa onda revival anos 80. Me sentindo uma pré-balzaca-atormentada. Revival não era coisa para Jovem Guarda - ele era o bom, meu carro é vermelho, e que tudo mais vá para o inferno?

Brincadeirinha, vai. Podemos voltar aos 80’s, numa boa. O problema não é esse. Problema é que, em geral, escolhem o que há de pior para representar o que houve de bom naquela década.

Não entendo.

***

A minha pessoa


As pessoas poderiam, de uma vez, entender que “a minha pessoa” de cada um é a própria pessoa – o que libera todo mundo de utilizar essa expressão inútil, de cara. Ademais (com perdão da palavra), é muito mico.

A modelo, na TV, dizendo:

- Eu entendo que, por eu ser filha de pessoas famosas, cobram muito mais da minha pessoa que dos outros.

Aqui, filhinha: podia ter poupado a nossa pessoa dessa pérola, não?

***

Moon


Ele achou três sinais - quase eqüidistantes - no ombro dela, e disse:

- Olha as Três Marias!

Ela, no ato:

- Me acha a lua, então... – e riu, desafiadora.

Ele pôs o dedo indicador entre os lábios dela, e começou e desenhar o contorno do sorriso.

- Tá aqui. Crescente.

Ela fechou bem os olhos. E choveu.

15 abril 2005

E por falar em bobagens que a gente recebe por e-mail, recebi um intitulado “Coisa de gaúcho”, com 100 itens atribuídos ao nosso povo. Fiz uma edição e coloquei meus comentários abaixo, entre parênteses. De uma gaúcha que deixou o pampa há 7 anos, a quem interessar possa...

COISA DE GAÚCHO - Escrito por um carioca.

* Ele comenta com você notícias que "deu no rádio".
(Essa eu, de tanto que uso, não entendi. Não é verdade que as notícias dão no rádio?)

* Quando ele conversa, parece uma briga.
(Viu, amor? Eu disse que não estava brigando!!!)

* Às 6 da manhã, mesmo sábado ou domingo, ele já faz barulho com a "chaleira e o mate".
(Ih, só se for nos meus sonhos...)

* Se é gremista, é anti-colorado.
(Claro! Claro!)

* Se é colorado, é anti-gremista.
(De colorado eu me nego a comentar.)

* Acha Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí as melhores praias do
mundo.
(Isso não é verdade. Todo gaúcho fala mal das praias de lá – e com razão.)

* Tem a bandeira no RS colada na traseira do carro.
(Sim, tenho!)

* Todo mundo tem apelido.
(Bíbi Da Pieve, às suas ordens...)

* Quando neva em Gramado, faz de conta que já sentiu frio bem
pior.
(Xiii, essa macheza eu já perdi faz tempo. Tremo abaixo dos 18 graus.)

* A estrada que vai para o litoral se chama "Free-Way".
(Claro!)

* "Balada" tem conotação a tiroteio.
(Abaixa a cabeça!!!)

* Tomar um "Balaço" é embriagar-se.
(Iiiiiiiiic!)

* Gosta de comer "bergamota" na cama.
(Na cama não, porque o cheiro é muito forte. Bergamota, para quem não sabe, é o mesmo que tangerina.)

* É apaixonado por cerveja Polar.
(Ô, saudade...)

* Não tem a mínima idéia do motivo pelo qual pão francês é "cacetinho".
(Não sei, mas dá para imaginar...)

* Adora passar o dia em Gramado.
(Sim, claro! E o resto do país só não adora porque fica meio caro...)

* Adora chamar os outros de "fiá-da-puta" - cujo plural é
"fiá-das-puta".
(Hehe, verdade verdadeira.)

* Enlouquece quando é chamado de "filho da puta".
(Claro! Porque FILHO DA PUTA é um desaforo, enquanto fiá-da-puta é um carinho!)

* Acha a Oktoberfest de Santa Cruz do Sul melhor que a de Munique.
(Besteira, é tudo igual: alguém se lembra de alguma Oktoberfest, depois do vigésimo caneco de chopp???)

* Parece íntimo de todo mundo.
(De todo mundo, não. Só dos gaúchos. Os cariocas é que parecem íntimos, de fato, de TODO MUNDO!)

* Sabe de cor o "Canto Alegretense”, “Céu Sol Sul” e “Querência
Amada".
(Oba! Posso começar?)

* Vai pra Factory em São Leopoldo, pra não ser descoberto.
(Essa é ótima, porque eu sou justamente de São Leopoldo, e do tempo em que nem havia ainda a – cervejaria – Factory. Realmente, a cidade fica cheia de porto-alegrenses que não querem ser descobertos. E as gurias de São Leopoldo adoram descobri-los...)

* Chama o Metrô de "Trensurb".
(É Metrô, o nome certo do Trensurb?? Bah, tu vê...)

* Os táxis em Porto Alegre são de uma cor indescritível, e não tem
o banco do passageiro na frente.
(São vermelhos-alaranjados-cheguei, ora, cor de táxi. E sabe por que não tem banco do passageiro na frente? Porque o passageiro vai atrás!)

* Já foi no "Ocidente", no Bom Fim, mas nega até a morte!
(NÃO FUI E NÃO FUI!)

* Tem a mania de falar "Buenas Tchê".
(Essa eu não perdi.)

* Acha que as gaúchas são as mulheres mais bonitas do Brasil – e são mesmo.
(Obrigada, obrigada...)

14 abril 2005

Propaganda de uma pousada (para o feriado):

"Tiradentes cai na quinta-feira. Para comemorar, enforque a sexta."

Hoho.

***

Mandei o sofá velho para o estofador. Quinze dias depois, o sofá voltou - novinho, novinho. E vermelho!

Ontem, batia papo no Messenger com as amigas, e não me continha:

- Posso te mandar umas fotos do meu sofá??? Diz que sim...

As pessoas mandam fotos dos sobrinhos, dos gatos, da filha com roupinha de ballet etc. Eu mando do meu sofá.

Fiz um e-book do sofá. Sofá com almofadas. Sofá sem almofadas. Sofá visto de cima. Sofá visto de lado. Sofá com zoom. Sofá sem zoom. Sofá e poltronas. Sofá com abajur aceso. Sofá sem abajur. Modéstia à parte, meu sofá fotografa bem pra dedéu. Ih, abalou.

Esperem só para ver quando eu colocar as cortinas...
Quanta bobagem a gente recebe por e-mail, não? Não agüento mais aumentar o tamanho do meu pênis, por exemplo. E o trabalho que vai dar, depois, para erguer esse monstro do prazer? Haja comprimido-guindaste. Tô fora.

(Está bem que não tenho pênis. Trata-se de licença poética, meu bem).

***

Estávamos no mezanino do restaurante. Lá embaixo, em mesas separadas, dois casais. Brincávamos de adivinhar a idade deles.

- A morena tem 40. O marido, 40 e poucos.
- Tá doida? Aquele cara tem mais de 50! E ela, menos de 40.
- É, ela pode ter uns 39...
- E ele passou dos 50! Lógico! Um absurdo você achar que ele tem 40 e poucos!
- Pode ter 49...
- Mais de 50. Mais!
- Como é que você tem tanta certeza? É porque é meio careca? É porque está grisalho? Nem dá pra ver direito o rosto dele!
- Cabelo branco no braço. Um homem só tem cabelo branco no braço depois dos 50.

É de se pesquisar.

***

TERÇA INSANA

Passando pela sua cidade, não perca. É um grupo de atores de São Paulo (se bem que reconheci sotaque gaúcho em, pelo menos, duas atrizes) que começou fazendo experimentação num teatro pequeno, depois ganhou mais espaço e agora viaja pelo país apresentando os melhores momentos dos quase 300 espetáculos já realizados. É de chorar de rir.

Os (seis) atores também são autores, e a peça consiste em pequenos monólogos hilários – cada personagem retrata um “tipo” da sociedade atual, carregando na ironia, no humor, na maquiagem, no figurino. Tudo é exagerado, e tudo é bom demais.

Para mais detalhes (inclusive agenda), visite o site oficial.

08 abril 2005

Buenos Aires

Então eu fui a Buenos Aires, cidade que eu não conhecia e pela qual me apaixonei, de pronto, assim que saí do aeroporto e um vento geladinho bagunçou meus cabelos. Nota da produção: “bagunça” gera uma sensação-relâmpago de - ooooops, cadê as coisas, cadê eu? -, e o que se segue a isso é, geralmente, friozinho na barriga (mais) disposição para criar uma nova ordem (mais) ânimo (mais) inspiração (mais) excitação. Ou não! – isso depende do vivente.

De qualquer modo, fui muy feliz ao chegar lá, com “bons ares” – captou o trocadilho? - me recebendo antes mesmo de questionar a minha graça. Gracias! - respondo a tudo, até porque não sei dizer outra coisa em castelhano.


E quantas graças!

E por falar nas graças e nas gracias, quantas praças! Buenos Aires é uma grande praça florida com uns pedaços de cidade no meio. Árvores velhinhas, pero enxutérrimas, abraçam os desavisados, aqui e ali, e não se pode escapar do colo dessas vovós verdes – algumas com lindas pulseiras cor-de-rosa enfeitando e perfumando todo ambiente. Muitas, muitas graças a Deus.


Cafés cenográficos

Inventaram a máquina do tempo, e não me haviam contado!

Entrar num café tradicional, bem no centrão de Buenos Aires, é uma roleta com sinal verde para o passado; até parece tudo de mentirinha. As senhorinhas bebendo chá, os senhores com seus petiscos, os garçons mal humorados... pensando bem, tudo combinava ali. Eu é que entrei de penetra. Uma mulher cenográfica num café de verdade – era isso que eu (não) era.


Pecadinhos

Minha-Nossa-Senhora, como se come bem naquele lugar!!! E barato. O número de padarias, confeitarias, cafés e demais lojinhas pecaminosas que exibem, sem vergonha alguma, quilos e quilos de doces coloridos, cremosos e açucarados nas vitrines – eu disse vi-tri-nes! – é algo impressionante. A gula é um pecado inevitável. Com a graça de Deus, pude cometer outros. Amém.


Não é proibido fumar

Em lugar nenhum. E sabe o que os argentinos fazem? Fumam em todos!

Em ambientes pequenos e fechados, inclusive. O motorista do táxi fumava enquanto dirigia. E não usava cinto de segurança. Aliás, nenhum deles usa. E os carros são velhos, muito velhos. Alguns, caindo aos pedaços.

Cruzar a cidade num táxi é ter a sensação de tê-la cruzado a cavalo. A bunda, eu digo.

Ai, que exagero.


Ai, que exagero! – O Tango

São as influências do tango. Que eu já conhecia, claro, e gostava muito – porque, de tango, ou se gosta muito, ou não se gosta nada. Aliás, é primo da nossa velha e boa milonga dos pampas. Mas eu nunca tinha ido a um show de tango. De modo que aproveitei a virgindade e dei logo dobrado: fui a um show só de música, e a outro de dança. Te mete.

Que delícia, o tango! Um exagero de bom. No palco, um bailarino sacode uma mulher de borracha no ar, e segundos depois ela está firme e tesa no chão, a dividir compassos como quem negocia a vida, como quem decide um amor. Me dá um arrepio gelado; o tango é emocionante. Me dá um calorão súbito; o tango é sensual. Me dá uma sensação de força e leveza ao mesmo tempo.

O vôo da mulher de borracha e o pouso da mulher de ferro – a mesma mulher, macia e contundente, frágil e bruta, flexível e fixa.
Me dá uma baita comoção.
...
Me dá o prazer desta contradança?


Língua

Tá bem, todo mundo arrisca um portunhol. A gente sai daqui certo de que vai abafar. Chega lá, babaus: aquele povo fala muito rápido! Várias vezes, tive vontade de voltar a fita. Algumas vezes, de perguntar – TÁ COM PRESSA? Eeeeeu, hein?

Não ia adiantar nada. O argentino não é muito bom ouvinte; assim como não respeita as faixas de segurança no trânsito (aliás, como nós outros), também atropela as suas pobres investidas – si... pero... como? – e segue falando como se não houvesse interlocutor vivo. Sobretudo se a pessoa for meio tímida, como esta que vos fala.

Melhor é fazer como eu. Disse “gracias”, ininterruptamente, e me senti absolutamente segura com as únicas duas palavras que aprendi em espanhol durante a estada – e que foram suficientes para a minha sobrevivência na Argentina. Mas pronunciei sempre com atitude, não raro com o dedo em riste (juro):

- COCA LIGHT!

O quê?? Precisa ver como me respeitaram.

06 abril 2005

Estive viajando desde a Páscoa. Já estou de volta.
Peço desculpas aos leitores mais fiéis, e prometo fidelidade aos mais relapsos. E vice-versa.
Principalmente, pô!

Já volto. Inspiração não me falta. Falta tempo.
Beijocas apressadas.