17 fevereiro 2009

Cala-te, Claro

Meu celular apita uma melodia que interrompe o que estou fazendo para avisar a chegada de “uma nova mensagem”. Aperto o botão “ler” e descubro que tenho 30% de desconto para o show dos bec-strit-bóis.

Quaisquer que sejam os bóis que estejam em turnê pela vizinhança, o fato é que eu não pedi essa informação, jamais demonstrei a ninguém – nem ao Google, que tudo sabe sobre todos – nenhuma ambição ou mera curiosidade em conhecer de perto os tais rapazes, nem por suas músicas, nem suas roupas, géis nos cabelos ou purpurinas, nada, nada. No mundo ideal: eles lá, eu cá. Mas não, não posso, porque o mundo “Claro Ideias” não permite que eu tenha as minhas próprias ideais, sossegada e individualmente, em silêncio.

Perguntinha tola: por que é que meu aparelho (pessoal, que comprei com o meu dinheirinho) produz um ruído jamais solicitado para me informar essa e outras inutilidades? Já imaginaram se, numa sala com 800 pessoas juntas, todos os aparelhos resolvessem avisar a todos os seus clientes sobre os descontos imperdíveis a que cada um tem direito? O que é que me dá o direito de incomodar o direito alheio de não ouvir minhas sobras eletrônicas?

Devo levar a mão à boca e me desculpar?

Eu passo os meus dias lendo, escrevendo e escutando coisas. E não posso ter um aparelho de telefone para (apenas!) falar. Até porque o sinal é péssimo, e raramente consigo fazer ou receber ligações.

PS: Alguém poderia dizer “é só você configurar...”, ao que retruco: por acaso não deveríamos ter que “configurar” a opção contrária – a de solicitar barulhos e mensagens? No meu, começaram a apitar e enviar textos sem a menor cerimônia. E são muitos!