01 março 2003

VOCÊS NÃO ESTÃO DANDO CONTA DE MIM

Estou a mil! Ando escrevendo mais rápido que a capacidade que vocês têm de me ler, hohoho... como diria minha mãe, “te mete!”.
Manhã de sábado de carnaval ensolarada no Rio de Janeiro, eu bebo cappuccino dietético quente para ajudar no clima. É verão nos meus gorgomilos. (Gostaram de “gorgomilos”?).

Não sei o que fazer de almoço, por isso acho que vou comer peixe na churrascaria. Lá tem peixe, sim. Ou comerei dois ovos mexidos, mesmo. Mãe, favor fingir que não leu isso, ok?

Uma coisa confortável de se morar longe dos pais é poder comer ovos mexidos ou um pacote de Cebolitos no almoço, sem ter que ouvir o nome completo uma oitava acima do que seria suportável aos ouvidos.

Meu pai, por exemplo, foi capaz de passar três anos me atormentando a vida porque eu não comia carne – leu em algum caderno de saúde do jornal dominical que me faltaria vitamina B12, e não parava de insistir em que, cedo ou tarde, eu estaria anêmica.

Cansada de tanta ameaça, fui ao médico e pedi: “Quero fazer todos os exames possíveis e imagináveis para saber se estou anêmica, ou melhor, para mostrar a meu pai que não estou. É que não como carne”.

Enfrentei a picada, e passei no vestibular do sangue. Voltei ao médico, que examinou os resultados e ainda me disse: “parabéns, você tem uma dieta invejável, e está tudo bem por aqui. Um dia eu chego lá!”.

Mostrei os exames ao meu pai, e contei do médico. Ele retrucou – “esse médico não presta. Deve faltar B12 em algum canto aí, ele é que não procurou direito”.

Está certo. Se um pai diz que está faltando B12, é porque está faltando B12.

Voltei para casa, certa de que jamais convenceria aquele jovem senhor ariano de que minha saúde andava bem, apesar de eu não comer carne.

Menos de um ano depois, meu papai descobriu-se diabético, e adotou hábitos alimentares mais saudáveis – segundo ele mesmo anuncia, orgulhoso.

- Parei de comer carne vermelha -, ele me afirma, na maior cara-de-pau.

- O QUÊ??? Mas e a B12???

- Ora, a B12 está presente também noutros alimentos, não só na carne!

E começou a me “explicar”, detalhadamente, como eu deveria fazer para não ficar anêmica sem comer carne vermelha.

É pena que ele ainda não tenha descoberto os benefícios do Cebolitos.
COMO tem sido confortável sair pela cidade, agora que nossa governadora cor-de-rosinha tratou de despachar o único bandido do Rio de Janeiro para o interior de São Paulo. Sabe, sinto-me tão segura!

Na MADRUGADA de hoje, por exemplo, vários homens metralharam um ônibus da 1001 que se dirigia à cidade de São Paulo. Eu mesma já tomei esse ônibus algumas vezes; a viagem sempre foi muito confortável, com lanchinho e tudo. Só não havia balas.
Será que, hoje em dia, a passagem está mais cara por conta do chumbo?

Neste CARNAVAL, vou ficar por aqui mesmo, alimentando minh’alma com algum livro velho e tomando porres de leite gelado com Nescafé (sim, eu gosto disso, e daí?).

Quando muito, darei uma voltinha na praia, para não dizer que não falei das ondas. E só.

Não irei ao sambódromo, não saracotearei ao som dos tamborins n’algum bloco carnavalesco, desses que arrastam multidões suadas e embriagadas pelas avenidas da cidade, nem tampouco me renderei à modesta marchinha que, por certo, reinará absoluta nos quiosques do Recreio dos Bandeirantes. Não.

Provavelmente, o máximo da minha folia será uma corridinha no calçadão - providência muito bem cabida em dias de fuga, no caso, fuga das próprias marchinhas, dos quiosques e de banhistas exaltados e desafinados gritando mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero, sabe-se lá com quais intenções.

A meteorologia promete tempo bom, e eu prometo não atrapalhar a festa de ninguém, desde que não venham mexer comigo, que não estou boa. Tenho pensado em voltar a praticar artes marciais, atividade esta que me acompanhou pela infância e adolescência, e da qual tenho sinceras saudades há muito.

Não que a minha adolescência seja uma coisa assim tão remota, bem entendido fique.

Caso é que, munida de meus impulsos marcianos, digo, marciais, ainda mais em tempos de violência urbana tão intensa, confesso que ando mesmo investindo contra meu próprio travesseiro, no intuito de me preparar para eventual combate, nunca se sabe. Penduro o penoso pelo pescoço, digo, por uma ponta, ato ao mais alto local das grades de minha janela, de modo que o inimigo fica ameaçadoramente parado diante de mim, encostado na parede, mais ou menos à altura da minha cabeça.

A partir daí, começo a esmurrar o canalha, digo, o meu travesseiro, e não paro enquanto o infeliz não pedir água. Está certo, ele não pede água. Mas é como se fosse.

Meu treino não tem sido muito intenso, posto que recém estou no início. Coisa de duas horinhas, e me dou por satisfeita. Tende a melhorar.

Portanto, estou avisando. Meu plano é não boicotar a folia de ninguém. Vou dar uma corridinha na praia. Na minha.

Contudo, o primeiro safado que vier com “QUE SAÚÚÚDE!” vai ficar sem a sua.


p.s.: Denise, decida logo o tema, que assim eu tenho o que fazer no carnaval!