27 junho 2004

Buenas!


Nem vou falar aqui do final de Celebridade, porque o assunto já está muito batido. Pronto, esnobei.

Queria agradecer às moças que declararam, nos comments, que vêm aqui atrás de inspiração (Paula e Carol), adorei saber! Imagina, logo eu, que ando tão carente de inspiração nesses tempos bicudos. Aliás, “bicudos” é uma palavra e tanto. Inspiradas, agora? Hoho.

***

Quanto ao Bíbi-Quiz, apareceu por lá gente suspeitíssima... quem são “anônimo” e “gasparzinho”, por exemplo?

A superintendência quer muito saber.

E já imagino a Melissa pensando: “tsc tsc... a bíbi ainda não entendeu que a internet definitivamente não é um ambiente familiar...” (Ela pensa sempre com reticências).

***

Voltei de Campos num ônibus executivo da 1001, desses que deitam o banco bem deitado. Uma mulher grávida veio do meu lado. Ela na janela, eu no corredor. Grávidas precisam fazer xixi toda hora. Quando eu estava começando a esticar as pernas, ela me sorria: você me daria uma licencinha? Eu, muy generosa, dava.

Pensei em trocar de lugar com ela, mas ela se adiantou: “Hehe. Vou pegar minhas coisas e ir sentar lá atrás, fica mais fácil para ir ao banheiro toda hora. Hehe, você sabe (mostrando a barriga). Aí você pode ficar mais à vontade, hehe, pode dormir sossegada. Hehe. Hehe.”

Antes, eu nem tinha me incomodado muito. Mas dei graças a Deus quando ela resolveu pipocar dali assim que percebi o quanto ela era uma pessoa do tipo “hehe”. Desconfio muitíssimo dessas pessoas, e não me sinto nem um pouco na obrigação de dialogar mantendo esse gentileza “hehe” o tempo todo. Tipo da gentileza amarela, forçada, padrão. Hehe. Hehe. Hehe. Toda hora, hehe.

Comigo, não.

Ora, eu prezo muito meus interlocutores - e suas individualidades particulares de cada um -, e não saio dando o meu hehe para qualquer um, não.

***

Algo me diz que acordei com espírito de porco hoje.
E o primeiro que se manifestar dizendo que isso não é digno de nota vai levar e-bomba.

25 junho 2004

Queridas e queridos,

faz uns dias que não passo por aqui...
E hoje estou mesmo de passagem. Vou ali ganhar o leitinho das crianças (em Campos, RJ) e já volto, ok?

Tenham todos um ótimo final de semana, e não percam o último capítulo do Lineu! Eu também não vou perder, uma vez que o show só começa depois que subirem os créditos. :o)

Beijos, fui!

21 junho 2004

Moda-praia o ano inteiro


Tenho pavor de mostrar os pés, e também de conviver com os pés dos outros à mostra. Não devia morar neste balneário. Povo aqui vai ao banco de chinelo, na maior.

Não agarre nojo de mim; faz parte de um processo psi-(alguma-coisa-para-a-qual-eles-sempre-acham-um-nome): quando pequena, cinco ou seis anos, comecei a ter um pesadelo recorrente. Via apenas os pés de um homem, mais nada. Mas sabia que era de um homem mau, muito mau. E aquilo me dava uma aflição horrível.

Cresci rejeitando sandálias, para o desespero de minha mãe, vó Maria e minhas tias: “com esse calorão, de tênis?” – essa passou a ser a frase mais ouvida por mim.

Já crescidinha (13, 14 anos), ouvi, ao sair para uma festinha:

- Filha, a mamãe vai ter que te dizer: não se usa bota no verão. Não tens uma sandalinha?

Mané sandalinha. Eu só tinha um chinelo havaianas, que usava para tomar banho (evitava o choque no chuveiro). Fui de botas mesmo.

Só comecei a usar - e, pior: a comprar! - sandálias depois de dois anos morando no Rio de Janeiro. Aí eu não agüentei mais; muito calor mesmo, e esse negócio de orla confunde a gente. Até para se vestir.

Passei a andar mais à vontade, admito. Lembro que fui ao RS num verão desses, depois de uns quatro anos morando no Rio. Meu pai fez um churrasco e eu desci para comer de short e um mini-top (quase a parte de cima de um biquíni). Minha mãe olhou:

- Que linda! Tá usando menos roupa, finalmente, né?
- É... calorão desses...

Meio segundo depois:

- Tá certo. Mas tu não vais sair na rua assim, né?
- Por quê? Pessoal aqui vai achar ruim?

E ela, suuuuper tranqüila:

- Nada! Só vão achar que tu é puta.

Hoho.


PS: Você já fez o Bíbi-Quiz?

20 junho 2004

ANALOGIA: Com qual celebridade você se parece?


Depois de cinco fotos testadas, consta que eu sou uma generosa mistura de:


Nicole Kidman


Andie MacDowell


Judi Connelli

E você? Passa lá!




19 junho 2004

Bibômetro

Criei um Bíbi-quiz! Dez perguntas e respostas para testar os seus conhecimentos a respeito da minha pessoa.
Tá esperando o quê?

Vai lá!
As coisas do meio


Alguma coisas são poéticas. Algumas, patéticas.

E algumas outras coisas são apenas outras coisas - que não são nem belas, nem feias; nem lindas, nem escabrosas; nem divinas, nem diabólicas. Não podemos jogar a culpa em ninguém, porque não há culpa. Não podemos sequer nos culpar. São coisas do meio.

Dessas coisas eu fujo como diabo da cruz, porque elas me tiram o sono. Diante dessas coisas, que chegam pelo meio, sem fazer alarde, eu me sinto impotente – uma burra farta de pensamento, mas fraca da cabeça.

E não há como desviar. Quando o tiro é silencioso e certeiro, não há esperneio e não há ataque epilético que te livre da bala. Coisas do meio.

Aí nos damos conta de como vivemos pelos cantos, acomodados em extremos, o stress e o relax, o ódio e a paixão. Nossos cantos da vida, os becos, as quinas, confortáveis esquinas da nossa falta de intimidade com o meio. Nossa percepção se acomoda fácil nas vielas; não somos lá de muita expansão.

As coisas do meio são as melodias que não se encaixam. Nos cantos.

18 junho 2004

E Chico faz sessenta



O Rio está em polvorosa: Chico faz sessenta amanhã. Brilhante. Azul. Lindo. E Buarque, ainda por cima.

Se tenho alguma frustração na vida é morar seis anos no Rio de Janeiro e nunca ter interceptado uma caminhadela de Chico no calçadão do Leblon.

Mas dei uma interceptada no site dele e me diverti horrores com a história do Julinho da Adelaide – o personagem que ele inventou para dar uma enrolada na censura. Chico contado (e “Julinho” entrevistado) por Mario Prata, então, é o melhor dos mundos.

Abaixo, o trecho final da entrevista que Julinho concedeu ao Prata, no jornal Última Hora, em 74:

MP - O Chico tem cantado a sua música e tem dado a entender que a música é dele. Ele se refere a você como se você fosse uma figura mitológica.

JA - Não sei, rapaz. Este pessoal que tem o nome feito, pode fazer muita coisa e não adianta eu ficar aqui reclamando, entende? Como eu já disse, eu sou pragmático. Eu preciso dele e ele de mim. Então eu não vou me colocar contra ele como você está querendo. Talvez o dia que eu for mais conhecido eu faça a mesma coisa. As pessoas têm que tirar proveito do que lhe cai nas mãos, não é? O Leonel que me disse isso.

MP - Eu queria que você se definisse, já que usa tanto a expressão pragmática.

JA - Eu não sei. Pra falar a verdade, o Leonel que mandou eu dizer que eu sou pragmático. Quando perguntassem coisa mais complicada, pra dizer isto. Por exemplo: "O que você acha da Censura?" Sou pragmático. Ele falou ecumênico, também. Disse que quando me perguntassem o que eu acho de Cuba, para eu responder que sou pragmático e ecumênico. Senão eu me meteria em complicações. Mas eu não posso definir exatamente como eu sou. Eu sou pragmático, pô!

Leia toda história – e a entrevista na íntegra - aqui

17 junho 2004

Mais Cazuza


Agora falando racionalmente, li e concordei em gênero, número e grau com esta crítica:

“Acompanhando a trajetória de Cazuza desde o início da década de 80 (e sua entrada no Barão Vermelho), O Tempo Não Pára quase naufraga em sua primeira metade, quando, justamente por evitar aprofundar-se na alma de seu protagonista, acaba retratando-o como um jovem pretensioso e mimado que, fruto de um lar excessivamente liberal, dedica-se a ofender seus pais e à auto-destruição. O Cazuza visto neste segmento é antipático e detestável; um projeto unidimensional de 'artista maldito'. Além disso, o fraco roteiro, em sua errônea ambição de retratar um mito, jamais permite que o personagem simplesmente 'converse': tudo o que sai da boca do compositor é lírico - como, se em vez de 'falar', Cazuza apenas 'declamasse'.”

(Leia na íntegra)

Não, não estou detonando o filme. Gostei de ter assistido; é um filme triste e chega a emocionar em vários bons momentos – a trilha sonora do biografado ajuda, e muito, claro. O Daniel Oliveira dá um show, isso é incontestável.

Mas há muito a ser contestado, e o crítico do site Cinema em Cena, a meu ver, vai com precisão cirúrgica às, digamos, pisadas de bola que o filme dá.

A primeira coisa que me chamou atenção foi justamente a impressão de que o Cazuza devia ser um mala. Garotinho mimado, rebelde sem causa, revoltado e egocêntrico – além de pernóstico e inconseqüente. E se torna chato, muitas vezes, ao interromper o que seria o ritmo normal de uma conversa para pinçar, como que do “mundo mágico das inspirações”, frases poéticas nem sempre cabíveis no momento, soando um discurso vazio e pretensioso.

Parece que a Lucinha Araújo não acha isso – se fosse meu filho, eu não ia gostar nada de um roteiro que retratasse o cara desse jeito. Mas, como o filme é baseado no livro da própria mãe, está tudo em casa.

Outra coisa que me chamou atenção (e isso não consta na crítica acima) foi uma certa esnobada no Frejat. Além de ter poucas falas, fica parecendo, em alguns momentos, que ele era o bundão da história. Que não estivesse preparado para a genialidade do Cazuza - verdadeiro artista/poeta/astro - e, por isso, tivesse ficado comendo poeira quando o cantor decidiu sair do Barão. Pelo pouco que sei da história, acho que não foi bem assim.

Por fim, a cena em que ele descobre que está doente realmente merecia ao menos uma preparação para que o espectador entendesse que ali viria chumbo grosso. Do jeito como é colocada, no seco, o que poderia ser uma bonita comoção acaba virando uma espécie de susto de mau gosto – como quando alguém chega por trás e: “BUUUUUU!”.

16 junho 2004

Cazuza





Vocês já viram?

Eu vi ontem. Chorei em bicas.
Vida louca, vida...

15 junho 2004

O Rio Grande se cobre de gelo

Nostalgia capilar


Ando com saudades do meu cabelão desgrenhado, pontas duplas, politicamente incorreto e esteticamente questionável.

No dia em que cortei um naco considerável das minhas madeixas, até comentei com todo mundo, estava feliz de ter cedido ao moderno e ao apelo de minha mãe, e tias, e comadres, e amigas que olhavam meio torto, como se quisessem endireitar um quadro na parede, sabe quando incomoda? Podia repicar aqui, ali, dar um volume, um jeito, um corte – sugeriam, enquanto eu pensava no quanto de vida escabelada elas também tinham, e não faziam escova, mas não seria eu a chata de ficar lembrando, com meu bafo quente de secador elétrico, inútil, inconveniente.

Está bem, eu disse. Depois de muito tempo, mas disse. E fui ao salão com uma frase decorada: “eu queria dar um volume, um jeito, um corte...”

E veio a moça, acredite, com uma pá de revistas especializadas de cuja existência eu nem sabia, e cuja utilidade até admito que exista (não sem apertar os beiços, assim, do meu jeito, vá lá, mas admito). Pus os olhos naquelas variadas beldades, metade de horário nobre, metade nem tanto, mas todas muito ajeitadas, de fios colaborando com rosto e corpo e riso e pose e tudo, tudinho em harmonia e concordância. Quanta beleza para eu escolher ser!

Fiquei verdadeiramente empolgada, isso não posso negar. Tive de esconder o riso infantil que me soltava os beiços numa hora que até era para algo, mas não era para tanto. Não para as outras, com aquelas caras emolduradas. Não para as outras, com aqueles cabelos assíduos de tesouras e tinturas; não para elas, habituadas aos catálogos de bocas e unhas, outono, inverno, primavera, verão, quadradinha, francesinha, entra franja e sai franja etc. Não para elas.

Para mim, unidunitê, as moçoilas das revistas me sorriam, quem eu seria, quem eu seria, unidunitê, eu me divertia, eu escolhia, todas me olhavam, apreensivas, quem eu seria, unidunitê - e eu me lembro muito bem de quando, enfim, elegi aquela por quem metade do meu rabo iria pelos ares:

- Camila Pitanga!

Depois desse veredicto, o que se viu foi um misto de horror e excitação: Alice no país das beldades fashion. Eu queria acreditar, a cada sonora tesourada, que o resultado seria, não justo, não apenas adequado, “um volume, um jeito, corte”, mas um must: estupendo. (Exclamações).

Quando muito, ganhei um ar mais jeitoso. (Reticências).

Nem guardei o rabo morto que a moça me ofereceu, solícita, ao final da tosquia. Mas guardo uma saudade imensa daquele tempo de fartura capilar desgovernada, démodé, quando eu era ponto de referência, aquela morena do cabelão, e havia sempre o pretexto para a cantada: nossa, dá muito trabalho para cuidar? Dava nada.

Guardo saudade, e até me arrependo um pouco de ter feito mau juízo dele nalgum momento. Que o meu cabelão já ia lá na bunda, sim. Mas, poxa, era com todo respeito.

13 junho 2004

No ICQ

- E o teu blog, menina! Que loucura, hein?
- Loucura?
- Sim! Tem que aparecer mais por lá, ou vai haver uma revolução...
- Revolução??? Mas eu fiquei só DEZ DIAS sem postar! Dez dias!

-(ela, profunda): "Onde dois ou mais estão reunidos em teu nome... lá TU TENS QUE ESTAR!” Já dizia... sei lá, Jesus.

Hoho. Tão tá, né.

Mais tarde, no telefone

- (ela, se despedindo): Então tá, né. Te cuida. E te anima! Pô, é São João!

- É mesmo! Ah! E hoje é Santo Antônio... dia 13, n'é não??

- (Ela, puta): Ah, eu sei lá! Aí já é muito santo pra mim!


É. Quando a esmola é demais...
Ilusões

Quando não se precisa de aperto de mão
- é quando as mãos estão mais próximas.
Quando dispensamos tudo aquilo que se usa dizer antes, dizendo só o mínimo
– é quando dizemos mais.
Quando não fazemos jogo algum
– é quando marcamos os melhores pontos.
Quando nos soltamos sem medo da queda
– é quando voamos mais alto.
Quando nos distraímos dos cálculos
– é quando somamos mais.
Quando nos livramos de nossa própria culpa
- é quando somos desculpados.
Quando temos a intenção de dar um abraço
- é quando ele já foi dado.
Quando questionamos se algo tem graça
- é quando a graça já foi embora.
Quando ponderamos sobre alguma emoção
- é quando ela não é mais emoção.

E, por fim: enquanto pensamos no café da manhã seguinte –
é quando o presente nos é dado, agora, de bandeja.
Duas e meia da madruga

Acabei de ler O ponto cego - Lya Luft, 1999.

Quem é que lê Lya Luft e consegue manter o pensamento quieto logo em seguida?

Vim dar uma relaxada, uma digitada, uma blogada básica.
Sossegar os miolos.
Tenham um bom despertar, queridos. Fui.

12 junho 2004

Sentiram a minha falta, foi?
Hoho. Tô de volta.

Depois de dez dias sem postar nada aqui no blog (um tempo razoável, sim, mas eu andei acostumando mal vocês!), por motivos que não tenho saco de relatar, cá estou.

Fez calor no Rio de Janeiro nesses últimos dias. Uma gosma insuportável voltou a pairar sobre a cidade, e o suador nas filas, e senhoras gordas apertando sacolas nos ônibus, e adolescentes em pânico com a oleosidade dos cabelos, sol e um vento morno nas nossas moleiras. E eu rezando, Deus, como eu rezei para que uma nova frente fria, ainda que desbotada e enfraquecida, voltasse a refrescar minhas idéias mofadas.

Enfim, parece que hoje veio. Amém.

***

Pleno dia dos namorados, o destino quis assim: minha tarde foi de uma limpeza meia-boca na cozinha (estou entrando em pânico com esse piso branco, abafa), jornais, revistas, baixo e violão – mas sem cantoria, que estou com a goela inflamada outra vez.

Nada digno de relato, como diriam Aninha e Melissa, a nova dupla sertaneja que se formou a partir deste humilde pergaminho virtual (talvez a única que cante em uníssono, mas tudo bem). Nada de romântico. Nem uma rosa, nem um Sonho de Valsa sequer, nem mesmo um celular para falar, durante um centavo, a um ano por minuto. Ou seria, durante um minuto, a um ano por centavo? Não sei, é tanta promoção, acho que nem eles sabem direito.

***

Por falar em celular: que coisa mais querida aquele garoto que faz propaganda da Claro! Tem dois: um é mais “bonitinho” (e mais loirinho, com jeito de modelo, e é mesmo), e o outro – o mais “feio” – é o meu preferido. Olhinho caído, sorriso carismático, que gracinha em forma de garoto-propaganda! E, o melhor: com jeitinho de gente que você encontra na rua.
Mas ainda não dei a sorte.

***

Momento Celebridade: fajutíssima aquela cena da “briga” entre Eliete e Nelito; mal bolada, mal escrita e mal dirigida. Não fossem ambos ótimos atores, teria sido ainda mais patético.

E Lavínia Vlasak, pelo que entendi, perdeu o encaracolado Marquinhos Palmeira e ainda continua lambendo o chão que ele pisa, é isso?
Tem base...

Em tempo: eu não quero saber quem matou o Lineu, nem me interessa. Acho que isso, na trama, é só um mero detalhe. O legal dessa novela foi a parte divertida e o show de alguns atores; as maldades do Renato Mendes e da Laura etc. Quem matou o Lineu? Nem o Gilberto Braga sabe, oras! Fica fazendo mistérios mil, libera na imprensa um final diferente a cada semana para esquentar o tititi, faz o elenco inteiro parecer suspeito para, no fim, decidir por qualquer um.

Alguém ainda fica brincando de “adivinhar” o assassino, levando em conta as “pistas” do autor?

Não. Isso era no tempo das novelas bem tramadas e argumentadas, antes do efeito IBOPE...

02 junho 2004

Casamento aberto

Nosso baterista vai tocar hoje à noite na Far Up, detalhe: com a outra banda dele. Você vê como são as coisas hoje em dia. Casamento aberto. E nós, os “outros”, vamos lá conferir a pulada de cerca. E ainda vamos pagar pra entrar.

É o fim.


O primeiro Orkontro a gente nunca esquece

Vocês sabem o que é o Orkut, né? Eu estou lá há pouco tempo, e freqüento uma comunidade do meu bairro. Pois, segunda-feira, marcaram o primeiro “orkontro oficial da comunidade”. E eu fui.

Pena que choveu de assustar carioca, mas, ainda assim, saí no lucro: conheci dois vizinhos-gracinha, batemos papo num barzinho até os garçons nos varrerem porta afora. Ambos moram a poucas quadras da minha casa.

É engraçada a sensação de conhecer gente que pode ter cruzado o seu caminho na fila da padaria, no postinho ou na praia, e ninguém nem tchuns. Aí, por um mero esbarro virtual, você acaba dividindo a conta com esses caras na vida real.

A sensação que ficou, pra mim, foi de uma camaradagem instantânea – até porque o Recreio é um bairro afastado da zona sul, todo mundo que mora aqui se sente um pouco “out” do Rio de Janeiro (o que, concordamos em uníssono, é mais vantagem que desvantagem. Mas é claro que tudo tem os dois lados). Então a gente acaba sentindo um certo alívio de conhecer gente boa que mora perto. Sabe como é, pedir uma xícara de açúcar.

Além disso, na Barra e no Recreio (os dois bairros são colados, sendo que o Recreio é ainda mais longe da zona sul), você precisa de carro para fazer tudo. Claro, você até pode andar a pé; mas, como são bairros enormes, as distâncias entre um banco, uma academia e a sua casa, por exemplo, certamente não caberão nas suas pernocas.

Isso faz com que a gente se sinta mais isolado, de certa forma, por andar sempre preso àquela cápsula com insul-film, evitando sinais fechados e qualquer contato com algum ser humano que se aproxime – por motivos óbvios. Coisas das grandes cidades, e, cada vez mais, das pequenas também.

Já dizia a minha mãe (tão badalada aqui no blog, arroz-de-festa insaciável do meu diário virtual, adivinha por quê?): “o bom desse negócio de internet é quando a gente conhece pessoas de verdade”. Sim, porque, por mais que você tenha um rio de afinidades com aquele amigo virtual, ele ainda não é uma “pessoa de verdade”. Não antes de vocês se conhecerem no mundo dos toques, dos ares e dos sabores.

Resumindo, a tecnologia pode até ser um barato, mas o mundo de verdade ainda requer pessoas de verdade. Ainda bem.


A relação deste blog com o meu irmão

Meu irmão nunca lê o blog. Vocês devem reparar que eu sempre falo sobre ele aqui. Pois é, ele nunca lê, mas sempre sabe de tudo.

Chega em casa, exausto, e a minha cunhada senta aqui e lê tudinho pra ele. Ele fica resmungando lá do sofá, recostado, volta e meia ouve-se um grunhido entre uma frase e outra:

- Hmmmrrrssnn... (contrariado, sempre).

Se estou aqui pela sala, pergunto:

- O que foi? Não gostou?

Ele faz um bico torto, e torna a manifestar qualquer coisa que não se entende, mas com a propriedade de quem questiona a burrice da pessoa que não entendeu. Tanto, que a gente até fica na dúvida.

- Hein? Falou o quê?

Ele emburra:

- Tu só me usa pra fazer piada aí... (beiço)

De modo que quero manifestar aqui - como se já não fosse público e notório – minha admiração pelo menino que vive comigo há 26 anos, portanto, desde que vim ao mundo. Aliás, por esse homem que é meu irmão (se digo menino, ele se chateia; se digo homem, se chateia também: estou tentando um equilíbrio), que me ensinou a ler e a escrever, sempre com ênfase na difícil tarefa que era, para mim, identificar qualquer palavra que começasse com “B” como sendo outra que não – afinal - “Bibiana”.

Foram muitas bananas, batatas e biancas, até que ele me fizesse entender que não se deve julgar o livro pela capa, a pessoa pela cara – ou a palavra pela primeira letra. Aprendi a ler.

Isso sem falar na lição do perdão, que ele sabiamente me ensinou após o fatídico episódio do ferrinho - um palito de ferro que eu, injuriada por uma tolice qualquer, cravei sem piedade no dorso da mão dele. O feito até hoje se conserva muito visível, embora eu não me orgulhe disso, sob forma de uma cicatriz em forma de, bem, em forma da minha crueldade infantil. Perdoável, perdoável.

Por essas e outras, tenho em minha casa um guru, ao menos a julgar pela premissa básica de todo gênio: a incrível capacidade de expressar sua verdade de forma peculiar. Tão peculiar e misteriosamente incompatível com nossa pobre maneira de entender quanto o indecifrável:

- Hmmmrrrssnn...