28 dezembro 2004

Grosso mesmo


Essa é da coluna do Ancelmo Gois, no Globo de hoje. Diz que uma churrascaria do Méier espalhou pela cidade um outdoor com a seguinte pérola:

“Você come o lombo e nem precisa mandar flores depois.”

E outra:

“Maminhas suculentas sem uma gota de silicone.”

E o nome da churrascaria: Sal Grosso.

***

Tum-tum no peito


Minha amiga não sabia identificar o som do baixo, e me pedia ajuda. Ajudei: o som do baixo é aquele que a gente sente no peito, o grave, tum-tum...

Ela aprendeu tão bem que, anos depois, casou-se com um excelente baixista carioca.

E vivem felizes para sempre. Porque o amor é assim; uma coisa gravíssima e cheia de escalas (mas a gente se diverte mesmo é no improviso).

24 dezembro 2004

FELIZ NATAL



Aos leitores fiéis (e aos infiéis!) deste blog, e a todos que passarem aqui por acaso, um ótimo Natal - cheio de paz, amor e inspiração!

Beijos da
Bíbi

23 dezembro 2004

Ho Ho Ho & as batinhas do verão


Muita chuva na cidade. O Barrashopping, na véspera da véspera, abarrotado daqueles que deixam(os) tudo para a última hora. Comprei coisinhas rápidas, que funcionam.

Dei uma olhada nas lojas, que ninguém é de ferro. Batas e mais batas. As mulheres agora só usam batas. As mulheres se acotovelam por batas baratas. Batas de malha, batas tomara-que-caia, batas brancas para o reveillon, batas com nós, flores, frufrus e afins. Batas pontudas, batas transparentes, batas sensuais, batas, batas.

No meu tempo, bata era roupa de grávida.

Nada, nada mesmo contra as batas. Até tenho algumas. Eu tenho uma bata tomara-que-caia, preta, com uma borboleta prateada bordada na frente. Quer mais?

Eu uso.

O problema das batas de hoje foi o seguinte: andei, andei, andei e não achei nenhuma que me inspirasse. Até que, já quase desistindo, avistei lá no canto de uma vitrine a minha batinha do coração - a que me conquistou, vupt!, certeira, implacável. Eu era dela.

Não sei explicar. Era fashion, coloridona, amalucada e tinha um corte ousado. Uma bata moderna e romântica ao mesmo tempo. Vermelha, puxando para o borgonha. Daquele tecido que parece que já vem amassado - e vem mesmo. Um show de bata.

Babando, fui pegar na etiqueta para conferir o tamanho. E conferi. O tamanho do rombo no meu bolso: R$ 260,00!

Na vitrine estava, na vitrine ficou. Bem feito; é para aprender a não quebrar o coração dos outros.

Como diria uma amiga: Eu, hein? Com R$ 260 eu compro um marido!

***

Espeta um broche!


Ah, sim, e agora deram de usar broches de novo. Que é chique. Tá com uma blusinha básica? Espeta um broche, que vira descoladérrima na hora. Cria um look!

E a ala-sem-talento - cá pra nós -, como é que faz? Sim, porque até para espetar um broche numa camisa branca há que se ter um certo talento.

Estive hoje com meia-dúzia de broches na mão. Pareciam lindos, depois pareciam sapos fantasiados para o carnaval, depois pareciam lindos outra vez, depois... saco!, eu não saco de broches. Nem de sapos. E muito menos de carnaval.

Larguei aquilo tudo no balcão e saí correndo, ninguém entendia. Fugi dos broches como diabo da cruz. E uma vozinha na minha cabeça repetia o texto de uma estilista de sapatos (eu disse sapatos!), outro dia na TV: “É só saber brincar! Olha essa sandália, sem o broche, e agora com o broche. Você tem duas sandálias em uma!!!”.

Estão espetando broche em sandália, e fazendo virar duas?

Aaaai, que saudades do tempo em que não se precisava pensar muito... porque a Melissinha já vinha com a pochetezinha, e estava tudo assim resolvido.

19 dezembro 2004

Vestido

Mariana elegeu um vestido
e saiu pela rua
Não tinha caminho
Não tinha destino
Mas tinha o mais importante
Ora, o vestido.

Mariana chegou na esquina
E de vestido sorriu
Rodado
E de vestido sonhou
Florido
E de vestido amou
Rendado.

(Isso que ela só tinha ido dar uma voltinha)

18 dezembro 2004

Webwriters Brasil

Acabo de saber que saiu um editorial, no site Webwriters Brasil, a respeito de como entrei na revista Época. Agradeço ao Alex Gennari, autor do texto, pela lembrança e gentileza.

A chamada de capa começa assim:

No editorial de dezembro, o Webwritersbrasil elege uma nova escritora como ícone na luta de novos autores (webwriters, roteiristas e escritores) por espaço nos grandes veículos de comunicação e editoras: "É mais fácil um editor podre de rico chegar ao reino dos céus do que um novo autor brasileiro conseguir espaço na mídia e no mercado editorial. Dizem que a justiça divina tarda, mas não falha. Pois a justiça deu o ar de sua graça no reino dos homens no último mês de agosto, protagonizando um singelo conto de fadas na literatura brasileira."

Quem quiser conferir a matéria na íntegra, clique aqui.

16 dezembro 2004

Meio cafona

É sempre assim. Chega essa época do ano, a cidade fica perua. Luzes, laços, fitas, bolinhas, arranjos – tudo junto, gritando. Reparou, não?

Até tolero esses supershoppings com mania de grandeza; ali a cafonice brilha e ofusca, mas é por uma boa causa: o consumismo desenfreado, claro. O que não pode é ser “meio” cafona. Isso é pra matar. Aqueles estabelecimentos de médio porte, que já não vão lá muito bem das pernas, e resolvem improvisar uma luzinha aqui, um brilhozinho ali – tipo da coisa que, além de não fazer efeito, faz defeito.

Quando chega a noite, o prédio some, e o que se vê é aquela precariedade natalina; mistura de muita boa vontade com pouca grana, você sabe no que dá.

Eu aqui não providenciei um sino sequer. Mas, a julgar pelo texto, vê-se que estou ficando com inveja.
(Pausa para reflexão).

Comprar umas bolas ali no Carrefour, e já volto.

***

O motivo da cobradora

A cobradora do ônibus - loura mel, penteado equivocado, sobrancelha grossa, unha lascada – ria fora de hora, e ria solto. Quanto é? Ela ria. Quer 20 centavos? Ela ria de novo. Passa no Barrashopping? Ela ria e confirmava, passava.

Sentei dois bancos atrás e fiquei observando, curiosíssima. Chegava a lhe escorrer um doce mistério qualquer pelo meio dos dentes; e sorria, a danada, como se ostentasse uma piscadela cúmplice a si mesma.

Não demora cinco quadras, entra no ônibus um negão de quase dois metros. Afoito e visivelmente alegre, dá dois pulinhos na direção da cobradora e tasca aquele beijo babado de novela; deixa a mulher sufocada e o povo todo besta, olhando. Salta no próximo ponto, a meio quarteirão dali, como se nada tivesse acontecido. Pela porta da frente.

Agora ela ria mais ainda, e o motivo estava bem revelado. Pois o negão trajava bermudas.

15 dezembro 2004

De volta

Minha pretensão e eu esperamos que você não tenha desistido de visitar este blog, mesmo depois de tantos dias de ausência de post.

Isto post, quero agradecer a todos que me mandaram e-mails, recadinhos no Orkut, cartões virtuais, e que deixaram mensagens nas secretárias eletrônicas me felicitando pelo aniversário. Obrigada, obrigada!

Um amigo me telefonou um dia depois:

- E aí? Como foi de aniversário?
- Foi tudo tranqüilo...
- Ah, coisa bem boa. Envelheceu tranqüilamente, não foi?

E tem outro jeito?

***

Reflexão de fim de ano


Esse ano eu adquiri uma hérnia de disco, tive alguns resfriados fortes, rompi os ligamentos do pé direito – além de algumas pequenas doenças paralelas. Nunca visitei tanto médico nesta minha vidinha ordinária.

Portanto, gostaria de sugerir à indústria farmacêutica que criasse uma espécie de colírio diet ou light. Não pra mim, of course, mas para pingar nos olhos gulosos dos que nos cercam. Ia vender horrores. Já posso imaginar, no programa do Leão Lobo, a seguinte chamada:

Acabe de vez com a obesidade ocular do seu vizinho. Colírio diet nele!

Um sucesso, você não acha?

***

Menos uma, menos duas...


Eu falo mal de dezembro, mas sou chegada a um planinho de fim de ano. Anoto tudo num caderno - vou praticar exercícios físicos, boas ações etc. Nunca me ocorrera antes, mas, olha, pode dar certo: que tal virar uma personal-atravessadora-de-velhinhas pelas ruas da cidade?

Assim eu mato dois coelhos. E algumas velhinhas, claro (não sei atravessar a rua nem sozinha, que dirá conduzir alguém).

***

É verdade, tenho fama de não saber atravessar rua. Como meu irmão me dava a mão quando eu era pequena, acabei concluindo que aquilo de olhar para os lados era função dele, não minha. Depois que ele largou a minha mão, um anjo deve ter assumido o cargo. Só pode. Ou eu não estaria mais aqui.

Frase da minha mãe, semanas atrás, ao notar minha cara de desesperada diante dos carros numa avenida movimentada:

- Cruzes! Tu AINDA não aprendeu???

Taí mais um plano para 2005. Nunca é tarde.

20 novembro 2004

Crença

Acredito no amor
Porque já houve noites
Em que me suspirei inteira
E me acordei metade.

Acredito na vida
No sonho, no sexo e na arte.

Só não acredito em deus
Porque aí já seria muita coincidência.

***

Lago

Afoga logo um termo
Pra ver se vira verso
Submerso azulejo
Haja metro,
Haja metro.

Afunda logo um beijo
Pra ver se vira sexo
Submerso desejo
Haja metro,
Haja metro.

Nunca dá pé
o amor raso.

Afoga, logo.
Afunda, lago.

16 novembro 2004

Engorda, logo!

Passava da meia-noite. Eu traçava, sem culpa nenhuma, um sanduíche de salmão defumado com cream cheese no ciabatta. Louca de fome que estava, comia com necessidade de mendigo e prazer de rei. Uma loucura.

Até que a garçonete simpática não se agüenta, e se aproxima:

- Hehe... tem dia que bate aquela fominha, e a gente tem mesmo é que comer alguma coisa que engorda, né? Senão nem tem graça, né? Hehe. Se vai comer na madrugada, pra quê comer light? Tem que engordar, mesmo! Engorda, logo!

Sei. E você tem noção do quanto eu malhei hoje? Sabe o que eu almocei? Sabe o que eu jantei? Tem aí as minhas medidas? Sabe o meu IMC de cor? Conversou com o meu médico? Vasculhou a minha genética? Sabe onde eu acumulo gordura, onde não acumulo? Tem noção de quantas calorias tem nesse prato? Sabe se eu vou a pé de Ipanema ao Recreio, depois que terminar essa orgia gastronômica? Sabe? Sabe?

Não disse nada disso a ela, claro. Apenas consenti e engordei, conforme o sugerido.

Volto lá, não.

***

"Peço a todos com licença
Vamos liberar o pedaço
Felicidade assim desse tamanho
Só com muito espaço"

[Luiz Tatit]

***

Tempo/Vida
[Viviane Mosé]

“Eu acho que a vida anda passando a mão em mim
Eu acho que a vida anda passando a mão em mim
Eu acho que a vida anda passando
Acho que a vida anda passando
Acho que a vida anda
A vida anda em mim
A vida anda
Acho que há vida em mim
Há vida em mim
Anda passando
Eu acho que a vida anda passando
A vida anda passando a mão em mim
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Se bem que já faz tempo mas eu escondia
Por que ele me pegava à força
E por trás
Até que um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo, se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Eu acho que eu ganhei o tempo
De lá pra cá ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando...”

***

Coisa de gaúcho

Diz-se do sujeito que anda desnorteado:
“Mais perdido que filho da puta em dia dos pais”.

Hoho, boa.

***

Riso

O riso solto é um boi esbelto, atlético, quase olímpico, que se foi. Com a corda.

13 novembro 2004

Conhece a do macaco?


Eu não sou boa nisso, mas vou contar uma piada. É velha, tá?

O sujeito viajava de carro, de madrugada, sozinho. A estrada era vazia, zona rural, nada de civilização. Tudo escuro. De repente, fura o pneu.

O cara desce do carro e começa a procurar o macaco; e nada do macaco. Bate um desespero: estou sem macaco, meu Deus, e agora?

Olha em volta, avista uma fazenda com uma casa de madeira ao fundo. Pensa em bater lá e pedir um macaco emprestado, claro. E começa a andar em direção à casa.

No caminho, vai resmungando: “Que azar o meu, furar o pneu no meio desse fim de mundo e ficar sem macaco. Sabe lá quem é que mora nessa fazenda, também... Garanto que o fazendeiro não vai ter um macaco, ou, se tiver, não vai nem querer me ouvir... afinal, um forasteiro batendo à porta no meio da madrugada... vai é me receber a tiros, isso sim... Capaz de eu morrer furado, ou então a pancadas mesmo. Duvido que esse cara tenha um macaco. (E vai se aproximando da casa). Duvi-de-o-dó! (Chega perto). Fazendeiro chucro desses, vai nem saber o que é um macaco... (Bate à porta, enfim).”

Nisso, abre a porta um doce senhor, que pergunta: “Pois não?”

E o viajante responde, no embalo:

“AH, QUER SABER? ENFIA O MACACO NO *$&@#&$¨!!!!!!!!!”

***

Eu acho essa piada muito ilustrativa.

Às vezes, a gente passa dias, semanas, meses, anos pensando na falta do macaco. E resmungando com os próprios botões. Ninguém sabe que a gente sente falta do macaco. Ninguém sabe sequer que o pneu furou. Ninguém sabe que estamos viajando na madrugada escura, talvez.

Lá pelas tantas, quando já estamos prestes a explodir, aí é que resolvemos colocar uma pobre vítima no roteiro. O fazendeiro, coitado, não sabe de nada. Abre a porta no maior carinho, mas aí já é tarde. Vai ouvir desaforo, e de graça.

E xingar o fazendeiro não resolve absolutamente nada.

***

Filosofia de piada. Valha-me Deus.
Não sei como vocês me agüentam.

12 novembro 2004

Agora eu estou com internet banda larga e vocês vão ter que me engolir on line 24h por dia que beleza de vida escrever mais no blog acesso rápido linha telefônica livre e-mails pulando na minha caixa postal a cada minuto sites carregando - ploft – arquivos baixando – ploft – eu aqui lendo comentários de vocês e respondendo – ploft – corra Bíbi corra que maravilha tecnológica meus bichos sendo saciados é como se antes eu bebesse água de conta-gotas e agora estou bebendo direto do gargalo.

Assim que eu gosto.

***

Falar em gargalo

O garçom do restaurante foi me servir de cerveja e inclinou o copo com o gargalo – sabe como eles fazem, né? Pra quê: eu dei um pulo e me grudei no copo com as duas mãos, tipo ‘vai cair esta merda, ô!’...

Risadas gerais. Caaalma, Bíbi!

Calma nada. Calma era no tempo do conta-gotas.
Agora é fiasco banda larga, ninguém me segura mais.

***

Placa do dia

“VENDE-SE ESTE
RCO”


Perguntaram o que, afinal, era o tal RCO.
Resposta:

“RCO??? Sei disso, não. Olha, moço, nós aqui vendemos esterco...”
Tava explicado.

***

Vem cá, qual é a idéia do Lulu Santos com aquele cabelo, digamos, meio crescido – para cima?
Algumas coisas me assustam um pouco.

***

Meu irmão traz na mão uma cicatriz que ele jura ter sido causada por uma espécie de palito de ferro que eu teria cravado – a palavra que ele usa, imagina – ali, entre o polegar e o indicador dele. A cada encontro com alguma pessoa nova nas nossas relações, ele acha uma oportunidade e relata o feito. Como ele pensa que ocorreu, claro.

Na verdade, eu apenas arremessei o ferro em direção à mão dele – que estava parada. Então ele se distraiu, sei lá, mexeu a mão, o ferro pegou um vento e se animou, a mão de lá, o ferro de cá, o ferro indo, a mão vindo, algum fenômeno físico que não sei explicar, pronto, resumindo: o ferro entrou na pele dele e, vá lá, furou um pouco.

Mas foi a mão, poxa, não foi o olho.

08 novembro 2004

Sagitário

Sabe aquelas frases que ilustram a personalidade de um signo?
A minha eu nunca esqueci.

Diz que o sagitariano está andando em linha reta, convicto, decidido, o passo firme, o olhar certeiro. Todo mundo que está em volta se admira: nossa, olha só a determinação do sagitariano! Onde será que ele vai?

Até que alguém , morrendo de curiosidade, resolve perguntar:

- Sagitariano, desculpe me meter, mas... onde é que você está indo, com toda essa determinação?

E ele, casual:

- Hein? Ah... tô só atravessando a rua mesmo.

***

Eu sinto a mesma coisa quando alguém me ouve falando e comenta:
“Nossa, mas ela tem um vozeirão, né?...”

Fachada, meu bem. Pura fachada que Deus me deu.
Não mato uma barata.

***

Placa do dia (verídico)

“AQUI VENDE PEIXE-SE”


***

Tédio – mas nem tanto

Um tédio colossal nos atormentava neste ordinário domingo chuvoso. Um olhando pra cara do outro. Cada qual leu o jornal e a Época três vezes. O telefone simplesmente parou de funcionar. Nossa conexão com a internet, ainda discada, babaus. Fiz comida. Comemos. Comemos mais. Comemos outra vez. Sair não resolveria – domingo chuvoso, imagina a fila dos cinemas. DVD? Já vimos todos os lançamentos. Comemos mais um pouco, então.

Saio-me com a seguinte reflexão:

- Puxa vida... a gente aqui, nesse tédio. Veja só, se nós fôssemos sócios de uma dessas academias de bacanas, essas que parecem clubes, poderíamos estar, numa hora dessas, malhando... sei lá...

E ele franziu a testa.

- É verdade. É para a gente ver como as coisas poderiam ser piores. Bem piores.

- Ô, nem me fale...

E comemos outra vez. Graças a Deus.

07 novembro 2004

O telefone toca às 2h da manhã:

- Eu te acordei?
- Não.
- Não mente...
- Não!
- Não mesmo?
- Não, pô!
- E O QUE È QUE VOCÊ FAZ ACORDADA A UMA HORA DESSAS?

Depois, a mulher é que é um bicho complicado.

***

E a resposta:

“De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo”
...
[Vinicius de Moraes]

***

Diquinha Biblog do tipo auto-ajuda

Sabe aquilo que você anda remoendo?
Em vez de remoer, passe a remover.
Tiro e queda.

***

Você sabe que essas pessoas que trabalham com a escrita não são muito certas da cabeça. Eu outro dia acordei, no meio da manhã (imagina), com uma frase “genial” estourando na mente. Anotei no caderninho - isso aqui dá crônica, ou poesia, sei lá.

Quando acordei e fui conferir, era uma bosta de frase.
Dava insônia, e olhe lá.

***

Tinha uma mulher com saia pelo joelho, sandália fina, cabelo impecável, blusinha delicada. Sentada elegantemente, pernas cruzadas, comia uma salada e bebia água mineral.

Sentei atrás dela.

Quinze minutos depois, ela pediu a conta. Não veio. Pediu de novo. Não veio. Terceira vez:

- CARALHO, DÁ PRA TRAZER A PORRA DESSA CONTA HOJE AINDA, OU TÁ DIFÍCIL???

E o restaurante inteiro ouviu a classe dela se espatifando no chão. Acontece, né.

05 novembro 2004

Sobre os sacos aqui de casa


Dividimos um apartamento há 7 anos, meu irmão e eu.

Ele pediu alguma coisa na padaria, e está guardando as compras. Eu fico observando. Ele pega um saquinho plástico e fica enrolando com aquilo na mão, passa de uma mão para outra, devolve, amassa, estica. Não saio dali. Ele desiste, me olha:

- Tá bom. Eu não tenho a mínima idéia de onde se guarda isso.
- Isso o quê?
- Isso! (Esticando o saquinho na minha frente).
- ISSO se chama saco plástico, e se guarda no puxa-saco, o nome já diz. É esse treco de pano pendurado aqui na parede há uns 7 anos, mais ou menos. Tá vendo?

Ele olha o puxa-saco na parede, assustado, como se tivesse visto uma aranha.

- Tá bom, mas é que você enrola de um jeito que eu não sei enrolar. O saco.
- Pode enrolar de qualquer jeito, isso não importa.

Ele enrola de tal modo que, ao invés de diminuir o volume do saco, aumenta. Incrível. Ninguém mandou eu dizer que não importava. E guarda o saco no puxa-saco, como quem realiza uma operação delicadíssima. Em seguida, começa a fazer o mesmo com um saquinho menor.

- Não, esses pequenos eu guardo noutro lugar.
- Jura?? Por quê?

O sujeito não entende nada de sacos. Viveu 7 anos, numa boa, sem saber da existência do puxa-saco. E agora vem questionar o porquê do meu tratamento diferenciado aos tipos de saco. Eu mereço.

- Porque sim, porque os menores eu uso para cascas de frutas e legumes, prefiro que fiquem aqui desse outro lado, assim já vou direto com a mão no saco desejado.
- Se tu diz...

Começa a olhar um saco que veio com um furinho. Ele ameaça um desdém, eu me adianto:

- Esses furados ficam aqui junto com os pequenos...
- Ah, não! Saco furado também se guarda???
- Eu guardo, sim senhor! Dá licença?
- Pra quê?
- Para as garrafas vazias de refrigerante!
- É??? Eu jurava que as garrafas vazias de refrigerante sumiam depois que a gente colocava ali naquele cantinho...!!!

Respiro beeeeem fundo.

- Não é que elas sumam. Sou eu que ponho tudo no saco furado, depois abro a porta, saio no corredor e – uau! – derrubo no duto do lixo.
- Nossa. Impressionante. E eu, há 7 anos, sem conseguir parar ali naquele cantinho sinistro. Medo de sumir também, sei lá.

Medo de colocar meu irmão num saquinho furado, abrir a porta, sair no corredor e... vocês sabem.

PS: Tá bom, não deve ser fácil viver com uma pessoa que separa os sacos e guarda os furados, admito. Mas só guardo se o furo for mínimo. Se for um rasgo, escondo numa gaveta no meu quarto. Um dia eu vou achar utilidade, tenho certeza.
E mão-de-vaca é a mãe.

04 novembro 2004

Pobreza é relativo


Um amigo lá do Sul me telefona para matar as saudades. Entre outras barbaridades geniais, solta a seguinte:

- É para tu veres como pobreza é um conceito relativo. Hoje eu fui à farmácia. À minha frente, na fila, um guri contava moedinhas, com dificuldade. Que judiaria, pensei. Gurizinho novo, de chinelo gasto, bermuda puída. A despesa era maior que ele. E eu, aqui atrás, comprando meus luxos sem sentir coceira no bolso. Bateu aquela consciência social, sabe?

- Sei, sei... é triste, mesmo.

- Triste, né? Pois tu sabes o que o desgraçado estava comprando?? CAMISINHA! CAMISINHA, Bíbi! Pobre sou eu, isso sim!!! Sabe há quanto tempo eu não tenho precisado comprar camisinha???

Achei melhor nem saber.

03 novembro 2004

As palavras
d a n ç a m
ou é só impressão?

A palavra
amor
dança lento

A palavra
tesão
dança colado

A palavra
saudade
tem pisado no meu pé

E a palavra
esperança
amanhece varrendo o salão.

02 novembro 2004

Finados


Diz pra mim que amanhã é quarta-feira útil e que tudo vai funcionar direitinho, da padaria ao meu intestino, dos bancos ao meu bom humor institucional, da faxineira ao colégio das crianças, do consultório dentário ao caos no trânsito. Tudireitinho. Diz pra mim, vai.

Tô agüentando esse feriado espichado dedicado aos falecidos, não.

Adiantamos uma hora, mas não adiantou lá muito. Meu tédio tá me olhando - com cara de você sabe o quê -, e me cutuca de hora em hora pra dizer:

- Assunta alguma cousa, tchê.

Estou quase estrangulando alguém. Sai da frente, meu anjo.
Sai da frente, que é pro teu bem.


Coquetel trash

Aproveitei que a minha mãe foi viajar nesse feriado e jantei, ontem, um coquetel explosivo: Baconzitos com Fandangos.

O detalhe é que a minha mãe mora no RS e eu, no Rio. Há 7 anos.

Mas, sei lá, sempre é bom dar uma radicalizada quando os pais viajam.
Teste. Funciona, blogzinho de uma figa.

01 novembro 2004

DVD - Cristina quer casar

Depois de hooooooooras perambulando pela locadora sem conseguir um filme decente que eu ainda não tivesse visto – e que não estivesse locado neste domingo de feriadão -, cheguei no nacional “Cristina quer casar”. Com Denise Fraga, Marco Ricca (que eu adoro) e Fábio Assunção. A expectativa era zero, confesso. Voltei para casa bufando; está bem, o calorão de hoje X minha disposição para andar a pé pelo bairro às 3h da tarde ajudaram...

Trata-se de uma comédia romântica pouco original – mulher de 34 anos quer casar e resolve procurar uma agência matrimonial, blá blá blá -, mas sabe que é bem bonitinho? Denise Fraga encarna uma Cristina do tipo poderia-ser-qualquer-uma-de-nós; cheia de contas para pagar, desempregada e boa gente. Tipo da coisa que ela faz com um pé nas costas, estamos acertados?

Marco Ricca e Fábio Assunção completam, com ela, um triângulo cheio de humor e quase sem surpresas, e assim o filme se dá: fofo e previsível, como 90% das comédias românticas que se prezem. Se querem saber, acompanhou muito bem o meu porre de Coca Light no fim de tarde do domingão pré-finados.


Churrascaria (o nome já diz, né?)

Convidei meu irmão para ir a uma churrascaria. Na fotinho da propaganda, havia um enorme buffet de comida japonesa. Não como carne. Meu interesse culinário era claramente nipônico, não escondi isso de ninguém. Nem da moça que atendeu ao telefone quando liguei, à tarde, para me certificar de que não ficaria só na saladinha:

- Tem comida japonesa, não tem?
- Tem no buffet, sim, senhora.
- E é bem variada, certo?
- É o nosso buffet, senhora. A senhora já esteve aqui, não já?

Não-já. Essas moças têm mania de “não-já”. Não, eu não-já nunca tinha ido. Se tivesse ido, não-já teria ligado para pedir informações sobre algo que eu já conhecesse. Não-já seria óbvio?? Desliguei. Bem feito pra mim.

Não só não-já era óbvio, como tive ingrata surpresa ao conferir, ao vivo e em (poucas) cores, o tal buffet japa. Sem mentira: três ou quatro bandejas, se tanto, com meia dúzia de sushizinhos murchos em cada. Só.

Fiquei com tanta raiva, mas tanta raiva, que nem a salada eu pude aproveitar direito. Murcha também, te digo. Mano se esbaldava numa carnificina contagiante, passou até mal depois. (Não foi olho gordo, juro).

Eu devia ter imaginado. Churrascaria. O nome já diz, né.


É fantástico

Reportagem no Fantástico sobre adolescentes que estão “pendurados” nas notas da escola neste fim de ano. “Especialistas orientam” (sempre eles): mais diálogo em casa. Adolescentes, por sua vez, desorientam: não estou nem aí, quero mais é fazer festa; se tomar bomba, f***-se.

Sinceridade?

Se o pirralho chega à adolescência com esse tipo – sem esse tipo? – de idéia na cachola, é bem feito para os pais.

Ou será que o Fantástico é que foi omisso nos últimos 13 anos?

Mais provável é que tenha havido overdose de Fantástico, isso sim.

30 outubro 2004

Chiripá – Indumentária Gaúcha



A ilustração acima é do amigo Gilnei Silva, um publicitário de Novo Hamburgo. O cara faz de tudo um pouco, em se tratando de arte. Descobri o site dele meio por acaso, e adorei.

Quem quiser, é clicar para ver as outras ilustrações. Vale a pena!

***

“Felicidade se acha é em horinhas de descuido.”
(Guimarães Rosa)

***

“Eu sou bom de cama
sei fazer café
E ninguém reclama
Do meu cafuné
Mas
Artista é o caralho
É o caralho”


(Rubinho Jacobina)

***

Não sei com vocês. Pra mim, chega finados e é sempre assim, parece até piada de mau gosto: daqui a pouco, jaz o corrente ano.
Flores, please.

29 outubro 2004

Como eu

Minha amiga e eu curtíamos um show num desses bares/boate com música ao vivo. Sujeito se aproxima dela e manda uma cantada. Ela dispensa, mas o cara é do tipo vendedor de seguros - não aceita não como resposta. Insiste. Um mala.

Ela vira pra mim:

- Pelo amoooor de Deus, me livra desse encosto.
- O que é que eu faço?
- Sei lá, qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo, mas me livra.

Solidariedade instantânea. Homem pegajoso é pior que sarna. Mas estou sem imaginação; pergunto a ela, outra vez, o que fazer.

- Sei lá, pô! Diz que a gente é namorada!
- Tá doida?
- Que é que tem? Muito comum, hoje. Manda essa, vai colar.

Eu, quando dou para ser cara-de-pau, é com dedicação esportiva. Me estiquei toda e mirei o rapaz. Um e setenta, se tanto. Eu + meu salto = 1,80m, e passando. Cheguei bem perto e olhei nos olhos dele:

- Boa noite. (Séria) Eu não queria ser indelicada, mas a moça tá acompanhada.
- Jura??? (Ele, olhando para os lados)
- Sim. E muito bem acompanhada, por sinal.
- Ué... mas estou aqui há meia hora, e ainda não vi ninguém...
- Tem certeza? (Olhando fixo) Ninguém mesmo?

Ele titubeou um pouco. Olhou para os lados. De repente, me olhou e deu um pulo:

- Ai meu Deus!!! Sério??? Não pode ser...
- Não pode ser o quê? (Aumentando o tom de voz, ameaçando me sentir ofendida).
- Não, quer dizer, não é isso, claro que pode ser, mas, você sabe, eu jamais ia imaginar, vocês duas, que dizer, nada contra, ou seja, mas é estranho, estranho não, diferente, quer dizer, hoje é muito comum, você olha e nem diz, veja bem, que coisa, eu, eu... me desculpe.

Dei um tapinha nas costas dele e uma piscaldela.

- Imagina, amigo... isso acontece toda hora. Esquece.
- É, deve acontecer mesmo (secando o suor do rosto, parecendo um pouco aliviado)... a propósito, que belo casal!
- Muito obrigada.
- E você tem muito bom gosto... aliás, como eu... (e, súbito, resolveu se corrigir) Ops! Quer dizer, COMO EU, não! Come você, que tem mais sorte. Hehe.

Depois dessa pérola infame, os três caíram na risada.

Mas ninguém comeu ninguém.

27 outubro 2004

Curtinhas

* Conforme acabo de ser informada, este blogue está entre os destaques da semana no Jornal do Blogueiro.
Obrigada!

* O Orkut ressuscitou os meus 99 amigos. Logo, não eram 100, nem tampouco estou sem.
Foi só um deslize do servidor + minha TPM = genocídio.
Normal.

* Taxista me trouxe em casa. Deu oito reais, e ele não tinha troco para os meus cinqüenta. Eu: “O que é que eu faço agora?”
Ele: “Ah, me paga outro dia!”. (Nunca vi mais gordo).
Não consegui. Pedi que me levasse à padaria, comprei uma Coca, troquei o dinheiro e paguei na hora.
Ora, “me paga outro dia”. Te dei essa intimidade, nêgo?
Comigo, não.

* Mario Prata, hoje, no Programa do Jô. Sempre, sempre é bom.

* Tinha um belo compromisso em Copacabana, mas cancelei porque estava ameaçando chuva. Chama o meu analista, urgente: estou virando carioca. Se minha mãe sabe...
Cultura de salão


Perua 1 (entrando no salão): Oi, amiga! Você tem ido à academia?
Perua 2 (fazendo as unhas): Oi, querida. Faz tempo que não vou! Com essa gripe que está pegando todo mundo, fica aquele povo lá enfurnado no ar condicionado, eu sou doida? Quero esse vírus pra mim, não.
P 1: É... Também não vou faz tempo.
(Silêncio para reflexão de ambas).

P 1: O diabo é que começa a cair tudo, né?
P 2: Rapidinho.
P 1: Passou dos trinta, a corrida é contra.
P 2: Se é.
(Silêncio para reflexão de ambas).

P 1: Homem não tem isso, né?
P 2: Homem não tem nada! Deve ser uma festa ser homem.
P 1: Pode crer. E a gente aqui, fazendo cabelo. Homem lá faz cabelo? Se um homem não tem cabelo, pode ir a uma festa, normal. Mulher, Deus o livre!
P 2: Peruca! Mulher paga o mico da peruca, se for preciso.
P 1: Peruca. E mais, é capaz do sujeito fazer sucesso. Olha lá aquele careca, que charme!!
P 2: Fazer o quê. Nosso nível de exigência com eles é bem menor. E mulher se arruma pra mulher, também tem isso...
P 1: Tá certa. Já viu um homem olhar pro outro e fofocar com o amigo: olha que cara desleixado, olha a cor do sapato dele, nada a ver com nada, olha o cabelo...? Nunca!
P 2: E homem lá sabe diferenciar cor? Tudo daltônico!
(Risadas gerais).

Interferência totalmente inusitada da depiladora, que grita, lá do outro lado do salão:

- Broxa!!!!!!

(Interrogação geral).

- Homem fica broxa. É o castigo de Deus.

(Silêncio total, em respeito à verdade irrefutável. P 1 faz o sinal da cruz e bate na madeira. Isola.)

***

A manicure 1 está de saída, cumpriu o horário e vai embora. Sozinha, enche de fita adesiva uma caixa enorme escrito: Arno. Um ventilador.

Manicure 2: Vai levar isso, mesmo?
M 1: Se eu vou levar? É claro que vou levar! Ganhei na rifa, vou levar.
M 2: De ônibus???
M 1: Que jeito?
M 2: E o Henrique?
M 1: Não teve conversa. Fiz de tudo, ele não quis vir me buscar. Diz que é muito contramão.
M 2: E você vai de ônibus, com esse trambolho?
M 1: Vou sim. Mas vou ficar um mês sem dar pra ele.
M 2: Aaaah, bom!

De modo que concluo: o problema nem era levar uma caixa enorme no ônibus. O problema era continuar dando pro sujeito que permitiu isso.

E não é que faz sentido?

De cem amigos a sem amigos

Acreditem: o Orkut matou todos os meus amigos. Entrei lá hoje, e tive a ingrata surpresa de saber que estou sem amigos. Logo eu, que beirava os cem. Duvida? Entra lá. No campo dos meus amigos, aparece a singela expressão: “add friends”. Mais nada.

Olha a minha cara de quem vai sair pescando os amigos, um a um, pedir desculpas pelo incômodo e adicionar tudo outra vez. Se pudesse marcar um chopinho e reunir a galera, tudo bem. Mas é cada qual de um canto, vocês sabem, essa maravilha virtual que nos une a todos, o Orkut, tão caloroso, tão humano, tão... assassino. Matou cem. Para falar só dos meus!

Eu já soube de casos semelhantes, e você também deve ter ouvido falar – ou já lhe aconteceu, se é que você ainda não se encheu daquela porcaria e caiu fora. Era o que eu deveria ter feito há meses, eu sei. Mas não fiz.

Há coisas que eu deveria ter feito há anos e ainda não fiz; não seria a saída do Orkut um acerto isolado na minha vida, seria?

Agora com licença, que eu vou ali providenciar os jazigos.

Um a mais, pro meu finado bom humor.

23 outubro 2004

Pela hora da morte

A chuva aqui no Rio deu uma trégua. Hoje o sol brilha outra vez, e o vento está proseando com as árvores lá fora – vejo aqui, através da varanda, a pracinha. O fato de ter uma varanda e uma praça sobre o meu ombro esquerdo me conforta um pouco, parece que o apartamento (apertamento?) é maior. Ilusões de ótica muito úteis, já que o aluguel está pela hora da morte.

Mas vamos parar de reclamar, e pensar um pouco na hora da vida - que é a única coisa que se tem, afinal.


Pela hora do rock



Ontem à noite a Lagoa estava particularmente bonita, não sei por quê. Um climão. Assisti a um show de rock – anos 70, 80 e 90 – bem entrosado. O guitarrista era o Fernando Magalhães (Barão Vermelho); só ele já valeria o ingresso. O baterista e o baixista eram da banda do Gabriel O Pensador, cada qual melhor que o outro. O vocalista (e motivo da minha ida) era o amigo Márvio Fernandes, uma figura assídua no circuito rock cover aqui do Rio. É bom ver as feras afinadas, fazendo rock’n roll com um pé nas costas, com prazer e sem frescuras. O palco é míni, mas o prazer que proporciona...

O bar é muito charmoso, e tem um nome que já diz tudo: Partitura. E o cardápio é no mesmo tom. Tem lá um risoto de nome Sibemol (assim, tudo junto), e outro Sustenido. As massas: Rock, Reggae, Soul... Música para ouvidos e estômago.


Pela hora dos 2.7

Faltando quase um mês para esta blogueira fazer aniversário. Já coloquei a lista dos presentes nas melhores lojas do ramo. Do ramo áudio. Do ramo vídeo. Do ramo flores. Do ramo roupas. Do ramo jóias. Do ramo automóveis. Do ramo imobiliário, inclusive.

Viram como eu sou facinha de agradar? Qualquer coisinha à toa me satisfaz.
Hoho. (Do ramo cínica).

21 outubro 2004

Vovô viu a uva


Aprendia “vovô viu a uva” e ficava pensando o que raios vovô tanto via na uva, entrava dia e saía dia, vovô via a uva, e revia, e revia o diacho do cacho. Vovô ainda não decorou a uva? -, quis saber da professora, porque ela já não agüentava, nem o velho, nem a fruta, nem o desenho, nem o jogral.

Vovô gostava muito da uva. A professora achou que iria acalmá-la com essa revelação medíocre. Vovô gostava muito, e pronto.

Aí ela criou toda uma reação em cadeia. Se vovô gostava tanto assim da uva, que só fazia ver a uva, coitadinha da vovó, que não era vista, e nem havia no desenho ou no jogral. Solidarizou-se com a vovó, levou a sério aquela falta de atenção à velhinha. Como estaria passando a vovó, tia?

A professora argumentava que a vovó ia muito bem, obrigada, mas que não era assunto daquele dia. Concentrassem-se no vovô e sua uva. Mas ela não engolia um casamento entre velho e fruta. Queria saber da vovó, que era a mulher do vovô, que devia ser amada e acarinhada, muito mais que a uva. Uva não dorme junto, uva não beija, uva não pega na mão - e, pior, uva nem faz bolo!

Quando chegou na parte do bolo, os coleguinhas começaram a apoiá-la. Para desespero da professora, que tinha lá uma cartilha a ser cumprida. E não havia menção à velha, coitada.

Naquele dia, excepcionalmente, a aula foi desvirtuada. Vovó era popstar, não havia mais jeito. A professora encerrou o jogral e distribuiu folhas em branco. Cada um vai desenhar a vovó, como quiser. Na cadeira de balanço, na cozinha, fazendo tricô. Depois, vamos colorir a vovó. E o vovô vai ver, não uma, mas 32 vovós!

Todos acharam muito divertido desenhar vovó, e começaram os rabiscos. Os ânimos se acalmaram.

Minutos depois, a professora foi recolher as vovós. Quase todas. Todos tinham feito vovós, menos ela. Tinha desenhado um lindo cacho de uvas.

A professora se irritou. Não era ela quem tinha reivindicado a presença da vovó? Tinha enjoado de vovô vendo a uva? Tinha instigado os colegas? Tinha causado uma revolução? Tinha mudado o rumo das coisas?

Cadê a sua vovó, afinal?

Achou que, com tanta vovó, vovô ia sentir falta da uva. Afeiçoou-se à uva. Tantos dias repetindo, vovô viu a uva, vovô viu a uva... ia ter saudade. Até tinha começado a desenhar vovó. Iniciara pela bolinha do olho direito, depois fizera o esquerdo. Quando viu, já tinha enchido a folha de bolinhas. Decidiu fazer logo um cacho.

Também porque era mais fácil.

15 outubro 2004

Salão


Mais uma de salão de beleza (ainda faço um livro).

A senhora loura, proprietária do salão, desanda a desabafar com uma cliente antiga. Em tom, digamos, alguns decibéis mais alto que o aceitável para desabafos em frente às clientes – antigas ou não, tanto faz! Se é que há alguma aceitação para qualquer desabafo de proprietária para cliente. Sexta-feira. O salão, cheio. Eu, cheia. E cada vez mais.

- Eu acho assim, Fulana, a pessoa não pode ser boazinha o tempo todo. Não pode ser queridinha isso, queridinha aquilo, meu doce, benzinho. Sou empresária ou não sou? Montei esse negócio pra dar certo, oras! Quero todas as funcionárias uniformizadas, o material esterilizado, tudo limpinho, como manda o figurino. A cliente tem a obrigação de sair satisfeita! A cliente tem a obrigação de entrar aqui e sentir um cheirinho bom!!!

Essas duas últimas frases, então, foram pra matar. Eu me coçava, respirava fundo. Vontade louca de cutucar a perua:

- Desculpe... quer dizer que aqui a cliente tem a obrigação de sentir um cheirinho bom? Ótimo, eu não sabia. Da próxima vez que tiver de fazer as unhas, vou pensar assim: devo ir àquele salão onde tenho a obrigação de sentir um cheirinho bom, ou àquele outro onde eu sinto um cheirinho bom porque tudo realmente cheira bem?

Mas, me segurei, não disse nada. É cada uma que me aparece.


Intimidade italiana - tempos modernos

Havia uns dez anos que eu não falava com uma amiga chamada Carmem. Estudamos juntas em São Leopoldo. Hoje é designer da web, toda modernosa; casou-se com o segundo namorado e vive em Cachoeirinha (região metropolitana de Porto Alegre).

Agora, com esse negócio de Orkut, todo mundo reencontrando antigos amigos, eis que a Carmem ressurge. “Soube de você pela Época!” – ela me diz. Graaaaaande Carmem, bom te “ver”. Acabamos gastando uma grana em interurbano.

A irmã mais nova – deve estar hoje com uns 22 anos – é o assunto atual da Carmem. Que a menina não tem jeito, que é uma avoada, que não pára numa faculdade sequer. Já fez letras, administração, publicidade. E hoje, segundo a Carmem, faz turismo. Nas aulas de jornalismo – que freqüenta com assiduidade de baixa temporada.

- Agora ela me apareceu com mais um namorado, da internet. Coisa recente, saíram só algumas vezes. Eu fico espantada com a facilidade que a Juliana tem para dar intimidade para um sujeito que mal conhece. Mal conhece!

- Sabe o sobrenome?

- Sabe, sabe. Não se trata disso.

- Dar intimidade, é? Que tipo de intimidade?

- Intimidade da intimidade! Uma coisa assim, impressionante. Eu digo pra Juliana, mas ela não me ouve. Nunca me ouviu! Tem coisa que não se faz logo de início. O que os outros vão achar? O que o homem vai pensar, meu Deus?

Àquelas alturas, eu já estava me mordendo de vontade de saber dos detalhes sórdidos, da intimidade que a Juliana dava ao recém-chegado. Que “coisa” não se deve fazer logo no início? A Carmem sempre foi meio pudica, a mãe era linha dura. Que “coisa”? Doida para saber. Mas, lógico, não podia perguntar na lata. Fui me virando como podia:

- Carmem, hoje em dia é assim mesmo! As pessoas se conhecem pela internet, acabam pulando algumas etapas. Você sabe, pô, trabalha com isso! É natural. De mais a mais, a Ju não é mais nenhuma menina. Um mulherão daquele tamanho, maior de idade, vacinada. Tá na hora de saber o que quer, não tá?

- Pois é o que eu digo, tá mais do que na hora! Mas não sabe. Fica dando intimidade aí para esses caras da internet...

- Não quero me meter, mas... afinal, o que foi de tão grave que ela fez??? (Não me agüentei, escapou).

- Ela? Bom, tenho até vergonha de falar. Outro dia eu liguei pra lá, ela me contou que o sujeito tinha acabado de sair. FAZENDO O QUE NA CASA DELA?

- Ué, sei lá, uma visita... normal...

- Normal??? Normal, nada! Depois de meia hora de insistência minha, ela confessou!

- O quê? O quê??

- Que o cara tinha ido levar de presente uma cafeteira!

Broxei.

- Uma o quê?

- Uma cafeteira, não, pior: uma cafeteira italiana! Italiana! Com duas xícaras! Duas!!!

- Carmem, querida. E o que há de mal nisso?

- Porra, Bíbi! Mal conhece o sujeito!!! Cafeteira?? Cafeteira é demais! Achei que estivessem só trepando!


É, os tempos mudaram.
Inocência minha achar que a Carmem não teria mudando junto.

P.S.: Os nomes foram alterados para preservar a intimidade das amigas. Mas a cafeteira era italiana mesmo.

11 outubro 2004

Voltas


Ele chegou meio perto
ela se afastou.
Ele recuou meio metro
ela parou.
Ele se achou esperto
ela travou.

Ele empurrou
e ela pegou no tranco, e ele a viu avançando, e ela o chamou, e ele ia ficando, e ela ainda indo, e ele não conseguia, e ela só seguia, e ele espremia os olhos, e ela diminuía, e ele a queria perto, e ela já tão distante,

teria feito ele certo?

Não seria
melhor
ter ficado
só meio perto,
assim meio metro?

Nisso ele,
parado,
pensava,
coitado,
que ela tinha sumido,
acabado.

Nisso ela,
que tinha escapado lá adiante,
apareceu atrás dele,
de repente,
toda sorridente.

Bingo! - ela cantou
O mundo é redondo.
Demoraram um pouco,
mas se grudaram em cheio.

10 outubro 2004

Ferreira Gullar, às vezes


Ganhei um DVD do show “Brasileirinho”, da Maria Bethânia. Gravado em março deste ano no Canecão, elogiadíssimo, é mais um produto do selo Quitanda (da própria cantora).

O poeta Ferreira Gullar - cuja imagem abre o show, no telão, recitando “O Descobrimento”, de Mario de Andrade – dá um depoimento muito bonito na sessão de extras. Lá pelas tantas, ao falar da dificuldade que teve em escrever uma letra para “O Trenzinho Caipira” (de Heitor Villa-Lobos), sai-se com esta:

- É por isso que, quando me perguntam ‘você é o Ferreira Gullar?’, eu respondo ‘às vezes’. Porque às vezes eu tento botar a letra no Trenzinho Caipira e não consigo. Outras vezes, consigo.

Céus. Ferreira Gullar é às vezes, e me dá um arrepio ouvir isso do próprio. O papel do artista no mundo eu não me atrevo a palpitar qual seja; mas, aqui muito entre nós, não cabe a singela metáfora do “cair a ficha”? Olha, lá vai o poeta, provocando quedas de fichas nas cabeças dos passantes. Com a graça de Deus, ploft, ploft.

Afinal, quem aqui não já sentiu ser um “às vezes” de si mesmo? Genialidade à parte, quem nunca se estranhou num gesto, nunca se perdeu numa fala que não parecia a sua, quem nunca levou um tranco ou um branco da vida – e ficou sem reação, sem saber o motivo?

Eu era tão bom nisso, como fui travar justo agora? Ah, eu não sou disso! Já repeti esse número trezentas vezes; como é que fui me esquecer do principal? Nunca vou me perdoar por ter me ausentado de mim justamente nesse dia, logo hoje, eu me precisava tanto, tanto... judiaria.

Se não somos nós mesmos 100% do tempo, se nos ausentamos de vez em quando, se somos meio relapsos, se pecamos por incoerência ou inconsistência – então, afinal, quem somos (ou o que somos) nas outras vezes? Quem age por nós enquanto nós mesmos estamos dando uma voltinha até a esquina?

Quem será que somos na fatídica hora do cafezinho?

Uns idiotas, às vezes. Uns lapsos ambulantes, sem sotaques ou semblantes, uns restos de homens e mulheres, desconexos, deturpados. É, deve ser isso. Uns quaisquer, sem serventia alguma, pegos em flagrante no pior instante; uma vírgula deslocada, um texto vazio que nem lingüiça enche. Uns nada.

Ou, quem sabe, talvez, Deus seja tão camarada que nos faça pausar de nós mesmos vez por outra, que é para não enjoar. Que é para o povo aqui experimentar, vez em quando, súbitas sensações aparentemente meio desafinadas, mas que podem, sim, dar samba daqui a alguns compassos.

Lembra quando você não se reconheceu em alguma falha cometida; mas lembra também quando deu um salto mortal triplo e caiu firme, com o cabelinho ainda mais arrumado que antes. Não lembra? Ali você sorriu para a platéia e agradeceu, disfarçando a própria surpresa - nunca na vida que você sabia que teria força ou coragem ou ousadia ou talento para aquela acrobacia. Mas, olha aí, não deu outra: tinha.

Pode ser que o horário do cafezinho seja, não só uma ausência, mas uma boa oportunidade de trazermos à tona alguma coisa que estava submersa, e que pode vir a fazer a maior diferença. Talvez seja bom estar atento, não se irritar tanto com as escapulidas, deixar acontecer.

Pode ser que a vida esteja só propondo uma equação óbvia, do tipo: ausente-se = aumente-se.

Enfim: se Ferreira Gullar não fosse "só" às vezes, não seria Ferreira Gullar.

03 outubro 2004

FNAC

Café + quiche na Fnac do BarraShopping = minha alegria quase infantil, soterrada em livros, CDs e DVDs da loja mais deliciosa do mundo; não estou pra ninguém, não vejo pessoas – vejo interesses. Não vejo semblantes – vejo pontos de interrogação e exclamação esculpidos nos rostos dos mais diversos tipos (impublicáveis) que folheiam os mais diversos tipos (publicáveis).

Estou só olhando, aqui sentada. Aquele cabeludo de bigodinho cafajeste se aproxima dos periódicos, eu já sei, ele vai até as revistas de música, olha o tipo, não tem erro, braço fortinho, bermudão, conheço, bingo: baterista. O japa ao lado é mais do tipo Home Studio; nem preciso dizer que acertei. Vai um Pro-Tools, amigo? Açúcar ou adoçante?

A menina que está decidindo o que fazer na faculdade - elas dizem só facul - sai abraçada em meia-dúzia de revistas de moda. Quero ver o que o pai dela vai dizer - minha filha, nunca pensou em direito? Não enche, pai! – ela vai sair desfilando, e aí já era.

Uma coroa meio blasé pede um brownie aqui ao meu lado. Enxutérrima, tá podendo. Ela bebe o café, folheia uma revista e mordisca o brownie. Que coroa não morde; mordisca. Eis a sabedoria da maturidade.

Mas, qual foi mesmo o motivo da vinda? Não há um dia sequer que eu entre na Fnac e não me disperse do objetivo. Dessa vez, da Objetiva: ah, sim, o romance de estréia do Arthur Dapieve.



Que, aliás, trouxe para casa e li de uma só tacada, com pausa apenas para água (pela boca, adentro, e pelos ouvidos – o barulhinho da chuva lá fora, que delícia de trilha sonora).

O texto dele é de uma fluidez incrível, e curiosamente compatível com algum belo rebuscado literário – coisa de quem sabe o que está fazendo, afinal. A história começa no Rock in Rio III, e por aí o leitor, que não é surdo, já pode pegar o tom: vem rock’n roll pela frente. Como, aliás, não poderia deixar de ser. Ou poderia, mas seria um desperdício.

O personagem principal é um publicitário de 46 anos, carioca, casado, que se apaixona perdidamente pela estagiária, uns 20 anos, ruiva e gostosa como convém às estagiárias das agências dos publicitários quarentões casados. Ou não, porque a tal “relação” – se é que se pode chamar assim -, de conveniente, não tem absolutamente nada.

Do show do R.E.M. (janeiro/2001) em diante, portanto, o que se lê é uma turbulenta - ora hilária, ora patética, ora atrapalhada, mas sempre muito bem contada - história de amor-tesão-paixão-obsessão-ciumeira, ou o que quer que esteja no meio do caminho disso tudo, se é que alguém sabe definir o meio do caminho desse tipo de coisa. E o livro é sobre isso, também; sobre não haver um meio caminho para certas coisas que já nascem nos atropelando.

Eu recomendo a leitura, sim senhores!

01 outubro 2004

Santa ingenuidade, Batman!


E eu perguntei a ele:

- Escuta... impressão minha, ou tem um bebê aprendendo a falar?
- Onde?
- Aqui no prédio. Toda noite, mais ou menos essa hora, ele começa a repetir sempre aaaaééhhmmmm... aaaéééhhhhmmmm... tá ouvindo?
Pausa. Ele me olha.
- É gato, Bíbi. Trepando.

Ah, claro. (Um buraco na minha ardósia, urgente).

***

Maldade

Notinha no Globo dava conta do fim do casamento da Ivete Sangalo com o Davi Morais. Título: “Levantou poeira”.
Êta, povo gosta duma gracinha...

***

Guapo, pero no mucho

Ontem eu percebi que, nesta nova novela das 7h, a (belíssima) Natália do Vale é casada com o Werner Schünemann, mas dá mole mesmo é para o Marcos Paulo. Ok, o triângulo é crível.

Mas certamente não seria se ela tivesse conhecido o atual maridão nos tempos da Revolução - vasta cabeleira desgrenhada ao vento, bombachas, lenço vermelho no pescoço. Poderoso, destemido, guapo, Bento. E Gonçalves, ainda por cima.

Agora é apenas Werner, de cabelinho curto e camisa comportada.
Viu? Dá no que dá.

***

Tim-tim celestial

Com a chegada de mais uma frente fria, a temperatura no Rio caiu 15 graus. Comprei velas brancas. Pedro merece. Vou agradecer com toda pompa, e oferecer também o primeiro gole. E o segundo, e o terceiro, e quantos quiser. Por mim, que beba todas – desde que continue São.

28 setembro 2004

O de Janeiro e o Grande do Sul


Gaúcho fala “eu vou ir”. Carioca fala “em dia de sábado”. Gaúcho fala lancheria (para lanchonete). Carioca fala manobreiro (para manobrista). Gaúcho fala pila para dinheiro, e não põe no plural. Quanto é que deu? São dez pila, moço.

Gaúcho também não conjuga certo. Tu vai, tu viu, tu deixa? Carioca quase sempre deixa.

Gaúcho pára na sinaleira. Carioca não gosta de sinal fechado (Calcanhoto). Gaúcho liga o pisca-pisca; carioca dá a seta. Gaúcho vai à serra passar frio, comer e se esquentar. Carioca vai à praia passar calor, beber e se refrescar.

O namorado gaúcho acha que a namorada carioca está com frio na cama, e pergunta: amor, tu quer te tapar? A namorada não entende, mas aceita, e é coberta. O gaúcho pergunta se ela chaveou a porta. Ela já sabe que chavear é fechar e trancar com a chave, mas se esqueceu, e a chave está mais perto dela do que dele. Então ele diz : tu me alcança a chave? E ela sabe que alcançar é apanhar algum objeto que esteja longe e entregar a ele.

Ela alcança a chave, ele chaveia a porta e eles dormem, bem tapados.

O carioca bem carioca é da gema; o gaúcho bem gaúcho é da fronteira, da casca. O gaudério chama o celular de “telefone de garupa”, e a mulher de chinoca – mas só se for muito íntima. O carioca chama de gostosa, mesmo que não a conheça.

O humor do gaúcho é para dentro; o do carioca é para fora. No sul, branquela sem swing é mato. No Rio, é gringo. Gaúcho que mora no Rio, quando vai ao sul, é carioca. Carioca que mora no sul, quando vai ao Rio, é gaúcho.

A guria gaúcha ganha marquinha de biquíni em dois meses, depois retoma o branco; a garota carioca desbota um pouco em julho, depois retoma o bronze. As gurias são altas, têm olhos claros, algumas são verdadeiras Giseles. As garotas são saradas, brasileiras, umas Pitangas.

A geografia do Rio se exibe, seus mares, seus bíceps; o Rio Grande guarda seus mistérios no vento frio das planícies.

Ser gaúcha e viver no Rio é pôr uns cobertores para secar ao sol, lá fora, e depois dormir bem tapada - ouvindo o vento soprar, aqui de dentro.

26 setembro 2004

Pia

Botei
o João Bosco a cantar
e fui tratar da louça.

“Dois pra lá, dois pra cá”
ele me instruía,
e eu na pia.

Sabe
que nem era pelos versos,
mas pela companhia.

Que eu gosto
Detergente
Por perto

Me alivia.

***

Morde, assopra

De um amigo que recebeu uma notícia ruim, e, no dia seguinte, uma maravilhosa.
- Caramba. Deus é um baita dum morde-e-assopra.
Faz sentido.

***

Horas

Chega
uma hora na vida
em que é preciso tomar as providências
que você sabe que já devia ter tomado,
mas ainda não havia chegado
a hora da vida
em que é preciso tomar as providências
que você sabe que já devia ter tomado,
mas ainda não havia chegado
a hora da vida...

A sua hora da vida
é só sua.
Ninguém pode acertar
os seus ponteiros.

Pimenta no cuco dos outros
É refresco.

25 setembro 2004

"Bíbi!

Acabamos de chegar de uma festa. Eu e a Eliana fomos à churrascaria Schneider, jantar peixe com churrasco. Estava maravilha, maravilha.

Na verdade o motivo da festa era prestar uma homenagem para um senhor que foi, nos anos 60 (eu não errei, não, é sessenta mesmo), nosso primeiro patrão. Lá estavam reunidos uns dez guris e gurias que trabalharam no supermercado do homem. Detalhe: levamos nossas carteiras de trabalho, para fazermos confrontos de datas de admissão e saída da empresa.

Tive belas surpresas. Primeiro, constatei que a Eliana é, disparada, a mais bonita dentre as esposas de meus ex-colegas. Segundo, eu, modéstia à parte, sou o mais bem conservado. Não que os demais estejam velhos, isso não, só que talvez o tempo os tenha castigado mais.

Havia algumas regras estipuladas pela guria que organizou a festa. Primeiro: era proibido perguntar por algum colega que não tivesse comparecido. Eu não sabia, no início, e perguntei por dois que não estavam. Já haviam partido para uma melhor, segundo a organizadora - e eu nem desconfiava.

Idade, nem pensar em perguntar também. Motivo óbvio. Mas a pergunta mais freqüente era: quantos netos você tem? E o que mais se ouvia era: eu já fiz duas safenas, eu três, mas tudo bem, eu era novo ainda. Também se ouvia aquele desabafo do tipo: graças a Deus estou bem de saúde. Isso é que importa. Tive isquemia há três anos, mas me recuperei rápido. Só não dirijo ainda.

Outras conversas eram do tipo: Lembra do fulano? Vi ele há uns seis anos. Tava bem, tinha perdido a mulher, e estava aposentado agora. Ou, foi bom te ver de novo. Acho que faz uns quarenta anos, mais ou menos, não é? Ou também: aprendi muito contigo, guri. Comecei a fumar naquela época.

“Naquele tempo as coisas eram bem diferentes”. “Havia respeito”. “O dinheiro valia”. “Salário mínimo era salário” - também foram repetidas.

Foi o maior consumo de água mineral e guaraná diet da churrascaria, bem como das saladas verdes, é claro.

Bíbi, ainda bem que eu estou fora dessa gente, só trabalhei com eles não achas? Comigo não!

Vou concluir, a Eliana está preocupada e me chamando, pois quando chegamos medi a minha pressão e estava um pouco alta. Nada a preocupar, só l9Xl0.Já tomei os remédios e vou medir novamente agora.O que está a me preocupar é a taxa de glicose que estava muito alta, 198 - quando o ideal, para diabético e hipertenso como eu, é de 110."

23 setembro 2004

Meu pai tomou conta do blog


Sem mais a dizer, segue o e-mail do papai, abaixo.


"Bíbi,

transcrevo o diálogo que tive com um qüera almofadinha - deve ser paulista - que esteve aqui em casa se dizendo Inspetor dos Correios. Pois o moço teve a coragem de querer me chamar atenção por ter mandado uma caixinha de ovos para rechear os xis que mandei pra ti - Bíbi com acento no primeiro i - e para o teu irmão.

Primeiro, disse-me que eu tinha infringido a lei, e que ele estaria atrás de uma indenização para os Correios. Retruquei de pronto, dizendo a ele que eu era advogado, conhecia a lei, e, pelo que soube, quem estava me devendo uma caixa de ovo era – exatamente - o Correio.

O moçoilo retrucou, dizendo que havia uma Portaria proibindo remessas de alimentos perecíveis via sedex. Eu lhe disse que portaria não é lei, pelo menos aqui no RS, e que os ovos eram de boa qualidade e do tipo caipira. Ele gaguejou um pouco e tentou me dizer que, caipira ou não, todo ovo no compartimento de carga do avião, a 9.000 m de altura, estoura, pois não há pressurização.

Disse-lhe então que não entendia nada de aviões, e que sempre viajei neles sem preocupação com os ovos, se estourariam ou não. De mais a mais, achei que pelo sedex-10 a caixa iria no colo do piloto, isso pelo preço que cobram e pela propaganda que fazem.

O índio retrucou que eu poderia ser enquadrado na lei de segurança nacional ou até em crime internacional de atentado a aeronaves. Imagina só, Bíbi, eu mandei uns ovos e poderia ser enquadrado junto com as ações do Bin Laden!!!

Me enchi da conversa e mandei o guaipeca embora. Da próxima vez que te mandar outros produtos, vou procurar a Fedex - nada a ver com fedorento -, que poderá prestar melhores serviços que esses do nosso Correio.

Grande beijo.
O Pai"
***

Glossário (gauchês para leigos):

QÜERA, s. e adj. Indivíduo destemido (neste caso, dando chance ao azar).

ALMOFADINHA, s. e adj. Indivíduo paulista.

PAULISTA, s. e adj. Indivíduo almofadinha.

PS: As expressões acima destacadas não refletem a opinião desta autora. É coisa de pai, entenda-se.
Se puder.

21 setembro 2004

Recadinho

O porteiro perguntou ao meu irmão:

- No jornal, uma vez por semana, tem um recadinho de um rapaz com o mesmo sobrenome de vocês. É parente?

Ele se referia à coluna do Arthur Dapieve, às sextas-feiras, no Globo.
Não é ótimo? Recadinho. Adorei isso!

Leiam meu recadinho, portanto, na revista Época. Semana que vem tem.


Cinema: A Vila

O filme é simples, o roteiro é original. Não quero causar expectativa, porque sei que tem gente que vai achar que foi viagem perdida. Eu gostei muito. Nos primeiros 20 minutos, pode parecer que o filme não anda, e também pode ocorrer uma certa dúvida: ai, meu Deus, isso vai ser um tremendo abacaxi. Agüente firme. Da metade para o fim, emociona de verdade; fazia tempo que não via algo assim no cinema.
Pronto, causei expectativa.


Primavera

E chegamos ao final de mais um inverno - que já passou e nem veio, ninguém viu -, os termômetros marcando 30 graus às 6h da tarde aqui na cidade maravilhosa. Dei até uma caminhadela hoje (parece que o meu pé resolveu, enfim, começar a melhorar!), e o sol era belo, e o céu era azul, e a brisa ainda não era aquele nosso velho bafo quente – que, esse sim, tarda mas não falha. Que venham as flores, pois.

Começo a falar do clima e me empolgo, vejo ritmo nas estações: um, dois, três, quatro. Clave de sol, essas coisas simples da natureza, detalhes óbvios - trilhas de Deus?

Mas nem vamos nos aprofundar muito, que certas coisas encontram maior sentido no que não se diz sobre elas.

Bom início de primavera, só isso. E vejam flores em vocês.

19 setembro 2004

O xis do Sedex


“Bíbi. Remeti o "almoço" via Sedex l0. A Eliana disse que não me preocupasse em mandar instruções, pois vocês saberiam como preparar. Por isso, vai apenas um "bom apetite". Muitos beijos
O pai”

E o almoço chegou. Era, acreditem, material suficiente para o preparo de três “xis”. Xis bacon, xis coração e xis galinha. Tudo em saquinhos etiquetados: alface, tomate, milho, ervilha e demais ingredientes. Isopores, gelo. Muito gelo. E, o mais inusitado componente: ovo cru. Como se sabe, xis que é xis tem de ter ovo frito. Como ele não podia mandar ovo frito por Sedex, mandou, não um, mas três ovos crus.

Só que isso também não podia.

Às 9:30 da manhã de sábado (notem: de sábado!), portanto, o interfone tocava ininterruptamente. Era o porteiro, apavorado, sem saber se recebia ou não do carteiro uma caixa fartamente lambuzada, por cima e por baixo, e pelos lados, através do papelão carcomido, embebido, esfarelado. Era puro ovo.

Meu irmão socorreu o porteiro, e dispensou o carteiro. Trouxe aqui pra cima aquela caixa ensaboada, escorregadia, cuidando para não deixar cair: vai que dá o azar de estourar um ovo lá dentro...

A essa altura, uma grande interrogação: o que era aquilo? Abro a caixa, ou passo na farinha de rosca e frito assim mesmo? Sedex empanado, então era isso?

Abriu-se, com dificuldade, e a notícia boa era que o ovo tinha vazado, mas não tinha prejudicado o conteúdo – tudo muito bem lacrado, do lado de dentro. Era o xis do Sedex. Self-xis, aliás. O material estava intacto e bem conservado; era só montar tudo e comer. E assim foi feito.

Em tempo: para quem não sabe, os xis do RS são famosos pela qualidade única do pão, pelo tamanho generoso, e pela fartura dos ingredientes. Qualquer gaúcho que mora no Rio, quando encontra outro desgarrado, tem de ser solidário à “saudade dos xis de verdade” – porque aqui não se encontra um que chegue aos pés dos de lá. E isso não é bairrismo, não. É pura constatação, juro.

Escrevo isso para depois não pensarem que meu pai é um maluco desvairado, claro.
Imagina.

16 setembro 2004

Sedex

Meu pai está ameaçando mandar o almoço de sábado por Sedex. Acreditem. Sedex 10. Não tenho a mínima idéia do que me espera, ou melhor, do que eu espero.
A seguir, cenas do próximo capítulo...


Tudo vira bosta

Não consigo deixar de rir com essa musiquinha da Rita Lee. Gamei. Fazer o quê? Às vezes acontece da gente gamar na coisa errada.

Aliás, eu já dizia mais ou menos isso, há uns três anos, quando fiz uma crônica cujo título era: “No fundo, tudo é esterco.”
Vou ver se acho por aqui e posto pra vocês. (Tudo vira post?).


Desculpa

Meu irmão e eu estamos em casa, à noite. Acabou a bateria do celular dele, e ele está conectado à internet – portanto, ocupando a linha do telefone fixo. Minha cunhada liga insistentemente, e não consegue contato. Até que liga pro meu celular.

- Você sabe dele? Estou preocupada! – ela me pergunta.

Ele me faz sinal: “diz que eu liguei dizendo que vou dormir fora, hihihi”... Faço sinal que não vou dizer. Ele faz que eu diga. Faço que vou ficar com pena dela. Ele insiste. Faz, faz!

- Olha... na verdade ele ligou me avisando que ia dormir fora, e... bem... eu imaginei que estivesse com você... não estão juntos?

Ela engasga e diz que não.

Abri o jogo na hora, não agüentei de culpa. Desculpa, cunhada. Mil vezes, desculpa.
Isso não se faz.


Leminski

que entrega é tão louca
que toda espera é pouca?
qual dos cindo mil sentidos
está livre de mal-entendidos?

13 setembro 2004

AMA-go

Às vezes eu me acho uma idiota de cabelos longos e castanhos, com um sorriso idiota de quem pensou alguma besteira e achou graça. Uma porra-louca aventureira que escolheu uma profissão tresloucada e achou que dava.

Valha-me Deus! Achar que dá, hoje em dia, é para doidos.

Não sou magra nem sou gorda, e a complicação começa é por aí. Houvesse alguma definição, poderia me orgulhar do fato. Uma idiota pé-lá-outro-cá; do tipo que pondera, pondera, pondera e depois pira. Pudera.

Desculpe o umbiguismo: eu, eu, eu.

Ocorre que, às vezes, a idiota aqui precisa de um respaldo que não vem senão do âmago. Ora, âmago. Nem sei o que é isso direito.

11 setembro 2004

Crise conjugal


O monitor do meu micro esteve de dieta, e eu não percebi. Percebo agora, porque – acreditem – ele está com cintura. Aliás, uma bela cintura. Melhor que a minha.

Está certo, devo ter sido uma esposa desatenta; ele já vinha dando sinais de fraqueza nos últimos tempos, e eu não me toquei de nada. Fiz vista grossa. Volta e meia, ele dava umas tremidas (sinal evidente de alguma carência nutricional), piscava mais que o necessário. Era um aviso.

Hoje, ao ligar o computador, deparei-me com o resultado da baixa ingestão calórica: as janelas do Windows estão acinturadas. E os botões de ajuste, ali embaixo, não funcionam. Fico imaginando que, se o quadro evoluir, vai ser difícil continuar escrevendo aqui.

E se meu monitor estiver com anorexia? Significa que os meus textos vão emagrecer sensivelmente, e não adiantará empurrar sopas e sopas de letrinhas – porque o monitor vai sempre se achar gordo, rejeitando indefinidamente.

E se for bulimia? Aí o teclado tomará banhos de texto vomitado, um horror – sem contar que ele pode pegar gosto pela coisa, e começar a produzir literatura escatológica sem a minha permissão.

Não adianta eu dizer que preferia o monitor gordinho; ele não vai acreditar. Uma pessoa, quando entra em dieta séria, é porque não tolera mais a auto-imagem. Mesmo que as minhas letrinhas se esforcem para convencê-lo de que eu sempre o amei, desde o início, mesmo tão quadrado, mesmo pouco esbelto... será inútil.

Estou francamente preocupada com a saúde dos meus escritos. Eu gostava de quando o monitor também se gostava. Tivemos momentos hilários, profundos, românticos; almoçávamos ficção, jantávamos confissão. E fazíamos amor em prosa e verso, sem restrição. Rotina de um casal feliz, mesmo.

Agora, com essa falta de gostosura, não sei dizer se a relação continuará com o mesmo vigor. Estou sem estímulo. Não me vêm as palavras. Acho que vou desistir de vez.

(Que nada, vou ali traí-lo com um caderno enooooorme e já volto!)
Diferentes visões


Essa eu ouvi de um tatuador gaúcho.
O sujeito chegou ao estúdio dele disposto a fazer uma tatuagem na hora, e já tinha tudo na cabeça:

- Quero uma tatoo macabra, brother! Muito macabra!

O tatuador então puxou o catálogo das figuras mais trash, e entregou ao jovem rebelde. Ele folheava. E folheava. E demorava. E nada de escolher um desenho.

- Pô, não tem outro álbum aí?

Tinha, e o tatuador entregou a ele. Mais meia hora de meticulosa observação, e nenhuma decisão. Até que o cliente começou a olhar para os lados, e flagrou na parede a foto de uma tatoo.

- É ESSA! É ESSA! Nossa, chapei! Muito irado, cara! Tá decidido: eu quero uma igual a essa.

E assim foi feito.
Acontece que a figura era de uma linda flor.

10 setembro 2004

O charme e a idade


Essa eu me esqueci de contar a vocês, mas é ótima. No show do Erasmo Carlos com Evandro Mesquita, atrás de mim, uma senhora aguardava o terceiro sinal enquanto conversava com o sujeito ao lado. Adoro uma conversa alheia, ainda mais desse calibre: saquei, em meio minuto, que ela tratava de jogar charme.

O papo era entre pretendentes, estava claro. E mulher, quando quer fazer charme, pode ser um show ou um fiasco. Fazer charme pressupõe revelar algumas coisas; esconder outras. O mais divertido é quando a pessoa se atrapalha e acaba revelando o que deveria esconder, e vice-versa. Foi o caso dela.

- Acho que o show vai ser bárbaro. O Evandro Mesquita eu nunca vi ao vivo, você sabe, quando ele fazia sucesso com a Blitz eu ainda era muito menina, nem lembro direito...

Hein? Fiquei meio assim. A mulher não tinha voz de quem era “muito menina” no início dos anos 80, mas tudo bem. Quase virei o pescoço para conferir o semblante, mas me segurei. Adiante:

- Já o Erasmo é aquilo, todo mundo conhece, né. Tinha aquela música que eu adorava, como é mesmo o nome...? Aquela, aquela... que esse outro menino regravou ainda outro dia...

- Qual? – Ele quis saber (e eu também).

- Ah, sim! Gatinha Manhosa! Que aquele menino, o Léo Jaime, regravou há pouco.

E aí a verdade se revelou, implacável. Até porque, hoje em dia, ninguém chama o Léo Jaime de menino impunemente.

07 setembro 2004

não resisti...
a um pouquinho de Paulo Leminski:

"alguém parado
é sempre suspeito
de trazer como eu trago
um susto preso no peito,
um prazo, um prazer, um estrago,
um de qualquer jeito,
sujeito a ser tragado
pelo primeiro que passar

parar dá azar"

Querido diário


Eu não escrevo aqui há quatro dias – o que, para mim, compulsiva e exagerada, é quase uma eternidade. Posso fazer um momento “meu querido diário”? Licença.

Os últimos dias no Rio têm sido quentes, mas não aquele calorão insuportável do verão. Temos sol e temos vento; não chega a empatar, mas o segundo refresca o que o primeiro abafa, e vai-se agüentando firme por aqui. As noites têm sido frescas e ideais para um chopinho a céu aberto.

Domingo, Erica e eu fomos ao teatro. Abalou Bangu, com André Valli (o eterno Visconde de Sabugosa, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, lembra?). Algumas boas tiradas e a excelente atuação dele valeram a ida. Nem mais, nem menos.

Depois rolou um chope no Rosa Shopping – bar Na Bôa -, com batatas fritas e tábua de carnes suficientes para dois. Éramos três. Nem menos.

***

O último livro que li – devorei, aliás – foi As Mentiras que os Homens Contam, do Verissimo. E recomendo a todos, dos 8 aos 80, que Verissimo nunca é demais. Ponto, parágrafo.

***

Ontem à noite eu fui à Zona Sul e voltei, lá pela 1h, com indigesta impressão de estar sendo escoltada pela Polícia. O policiamento em Ipanema foi reforçado no feriado - eu ouvia no rádio durante a ida -, por conta dos últimos acontecimentos (um vigia que tentou impedir um assalto levou bala às 3h da tarde, e o pessoal do morro Pavão-Pavãozinho andava em discórdia outra vez).

O que eu fiz foi me trancar no carro daqui até o Leblon, e deixá-lo com um manobrista numa rua relativamente movimentada – véspera de feriado -, para então me trancar com um amigo dentro de um restaurante e olhar a vida passar lá fora. Volta e meia o som ambiente era intercalado por umas sirenes, uns alarmes, nada incomum.

Na volta, como já disse, parecia escoltada. De tempos em tempos, reduzia para uma blitz, onde meia-dúzia de sujeitos bem armados me observavam com compreensível desconfiança. Durante o percurso, viaturas e mais viaturas se anunciavam pelo retrovisor, como lantejoulas vermelhas, até passarem por mim, gritantes e urgentes.
E a gente precisa continuar – a viver, a conviver, a trabalhar, a trafegar. Às vezes dá vontade de respirar bem fundo e fazer mais um: ponto, parágrafo. Antes de começar tudo outra vez – até porque não há outro jeito. Ponto.

03 setembro 2004

Tele-coisas


Estou sem paciência para as novelas. Logo eu. Ontem, resolvi dar uma chance para a nova das 7h, e liguei a TV. Havia dois ratos falando, animadíssimos. Ratos. Falando.
Desisti.

**

Também não vejo a novela das 8h faz um tempão, mas ontem eu vi. Ri um pouco com Glória Menezes e Raul Cortez, fofos. No mais, é apreciar a beleza redundante de Marcelo Anthony, e esperar que o casal de sapatas pegue fogo. Ou não.

**

E “A Grande Família” continua sendo uma das melhores coisas da televisão brasileira. Ontem a Marilda e o Tuco encheram a cara, e acordaram na cama dele. Depois ele ficou todo apaixonado, querendo namorar, mas ela nem bola. Que pena. Adoro essas transgressões etárias nas relações amorosas. Hoho.


E-(outras)coisas

Não sei se já aconteceu com você, mas estou quase certa que sim. Os compromissos dão uma amainada, e você resolve pôr a correspondência eletrônica em dia. Ressuscita e-mails não respondidos, perdidos na sua caixa postal, e responde. Tim-tim por tim-tim. Demoradamente. Carinhosamente. Põe seus amigos a par das novidades, declara amor a quem é de amor, amizade a quem é de amizade, pede desculpas aos credores, e até dá uma cobrada nos devedores - assim, como quem não quer nada. Afinal, está com tempo; e quem está com tempo pode usar de eufemismos, ser sutil.

Aí você vai à academia, toma um banho, dá uma voltinha na rua e volta para checar as respostas. Nada. Nadinha. E assim sucessivamente, enquanto você está meio de bobeira. Silêncio total.

Na semana seguinte, quando o mundo parece cair no seu colo, e você não tem tempo nem para secar o cabelo depois do banho, eis que aquela avalanche retorna, subitamente, sem dó nenhuma do seu estado assoberbado.

Poderíamos dizer que é um dos artigos da Lei de Murphy, claro. Outro exemplo – da mesma família – é aquele indefectível olhar da loira arrasa-quarteirão que o amigo está querendo pegar há anos, mas ela nem tchuns. Seria o céu, não fosse lançado justamente no momento em que o sujeito está acompanhado de outra, numa tentativa frustrada de esquecer a ex-esnobe.

Está bem, este último exemplo pode bem ser atribuído, não à Lei de Murphy, mas àquela fama que as mulheres têm, sabe-se lá por quê, de manifestarem repentino interesse por um rapaz antes desprezado – desde que ele esteja, agora, acompanhado por uma vagab..., digo, por outra moça qualquer. (Moça qualquer, aqui, não fazendo alusão alguma às mulheres de vida fácil – bem entendido. E, também, se fizesse, não haveria nenhum preconceito. Estou me enrolando, vamos adiante antes que piore.)

Eu vou tentar explicar esse fenômeno, humildemente, como me convém. Não é que as mulheres queiram competir entre si. E também não é que o sujeito acompanhado seja valorizado além dos outros por estar, afinal, em uso. Não sei se fui clara: “em uso”, ou seja, na ativa, e aprovado – ainda que momentaneamente – por algum órgão (sexual ou de defesa da consumidora, tanto faz neste caso).

O que acontece quando uma mulher, antes adorada e declaradamente cobiçada, e que agora encontra o canalh..., digo, o homem em questão se esfregando com outra, é simples: capricho. Mastigando (que o texto também é para homens): quando você era criança, e um carrinho lhe parecia feio e sujo, até que um outro garoto resolvesse inventar as melhores manobras justo com aquela tranqueira rejeitada. Lembra? Você então pensava: “que ambos, o meu amiguinho e o carrinho, sejam felizes para sempre!” – e ia embora assobiando? Ou rolava no barro com a gostosa, digo, com o pirralho até conseguir tomar aquela máquina possante dele, insistindo: “EU VI PRIMEIRO! É MEEEEEEU!!!”? (Responda para si).

Portanto, querido, pense trezentas vezes antes de julgar aquela moça que o menosprezava antes de você se arranjar com a vizinha porque estava mais perto. Todo mundo tem direito a um ataque infantilóide, volta e meia, não tem?

Ou vá me dizer que você não ficou animado quando eu escrevi (e grifei) “rolava no barro com a gostosa” e, desde então, não prestou mais atenção nenhuma ao que eu escrevi? Me engana, que eu gosto.

P.S.: Meninos, brincadeirinha. Adoro vocês. Hoho.

02 setembro 2004

As cobras do sonho


Dormi mal pra caramba, sonhei com cobras a noite toda, acordei aflita com a campainha. Era a faxineira, insistente, positiva e operante. Calma, diacho, deixa eu vestir as calças. Saí apertando os olhos, a claridade, o pé ainda meio manco, já vai! Ela bufava do outro lado da porta, impaciente, enquanto eu girava a chave. São duas voltas, bolas!

Bom dia, bom dia. A senhora precisa comprar mais Veja - ela já exigia, e eu pensando que ela é quem precisa comprar mais Época, bolas outra vez! Ah, sim, é Veja Multi-Uso, calma. Eu, logo que acordo, já não sou boa companhia. Menos ainda tendo sonhado com cobras. Vem direto me falar como devo gastar meu suado dinheirinho? Tá pedindo, né?

Tem dia que a gente briga até com a sombra. Hoje foi assim. Cadê que o meu cabelo dava jeito? Já disse, preciso comprar uma cortina urgente, esse sol direto na minha testa, raios, não há Cristo. Cortaram meu celular porque atrasei uns dias. Alguém telefonou pro fixo e desligou na cara de secretária eletrônica, que, como o nome já diz, está aqui para me representar, na minha ausência – ou na minha indecência, ou na deselegância, ou na falta-de-saco’ância - é com ela, e não custa deixar um recado; que eu retorno, sim senhora.

E as cobras, amigo, as cobras do sonho não me deixaram mais em paz durante este dia que não passava; rastejava.

Até que, à tardinha, tocou uma música do Pink Floyd numa rádio inusitada.

E o sol se pôs lindamente, dispensando cortinas.

E o meu cabelo escuro pousou sobre o rosto claro, tão adequado quanto moldura de quadro.

E o mais era conversa fiada; intriga onírica.
As cobras do sonho. Peçonha da oposição.

31 agosto 2004

Vejam só que festa de arromba


Domingo foi dia de assistir a um show único (embora duplo): Tremendão - ele mesmo! - e Evandro Mesquita, num só show. O teatro estava lotado: das cerca de 300 pessoas, 250 deviam ser mulheres, a maior parte delas acima dos 40 anos. Imaginem só que festa de arromba.

Fiquei na fila do gargarejo, e gargarejei mesmo. Erasmo Carlos - de calça jeans desbotada, camisa de veludo molhado (ou algo assim) e colete de couro – comandava uma banda competente (um maestro/pianista, um baterista, um guitarrista, um baixista e um saxofonista), se não com o mesmo vigor de antigamente, com certeza com o mesmo talento - carisma, idem. Um pingo de choro engasgou na minha garganta logo no início, quando ele provocou: “Sei que você fez os seus castelos / e sonhou ser salva do dragão”. Essa frase sempre mexeu comigo, não sei bem por quê.

Relembrei as canções que minha mãe tocava no violão e cantava, e eu achava o máximo, quando era pequena. Pensei nos meus pais, na geração deles, em tudo que havia de surpreendente na tal da jovem guarda. E em quantos daqueles hits são pais dos nossos hits de hoje.

Lá pelas tantas, entra em cena o simpático, encantador e 1001 utilidades Evandro Mesquita. Um garotão, camisa de surfista, sorriso fácil. Pulinhos no palco. Aplausos e gritinhos na platéia. O gás do show aumentou, e a nossa participação também; afinal, ele tinha perdido um amor no paraíso. Quem poderia ficar indiferente?

Mais uma cena de cinema à minha frente: infância e adolescência, anos 80, Blitz - o início de tudo, para quem ousa acreditar em ser feliz tendo o rock brasileiro como pano de fundo. Eu confesso, sou uma boba; seja sob o sol, ou debaixo de chuva.

Depois que eu já tinha engasgado, pensado nos meus pais, nos meus tios, em mim, na besteira que fiz em resolver fazer da música a minha vida, e, finalmente, no prazer inexplicável que uma simples escala de blues acelerada causa em centenas de pessoas que sequer sonham – e nem estão interessadas – em saber o que vem a ser uma escala de blues... bom, aí eu pude vir para casa, com o coração meio bobo e descompassado, mas com um sentimento afinadíssimo que me dizia, e ainda insistia: é preciso saber viver.

24 agosto 2004

Sempre ele


Primeiro eu recebi um e-mail:

“Bi,
enviei-te uma caixa de Pandora. Se tiveres dificuldade para a elaboração dos xaropes, favor me ligar.
Boas melhoras.
Um beijo
O Pai”


Duas horas depois, o porteiro me entregava a caixa de Sedex. Abri, com todo cuidado. Dentro: dois limões (sim! Ele enviou limão por Sedex!), um pote de mel, três cartões-postais da minha cidade, uma foto dele (comendo churrasco com uns amigos), uma barra de chocolate, uma caixa de Amanditas, um saquinho de ervas (?) e uma pomada “Bayro Gel”.

Segundo ele havia me explicado dias atrás, por telefone, o kit pomada/limão/mel/ervas servia – ele jurava – para “curar o pé”.

- É pra fazer uma fomentação, filha. Fomentação! – ele repetia, e eu quase podia ver pelo telefone os olhos esbugalhados de entusiasmo.

- Fu... o quê?

- FO-MEN-TA-ÇÃO, tchê! Fiz na tua mãe, e foi o que salvou o pé dela. Falando sério!

Minha mãe rompeu os ligamentos, assim como eu, mas o caso dela foi ainda pior. Teve de encarar a bota ortopédica (o gesso moderno) durante trinta dias. Fora a tala. E o que salvou o pé dela, ele afirma, foi a tal mandinga. Tá bom.

Bastou eu gargalhar no telefone quando ele me perguntou se eu não queria que ele pegasse um avião e viesse, munido dos equipamentos, fazer a fomentação em mim, para ele se ofender. E, quando papai Da Pieve se ofende, sai debaixo.

- Tá bom. Não quer que eu vá, não vou. Mas vou mandar o equipamento pelo correio, sim senhora. Te dou as instruções, e tu fazes aí. Tou dizendo, cura o pé.

Aquilo era uma ameaça. Claro que não levei a sério. Mas ele levou.

E hoje, então, chegou o “kit fomentação”: equipamento mágico capaz de curar os ligamentos rompidos de qualquer um. Pomada, mel, limão e ervas.

- Pai, limão e mel não eram coisas para a garganta? (Passei 20 anos ouvindo isso dele, a cada pigarro – ele se preocupava muito com a minha voz, muito mais que eu: como é que ela vai cantar desse jeito? E vinha com uma colher de mel.)

- No pé, filha. Fomentação.

- Tá sugerindo que eu faça uma caipirinha do meu pé! Isso não vai dar certo!

- Caipirinha, nada. Fomentação. Fomentação. Fomentação!

Quando ele começa a repetir a mesma palavra obsessivamente, já sei que se trata de uma idéia fixa que não vai morrer tão cedo. E, se morrer, ele empalha. Portanto, eu me rendo. Vou seguir as instruções e aplicar a mandinga salvadora.

Mas vou comprar uma Vodka – e fazer, ao menos uma caipiroska!

22 agosto 2004

Eu e meus desligamentos


Meu pé já ficou roxo, verde, azul, amarelo e marrom. Já inchou e desinchou mil vezes. Já doeu, aliviou, fez que ia melhorar, piorou de novo, fez que ia piorar de novo, e melhorou outra vez.
Agora, deu para estar vermelho.

Só posso concluir: depois de tudo que me aprontou nesses últimos dias, está é morrendo de vergonha. Com toda razão.


Coca Light

Vocês viram a cor da nova garrafa de Coca Light???
Trata-se de um prateado meio cinza-azulado, fosco, impossibilitando que se veja o conteúdo. Não sei por quê, parece uma garrafa de astronauta.

É futurista e misteriosa demais para a minha bolinha. E se eu comprar coca light e vier outra coisa dentro? Como, por exemplo, algum suco natural bem saudável? Que garantia eu tenho?

Bah, sou muito ressabiada e prefiro, portanto, a transparência dos frascos.
Aliás, nos sentidos líquido e humano.


No salão

A moça que fazia as minhas unhas, depois de lixar as da mão esquerda, pegou a direita e levou um susto:

- Ué! Tá diferente!
- O quê?
- As unhas. De uma mão são maiores e mais bem formadas que de outra!
- Ah, sim. Isso é porque eu toco muito violão...
- E fica assim, é? (Incrédula)
- Fica. A função de cada mão é diferente, acaba gastando as unhas de modo irregular.
- Ah. (Olhando a mão). E você toca muito mesmo, né?
- Bastante.
- Mas você também canta?
- Canto, sim.
- Aaaah, bom!

Realmente, ela estava aliviada por saber que eu estragava as minhas unhas num violão, mas, pelo menos, cantava. Era como se uma coisa justificasse a outra. Se ela canta, está liberada.

Isso me lembrou de uma história que ouvi do Yamandú Costa, violonista gaúcho virtuoso. Ele dizia que, quando pequeno, tocava violão o tempo todo dentro de casa. A avó ouvia, e parecia mais intrigada que admirada. Certa feita, indagou:

- Tá tudo muito lindo, meu filho. Mas será que você não podia cantar, umazinha só?

21 agosto 2004

Rugas


Rugas são apenas rugas. O pensamento é que são elas.

Quando a gente pensa que o mundo é pesado, o olhar não se agüenta e apela: abre logo uma vala na pele. E a culpa é de quem, cara-pálida?

Hoje eu saí pisando duro e notei um projeto de ruga querendo autorização para se instalar no meu rosto. Não vou permitir. Não quero vala, que vala vira córrego, e córrego vira riacho - e, se choro, transborda. E ainda me dá mosquito.

Melhor tratar de aliviar o traço da sobrancelha, mas usando a pinça para outro fim: pinçando a leveza dos fatos, delineando os afetos.

Que venha o relevo da idade, no tempo exato em que os arquitetos de Deus acharem justo. Mas não me venham propor parceria.

20 agosto 2004

Cultura eleitoral gratuita


Com o início do horário eleitoral gratuito, já estou escolhendo meus ídolos. A primeira delas é uma candidata a vereadora em Duque de Caxias, de nome artístico Elinha. Leia com o “e” aberto, assim: É-linha.

Pois ela achou de fazer um slogan que é qualquer coisa:

“Não é corda, nem barbante
Elinha é quem garante!”

Tem meu voto.


Senhora do destino

Depois que tive a infelicidade de beijar o meio-fio e romper os ligamentos, estou de volta ao sofá em horário integral. Mas, que pena, não gosto dessa novela das 8h. Pra mim, uma novela pode ter bom autor, bons atores, bom argumento etc; mas, se não tiver carisma, dançou. E eu acho que essa Senhora do Destino está sem carisma.

A protagonista Suzana Vieira está uns dois tons acima; a interpretação é caricata e repetitiva. O pobre do José Mayer, de cujo charme sempre fui uma fã declarada, apagou-se totalmente. Está modestamente servindo de escada para a namorada fictícia, e o casal não convence de jeito nenhum. Até o charme dele fugiu das cenas.

Justiça seja feita: Zé Wilker é o que há de melhor na novela. Mas, com aquele núcleo (casa dele) mezzo-pastelão, mezzo-perdidão, não há cena que se sustente boa do início ao fim. Estou torcendo para que peguem o ritmo agora, já que o triângulo amoroso (Zé/Suzana/Zé) parece começar a engrenar. E as cenas de Zé + Zé ainda prometem boas risadas, agora que o jornalista deixou um pouco o lado sisudo e está se entregando ao tom irônico que o momento pede.

Acho eu, né.


Colegas de desligamento

Mamãe Aninha, que tivera os ligamentos rompidos também, no início deste ano, trata de trocar figurinhas com esta filha novata no assunto:

- Não te assusta, minha filha, com as cores do pé. É assim mesmo. O meu começou meio preto, depois ficou roxo. Depois, passou a assumir cores variadas ao longo do dia.

- Cores variadas?

- Sim. Roxo, violeta, verde, rosa, vermelho e azulado. E, vez por outra, um amarelo-fluorescente aparecia, do nada!

Sei. Já estou até vendo, na calada da noite, papai Da Pieve desenhando com marcador de texto no pezinho da bela adormecida, só para ver a cara dela de assustada ao acordar.
Papai não é mole. Hoho.

17 agosto 2004

Cuidado com o meio-fio


Como todos já sabem, torci o pé no sábado de manhã, e estou com gesso até o joelho. Só não estou torcendo para não ser nada mais grave porque, como todos sabem, já torci o suficiente... (hoho, o que acharam do trocadilho infame, logo na saída?)

Passei o dia quicando pra lá e pra cá, num pé só. Para detonar de vez com a minha superstição, ainda por cima o pé que ainda presta é o esquerdo, ou seja, não tem jeito.

Agora começou a doer a lombar (L4 e L5, para os entendidos do assunto), ali onde a minha rica hérnia de disco faz a festa, soberana. Por conta de andar torta, pisando como um ponto-e-vírgula desgovernado, ainda se acentuam as dores da minha escoliose, e... vocês imaginam a cena. A véia está que só geme. Mamãe Aninha, sarada e poderosa, que não me visse nesse estado patético. Ia me deserdar na hora.

Mas o pior nem é isso. O pior é explicar, a cada moço que vem entregar alguma coisa aqui em casa (estou mandando ver no delivery), o que foi que se sucedeu.

- Machucou o pezinho, foi? – Observou o rapaz da padaria.
- Pois é... (riso amarelo).
- E como foi?
- Bom, eu vinha andando pela rua, e... quanto deu mesmo? Trouxe troco pra 20?

Estou fazendo de tudo para não dizer que eu caí foi de madura mesmo. Até pode ficar com o troco, se quiser. Que me estabaquei, gratuitamente, foi por não ter enxergado o meio-fio (que está ali há mais ou menos cinco anos).

Mas, a vida é isto. De vez em quando, sem maiores explicações, a gente é atropelada por um meio-fio que estava ali há cinco anos – e só a gente não percebia.

Capiche?

14 agosto 2004

Agora sou uma mulher de Época

Clique na minha foto e confira a novidade!


BRRRRRRRRRRRRR!!!


Escute aqui: você não se cansa de rir para todo mundo?

Ah, eu canso. Não sei como é que pode você, comadre, andar por aí toda prosa em horário integral, sem pausa nem pro cafezinho, cumprimentando os vizinhos, o carteiro, as babás da pracinha, os porteiros da redondeza e mesmo o seu patrão. Tem hora que chega, né?

Eu tenho pra mim que esse dom de sair na rua mostrando os dentes é uma questão de freqüência: há dias em que tudo bem; mas há dias em que, francamente, vibramos uma oitava abaixo. Dá uma vontade de responder – bom dia por quê?

Nada pessoal, mas tem um sujeito me acordando sistematicamente, essa semana, com uma britadeira ordinária que entra no meu sonho e não escolhe gênero: fura tudo. Romance, suspense, tudo. Se estou sonhando que o Marcelo Anthony enfim está, enfim, cortando salsinha na minha cozinha, entra a máquina e perfura a minha vida. Não me deixa nem provar o sabor da comidinha dele, que dirá o resto.

Ontem eu abri a porta da varanda, furiosa, mirei o assassino de sonhos e sua geringonça demoníaca, pigarreei três vezes. Nem me notou, claro. Seguiu entretido em sua tarefa bizarra de achar um esquilo ou um japonês, o que vier primeiro - só pode ser isso, e rezo para que ache logo, que assim o Marcelo e eu podemos terminar o que havíamos começado. Infelizmente, meu protesto silencioso resultou em absolutamente nada, e o sujeito segue furando o que vê pela frente.

Se a prefeitura quer mesmo mostrar serviço, deveria providenciar um silenciador gigante para essas engenhocas, ou então um concreto não perfurável, ou um barulho não audível. Ou, em último caso, homens sem braço. Qualquer coisa.

O que não pode é eu, uma pré-balzaquiana de hábitos incorrigivelmente noturnos, ficar sendo importunada às poucas da madrugada por um ruído maquiavélico desse calibre. O prefeito sabe quanto custa uma bisnaga de creme antiolheiras? Sabe?

Bom, as eleições estão aí.