05 novembro 2004

Sobre os sacos aqui de casa


Dividimos um apartamento há 7 anos, meu irmão e eu.

Ele pediu alguma coisa na padaria, e está guardando as compras. Eu fico observando. Ele pega um saquinho plástico e fica enrolando com aquilo na mão, passa de uma mão para outra, devolve, amassa, estica. Não saio dali. Ele desiste, me olha:

- Tá bom. Eu não tenho a mínima idéia de onde se guarda isso.
- Isso o quê?
- Isso! (Esticando o saquinho na minha frente).
- ISSO se chama saco plástico, e se guarda no puxa-saco, o nome já diz. É esse treco de pano pendurado aqui na parede há uns 7 anos, mais ou menos. Tá vendo?

Ele olha o puxa-saco na parede, assustado, como se tivesse visto uma aranha.

- Tá bom, mas é que você enrola de um jeito que eu não sei enrolar. O saco.
- Pode enrolar de qualquer jeito, isso não importa.

Ele enrola de tal modo que, ao invés de diminuir o volume do saco, aumenta. Incrível. Ninguém mandou eu dizer que não importava. E guarda o saco no puxa-saco, como quem realiza uma operação delicadíssima. Em seguida, começa a fazer o mesmo com um saquinho menor.

- Não, esses pequenos eu guardo noutro lugar.
- Jura?? Por quê?

O sujeito não entende nada de sacos. Viveu 7 anos, numa boa, sem saber da existência do puxa-saco. E agora vem questionar o porquê do meu tratamento diferenciado aos tipos de saco. Eu mereço.

- Porque sim, porque os menores eu uso para cascas de frutas e legumes, prefiro que fiquem aqui desse outro lado, assim já vou direto com a mão no saco desejado.
- Se tu diz...

Começa a olhar um saco que veio com um furinho. Ele ameaça um desdém, eu me adianto:

- Esses furados ficam aqui junto com os pequenos...
- Ah, não! Saco furado também se guarda???
- Eu guardo, sim senhor! Dá licença?
- Pra quê?
- Para as garrafas vazias de refrigerante!
- É??? Eu jurava que as garrafas vazias de refrigerante sumiam depois que a gente colocava ali naquele cantinho...!!!

Respiro beeeeem fundo.

- Não é que elas sumam. Sou eu que ponho tudo no saco furado, depois abro a porta, saio no corredor e – uau! – derrubo no duto do lixo.
- Nossa. Impressionante. E eu, há 7 anos, sem conseguir parar ali naquele cantinho sinistro. Medo de sumir também, sei lá.

Medo de colocar meu irmão num saquinho furado, abrir a porta, sair no corredor e... vocês sabem.

PS: Tá bom, não deve ser fácil viver com uma pessoa que separa os sacos e guarda os furados, admito. Mas só guardo se o furo for mínimo. Se for um rasgo, escondo numa gaveta no meu quarto. Um dia eu vou achar utilidade, tenho certeza.
E mão-de-vaca é a mãe.