19 maio 2006

De novo

Socorro. Gripe horrorosa me puxou pelo colarinho (melhor dizendo, pelo decote) e me levou para a cama sem direito a preliminares. Estou me sentindo verde, e devo estar mesmo - verde ou azul, de tão pálida e sem graça. Olheiras, calafrios. Comendo sem gosto e respirando em falso.


Engano

- Alô, aí é do salão de beleza?
- Dão, senhora.
- Como?
- Dão! Dão!!

Pelo aboooor de Deus, dão be faça falar ao telefone com essa gripe!!!


Vende-se lenço

Acabei de fazer um pedido na farmácia. Vitaminas e aspirinas. “E lenços de papel, aquela caixa maiorzinha...”.

Chegou. É do tamanho de uma caixa de ferramentas. Isso aqui dá para uns 30 narizes!

Vendo lenços. É um real o punhado.


Tem febre, por acaso?

Quando era criança, por mais que me gripasse, mal tinha febre. 38 era pico de audiência. Corria a família toda, ela está com 38, chama o doutor, cobre a guria, põe mais uma mantinha que o negócio é sério.

Minha mãe vinha, alisava e beijava a minha testa, um beijo geladinho – era bom negócio estar com 38 graus.

Já meu irmão, o primogênito, aquele que já nascera adulto (do meu ponto de vista – o de pirralha da casa), pois o desgraçado ostentava febrões de 40 graus vááárias vezes por ano. Era um inferno. Sofria de bronquite, de inflamações na garganta, das mais variadas alergias possíveis e imagináveis (até hoje, não pode com poeira), e ainda por cima era portador de um talento raríssimo que o fazia naturalmente premiado enquanto são, imagine enfermo: o filho da mãe era meigo.

Doente, ficava mais meigo ainda.

E era uma criança bonita, o danado. Tinha farta cabeleira negra, levemente ondulada e brilhosa como em propaganda de xampu. O rosto era lisinho e claro; os olhos, enormes e espertos, os cílios alongados, as sobrancelhas caprichadas, a boca cor-de-rosa e carnuda, carro-chefe daquela fisionomia freqüentemente elogiada. Argh.

Com febre, mantinha o semblante sereno. Era a meiguice em pessoa.

De modo que eu bem que tentava, mas não conseguia um Ibope de 40 graus por nada neste mundo. Sempre era a segunda (e última!) colocada – coisas de caçula.

Fiquei com essa incompetência febril, qualquer aspirina sossega minhas crises, vibro quando o termômetro espeta algumas linhas acima do 38, cubro-me até o pescoço e faço “brrrrrr!!!” sozinha para ver se minha mãe aparece e me beija a testa – ou, sei lá, faz alguma coisa que me cure e traga paz de espírito...

Por exemplo, põe algum defeitinho no meu irmão.