17 maio 2005

Maio


Maio é o mês da luz indireta, quando tudo fica mais bonito. Fui andar na praia à tardinha. Um grupo de surfistas, lá longe, deslizava em espuma branca enquanto meu pensamento duro ia virando farelo de sal e brisa.

Na volta, flagrei o sol se pondo, espremendo laranjada nas nuvens que passavam. Cheguei em casa até meio embriagada.

Desconfio que era Hi Fi.


Cupuaçu


Pela primeira vez na vida, provei um suco de cupuaçu. Paixão ao primeiro gole. Amei! Fazia tempo que não me empolgava tanto com o sabor de uma fruta.

Fui pesquisar a respeito. O cupuaçu é aparentado do cacau, e nasce do cupuaçuzeiro (!). A produção, no Brasil, é concentrada na região amazônica. O estado do Pará é o principal produtor, seguido por Amazonas, Rondônia e Acre.

O nome vem do Tupy, onde “Kupu” = que parece com o cacau, e “uasu” = grande. Gostei de como se chama no México: cacau blanco. Charme, não?

Agora, note a seguinte descrição:

“O fruto é uma baga capsulácea de 12 cm a 25cm de comprimento e 10 cm a 12 cm de diâmetro, pesando em média 1,2 kg. O epicarpo é lenhoso, de coloração marrom, coberto com pêlos ferrugíneos, que quando raspado, expõe outra camada clorofilada; o mesocarpo é esponjoso, pouco resistente e levemente mais duro que o endocarpo, que é macio, fino e claro, limitado internamente por uma película. As sementes, em média 36 por fruto, apresentam 2,5 cm de comprimento por 0,9 cm de espessura, superpostas em cinco colunas em torno de um eixo central.”

Eu sei, eu sei, depois disso fica difícil acreditar. Mas, vai por mim: é uma DELÍCIA!


Uma árvore no apartamento


Meu irmão ganhou de presente uma árvore.

Veio num vasinho de barro. Mentira, claro que não é uma árvore; a verdade é que ninguém aqui sabe o que é. E o problema é justamente este: ter, dentro de casa, um vegetal incógnito, aparentemente inofensivo, mas potencialmente ninguém-sabe-dizer-o-quê.

Ui, que meda.

Mas vamos às características científicas. Trata-se de uma planta verde – com perdão da redundância -, de cujo galho central brotavam, dois meses atrás, folhinhas semelhantes ao nosso conhecido tempero verde. Aquele mesmo, parente da salsa-e-cebolinha.

Ameacei dar um fim naquilo, logo que chegou.

- Oba! Vou fazer um risoto! – Salivei.

Meu irmão deu um pulo para frente:

- Te mato! Na minha planta, ninguém mexe!

Prometi, fingindo sensibilidade, que não carnearia a árvore, nalgum possível acesso sanguinário de madrugada qualquer. E cumpri.

Confesso que começo a me arrepender. Imaginem que o galho central, aquele, que já fora um mero fiozinho verde, hoje exibe fortes intenções de se tornar – de fato – um tronco. Começa a ficar marrom, inclusive. E engrossou um tanto.

Do tronco, nasceram galhos. Dos galhos, sub-galhos. E, dos sub-galhos, sub-outros-galhinhos, para os quais já não acho denominação científica plausível – de modo que não vejo saída a não ser juntar tudo isso, mais as folhas, a terra e até o vaso de barro e chamar de uma palavra só: árvore. É o que temos no apartamento.

O robusto vegetal ostenta hoje mais de meio metro de altura, e suas folhas são verdes, sim; mas não verde claras, tampouco verde escuras, verde oliva, verde limão, verde, verde... são “verde alegre”, pronto. Não saberia descrever o tom de outro jeito. A planta está feliz.

Por enquanto, não dá frutos. Estamos no aguardo.

Meu irmão segue tranqüilo. Eu, contudo, confesso que tenho certo nervoso quando acordo e percebo que a árvore vem se espichando dia após dia. E não é uma questão de falta de consciência ambiental, não.

É que não suporto hóspede espaçoso.