30 novembro 2002

Boas!!

Em primeiro lugar, fiquem sabendo que eu leio, sim, todos os recadinhos que vocês me deixam aqui. Não costumo responder um a um, porque já sou meio relapsa com os textos, imaginem se eu for tentar agradá-los nos recados... sei, eu sei que eu seria um fracasso.

Como vocês estão? Eu estou bem, fora o calor carioca. Fui à Lapa, na quarta à noite, e dancei um bocado – coisa que não fazia há muito. Mas ainda não tive coragem de enfrentar a praia, ao menos durante o dia.

Hoje eu vi uma notícia no Jornal Nacional, talvez a mais chocante dos últimos tempos, no meu modesto entender. Vocês devem ter visto.

Tratava-se do aumento da produção de munição de guerra nos Estados Unidos. Dizem que, depois do fatídico 11 de setembro, muitos americanos decidiram rumar para o setor bélico, trocando de emprego, passando a fabricar bombas.

Uma mulher americana largou seu trabalho na área farmacêutica e foi construir bombas. Ela ganhava mais com os remédios, mas, segundo afirmava, ficara chocada com o atentado às torres gêmeas, de modo que pensou: “Preciso fazer alguma coisa pela minha pátria”.

Agora ela se sente muito mais tranqüila, porque sabe que está ajudando o seu país. Ganhando menos. E fazendo bomba.

Estamos acostumados a ver a morte estúpida, todos os dias, na tevê. Isso é chocante, é execrável, é repugnante – mas, por mais frio que possa parecer, até morte está banalizada. E a gente assiste a assassinatos, entre um gole e outro de cerveja, como se fosse apenas mais um absurdo entre tantos.

No entanto, quando aparece algo assim, como uma cidadã que deixa seu emprego para “servir à pátria” fabricando coisas que explodem, aí sim é que eu me choco de verdade. Porque a morte está ali, nas mãos satisfeitas daquela mulher, em estado primitivo. A morte em potencial, adotada (e adorada!) como solução.

Assim fica difícil, não é?

25 novembro 2002

ANIVERSÁRIO

É, queridos, estou mais velha. Uma jovem adulta, segundo dizem. Tudo bem, 25 é um número bonito, mas estou muito diferente (aquém - seria a palavra exata) do que me imaginava ser aos 25.

Tenho até um querido diário, onde lembro ter escrito, aos 12 anos de idade, que pretendia ser psicóloga com essa idade. Mas uma coisa deu certo: eu queria morar no Rio de Janeiro – que recém tinha conhecido. E outra: eu queria não ter mais que usar óculos. E outra: eu queria ter cabelo comprido. E outra: eu queria continuar escrevendo bastante.

Mas não imaginava que, um dia, fosse escrever coisinhas num computador, e muito menos publicá-las numa espécie de diário virtual. E também não imaginava que, no ano seguinte (aos 12), eu fosse me enfiar numa banda de rock que se formou dentro da minha própria casa, e resolvesse então cantar as coisas que eu escrevesse.

Acho que a psicologia ficou engavetada nos meus escritos, lá onde, sorrateiramente, dou conselhos a mim mesma – os quais não sigo, porque santo de casa não faz milagre -, numa espécie de autoterapia compulsiva. E a doida segue, por outro lado, a desafiar a sanidade da psicóloga, de modo que eu mesma já não sei mais qual das duas é mais perturbada das idéias.

Minha vó Maria ainda acha que eu poderia enveredar para os lados acadêmicos da psique. Diz que dá tempo, e tudo. Mas eu não sei se a doida aqui deveria suspender as atividades, e ir se aboletar do outro lado do divã por uns tempos. Talvez a psicóloga ficasse frustrada, de tanto correr atrás da cura da doida e não achar. Não sei. Ou, vai ver que é preguiça mesmo.

De qualquer forma, está bom assim, sem a psicologia, mas com as cordas do baixo, as músicas, as letras, os desejos, os medos, as paixões, as crises, as alegrias e os espetinhos de coração de galinha que meu irmão faz como ninguém.

Sim, ontem a festa foi com espetinhos, se alguém quer saber.

(Vocês já notaram que eu, quando invento de filosofar além da conta, meto sempre um espetinho no meio? Acho que é para descontrair. Meu irmão é bom nisso, aliás. Na descontração e no espeto).

Por voltar a falar em aniversário, agradeço muitíssimo aos recadinhos de vocês, sempre tão assíduos (as) e docemente carinhosos (as) comigo. Obrigada. Agora, vamos mudar de assunto antes que eu me sinta uma jovem senhora, de tanto falar em idade...


SHOW DO RUSH

Eu fui!!!

Talvez vocês não gostem do Rush - trio de rock canadense com 35 anos de carreira, aquele da música tema de “Profissão: Perigo”, quem tem mais de 20 deve lembrar. Mas vamos mudar de assunto, que esse negócio de mais de 20 já me remeteu a... vocês sabem.

Talvez a maioria de vocês nem sequer tenha prestado atenção no tal do Rush. Mas eu sou fã, muito fã mesmo, e nunca pensei que pudesse ver um dos meus maiores ídolos, o baixista e vocalista Geddy Lee, ao vivo.

Foi ali, no maior estádio do mundo, que eu tive a maior emoção do mundo quando o Rush apareceu, de verdade, em carne, osso e o Mi Maior da primeira canção, Tom Sawyer – aquela que eu, há oito anos, em entrevista a uma revista da minha cidade, citei como minha canção preferida.

Era o Mi Maior do Mundo.

O Maracanã estava em êxtase, enquanto eu me forçava a olhar só o telão, só o telão, só o telão, Bíbi, senão desmaia. Claro que não me contive; olhei mesmo. Graças a Deus, o Geddy Lee ficava do tamanho da unha do meu dedão, porque eu estava sentada do outro lado do estádio. Foi o que me salvou de despencar, dura e pálida, e virar tapete na hora.

Não virei tapete, mas também não estava lá muito em estado de gente. Virei uma coisa que pulsava, vibrava e arrepiava, embora estática por fora, meio incrédula, a segurar a boca com a mão direita, no afã de não deixar escapar nem um fiozinho de emoção. Sou assim, diante das maiores coisas do mundo: faço de conta que é tudo de faz de conta, pra não pirar de verdade.

Vieram outras canções, e outras mais. Do meu lado esquerdo, meu irmão e guitarrista. Lado direito, nosso amigo e baterista. À frente, outro trio nos chamava atenção: três meninos, deviam ter uns 12 anos, cada um fazendo os gestos do seu instrumento, tocando no vento. Uma banda de rock, certamente.

O trio canadense, o nosso trio, e o trio mirim. Cada qual mais diferente do outro, e mais igual impossível.

Claro que era mais que um evento, um espetáculo de som e luzes. Claro que era muito mais que uma banda preferida, um ídolo, um “obrigado” agudo e com sotaque estrangeiro. Era a sinergia que faz com que um trio se torne uma banda, assim, como num toque mágico. Deixam de ser Geddy, Alex e Neil – viram uma coisa só.

É difícil entrar nessa e não querer ficar. Complicado abandonar aquilo que nos mantém maior do que somos, não porque inflamos, mas porque amamos.

Como dizer àqueles meninos que é difícil, que a estrada, que a falta de grana, que as gravadoras, que os botecos vazios, que os bêbados chatos... que nada! Está ali, bem à frente, uma chance que deu certo – um trio que faz rock há 35 anos. E ponto. Mesmo que seja só um, entre tantos que se desfizeram, já nos faz querer ficar, ir tentando enquanto dá.

Até porque, no fundo, estamos todos tocando no vento; os instrumentos estão ali por um mero acaso.

22 novembro 2002

Buenas!

Vejo que gostaram do meu álbum virtual, e – especialmente – da minha prova de honestidade, mostrando, em cores, a performance de minha cunhada Erica e sua sombrinha do frevo.

Muito bem, também concordo que ela é lindíssima, “fofa”, e os demais adjetivos que foram justamente postos no nosso muralzinho de recados para elogiá-la. Quem não concorda com isso, naturalmente, carece de saúde mental e/ou necessita comparecer com urgência a um oftalmologista. (Eu escreveria “oculista”, mas minha mãe Aninha viria, toda autoritária, no “shout out” – onde ela só aparece para me dar broncas ou enfatizar seu gosto pelos quilômetros que nos separam, bradando: NÃO É OCULISTA, MINHA FILHA! DIZER OCULISTA É FEIO!!! DIZ-SE OFTALMO, OFTALMO!!).

Em tempo: onde minha mãe diria “é feio”, leia-se É CRIME. Para ela, dá no mesmo.

Mas, voltando. Rasgo-me em elogios à minha cunhada Erica, sim, sem vergonha de parecer que estou puxando o saco ou coisa que o valha, pois nem teria motivo algum para isso, e não é do meu feitio, todos sabem.

Está certo que, terça-feira passada, véspera de feriado aqui no Rio, Eriquinha – uso diminutivos somente quando prezo a pessoa além da média – convenceu meu sensato irmão a atravessar a Av. das Américas, em pleno horário de pico, cruzando Barra da Tijuca, São Conrado, Leblon, Ipanema e Copacabana (dando então uma paradinha estratégica num quiosque à beira da praia, onde havia uma maluca com cabelo de piaçava gritando com seu ex-marido e ameaçando chamar a polícia), depois ir até o tradicional bairro de Botafogo, encarando um trânsito de querer chutar o guarda, tudo isso somente para quê?

PARA ME LEVAR AO “BAR DO ACARAJÉ”!!!

Sim, caros amigos, eu não farei 25 anos sem ter provado um saboroso, apetitoso, cheiroso e crocante... acarajé. Digo-lhes, com franqueza absoluta, que o salgado me cativou logo de início, quando me apareceu, dividido ao meio, transbordando de recheio, aboletado naquele felizardo pratinho.

O que pude entender do petisco – para quem eventualmente o desconheça - foi o seguinte: tratava-se de uma massa, com uma gosma por cima, mais um molho colorido e uns camarões. Não sei que tipo de massa, nem o que era a gosma, nem o nome do molho, e nem bem tenho certeza de que aqueles animais eram, de fato, camarões. Mas, garanto: o conjunto da coisa funciona. E como.

É algo mais ou menos como ouvir jazz: você não entende nada, mas concorda – só por via das dúvidas.

A diferença entre o acarajé e o jazz, contudo, fica por conta da rebordosa. Meus queridos, não queiram saber o quanto passei mal naquela noite – e, juro, comi somente UM bolinho daqueles. Foi o suficiente.

Cá entre nós, é praticamente uma bomba gástrica, cuja digestão não acontece antes de, no mínimo: uma noite em claro, umas colheradas generosas de sal de frutas, dois litros de água mineral com gás, quatro voltas na quadra e dezenas de visitas (frustradas ou não) ao vaso sanitário.

No dia seguinte, não acordei – porque sequer havia dormido -, mas levantei-me ainda com a nítida impressão de estar grávida de uma dinamite querendo explodir a qualquer hora.

No entanto, era pior: eu paria de quinze em quinze minutos. (Sem querer entrar em detalhes, claro).

Mas nada disso me surpreende, amigos. Eu nasci há dez mil anos atrás. Já vi de tudo nesta vida.

Só não vi (e desafio que me mostrem) presente de cunhada que não acabe em bomba.

Hihihi...

19 novembro 2002

MEU ÁLBUM DE FOTOS PARA VOCÊS

Quem quiser dar uma olhadinha nas minhas fotos, enquanto eu não consigo publicá-las aqui (por falta de talento mesmo), vá em http://fotos.terra.com.br/album.cgi/304717

Atenção especial deve ser dada à foto entitulada "erica frevo", pois depois dizem que eu estou mentindo... mas, como vêem, eu mato a cobra e mostro o pau.

Espero os shout outs, hehe.
Beijocas,
Bíbi

16 novembro 2002

Só um adendo à frase do véio Einstein, homenzinho muy inteligente que era, mas, com licença, eu também sou, e ainda tenho a vantagem de estar viva.
A frase correta seria: "a mente que se abre a uma nova idéia, esta sim terá um tamanho ORIGINAL."

Não acham? (risos bobos e infames)
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho
original.”

Albert Einstein


Vocês acreditam que eu nunca comi um acarajé na minha vida? E acreditam que eu nunca fui a Grumari (uma praia que fica aqui perto da minha casa, que dizem ser ótima, mas nunca me ocorreu de passar ali e conferir)?

Imaginem uma pessoa que nunca presenciou uma enchente: sou eu. Que nunca puxou assunto com um desconhecido, num banco da praça, só para falar uma gracinha e fazê-lo sorrir. Sou eu.

Eu nunca me prestei a acordar e pensar: pára tudo, que hoje vou fazer algo de novo, algo que nunca fiz. Eu nunca fiz isso.

Nunca na vida eu fui a um salão de beleza e pedi que me inventassem algo de diferente, para mudar de visual. Desde que me conheço por gente, meu cabelo cresce, e do mesmo jeito eu corto, e do mesmo jeito cresce de novo, e assim vou sendo a mesma pessoa, com a mesma cara que o espelho já sabe de cor - acho mesmo que nem preciso aparecer na frente dele para que ele me reflita, com todos os meus detalhes antigos e alguns novos que surgem, não pela minha interferência, mas pelo tempo.

Acreditam que eu nunca subi num palco de rabo-de-cavalo? Em onze anos de palco, todas as vezes que me apresentei eu estava lá, com o cabelo do mesmo jeito. O penteado da lei da gravidade. De novo, sem a minha interferência.

Parece até que eu espero que alguém vá me apresentando as novidades, assim, como num passe de mágica, e eu vá então me adaptando... sem perceber.

Sem perceber, faço 25 anos num domingo ao final de mais um novembro quente, e me dou conta de que tenho me privado do acarajé por esse tempo todo.

Sem perceber, deixei meu rabo-de-cavalo na mão do desconhecido da praça, ou na praia de Grumari, ou em outro qualquer lugar dos muitos em que nunca estive.

Deixei a minha ausência lá, porque estive ocupada demais, presente em minhas já conhecidas manias. Andei envolvida nas mesmas histórias, nas mesmas lamúrias e em algumas ilusões que calharam de acontecer na realidade. E eu me assustei, claro.

O novo vem com sotaque estrangeiro, e a gente fica como bobo, fazendo mímica, tentando compreendê-lo... sem saber que ele veio justamente para nos tornar poliglotas, e não para que o façamos aprender a nossa língua. (Que sentido haveria?)
Com vontade de dar uma invertida, trocar de tom, de pele, de fala ou de gesto. Achar uma moça que não sou eu, por aí, dando bandeira na rua, e aprender a sê-la, só para experimentar. Chutar um balde, sentar numa pedra.

Quem me conhece sabe que sou exagerada e me atravesso no tempo, de modo que declaro aberta a minha temporada de “crise dos 30”, antes mesmo de completar 25.

Durma-se, com um barulho desses.

Aceito sugestões de coisas que nunca fiz, prometo analisar com carinho as propostas. A propósito, quem é que vai me levar para comer o tal acarajé? (Se é que isso existe mesmo, porque eu nunca vi, desconfio de tudo que é novo, estou sempre com um pé atrás, e desafio quem não me dê razão.)

Mas essa parte da arrogância a gente deixa para a crise dos 50, tá bom??
Até lá, aturem-me assim mesmo.
Se quiserem!! Se quiserem!!!

14 novembro 2002

Nem conto a vocês: acabou a TPM.

Estou feliz como pinto no lixo. Vem chegando o verão, como já dizia a Marina Lima, nos bons tempos em que eu era só uma criança que se achava adulta – e não o contrário, como agora.

Vou contar uns causos. Aprendi a ler e a escrever com meu irmão (e guru). Um dia, minha mãe pediu a ele que não esclarecesse minhas dúvidas ortográficas tão prontamente; que eu deveria aprender a pensar, descobrir se casa era com “s” ou com “z” por via de meu próprio raciocínio.

- Mano, casa é com “s” ou com “z”? – perguntei, certa feita.

- Você acha que é com “s” ou com “z”? – ele questionou.

- Não sei, Mano! Me responde!

- Não posso responder.

- Pode, sim, responde!

- Está bem, é simples: se você quer que seja com “s”, então será. Se quiser que seja com “z”, assim será também. Você tem de escrever como pensa que deve ser!!

Fiz uma cara de surpresa-abobalhada-meio-desconfiada que ele não deve ter entendido por anos; até que, já adolescente, confessei que aquele momento fora, para mim, verdadeira iniciação espiritual.

Lembro-me, como se fosse ontem, de ter pensado: “Uauu!! Se o Mano diz que ‘casa’ se escreve como EU quiser, então quer dizer que tudo que EU quiser se tornará realidade!! Logo, EU SOU DEUS!!!”

Sim, porque minha avó dizia, sempre que podia, que Deus era todo-poderoso: o único ser a quem o universo ouvia e respondia sempre com obediência.

A partir daquela revelação precoce, eu saía pela casa, com um sorrisinho de canto, decretando normas secretas e dando ordens explícitas aos anjos – sempre com muito cuidado, é claro, para que ninguém percebesse meus superpoderes divinos. Poderiam se sentir diminuídos perante a minha magnitude, ou mesmo temer futuros castigos (minha avó também dizia que Deus castigava, mas eu ainda sequer havia estudado esse capítulo, o de como castigar).

Não. Não era isso que eu queria. Queria só respeito e amor dos próximos a mim-Deus. (Pelo que eu entendia, os “próximos” eram todos aqueles que não eram Deus; ou, por outra: todos os outros - que não Eu. Por isso se chamavam “próximos”, porque eram os próximos a partir de mim – Deus.)

Não sei se me fiz entender.

E assim fui seguindo, certa de que faria milagres com um pé nas costas, e ajudaria a quem necessitado estivesse, contanto que me prestassem a obediência devida e, volta e meia, acendessem uma vela em Meu nome.

Caí do cavalo quando o meu primeiro pretendente – era eu quem o pretendia! -, uns vinte e cinco anos mais velho que eu, casado e com três filhas, não fez menção alguma de me atender quando, confiante, ordenei: APAIXONA-TE OU MORRERÁS!!!

Nem uma coisa, nem outra.

Como Deus, eu era um fracasso. Caí na maior fossa, vivia arrasada pelos cantos, mal dormia, mal comia, mal falava. Não rezava. (Rezar a quem?)

Aí foi que eu caí na real, resolvendo: de duas, uma. Ou eu não dou Deus, ou o Bicho Homem é que é o Diabo.

Claro que fiquei com a segunda opção.

;oP
Oi.
Meu cabelo acordou esquisito, minhas olheiras se elevaram à décima potência, minha pele está oleosa demais nuns lugares e seca demais noutros, minha orelha amanheceu inflamada por causa do diacho do segundo brinco, levantei meio manca da perna esquerda, os dentes amarelaram, o tempo está úmido, o ar está pegajoso, o assobio do vento está fora do tom, as árvores estão balançando sem o devido gingado, os carros passam mais nervosos do que nunca, parecem atrasados, as pessoas estão todas com cara feia, e cara feia pra mim é fome, por falar em fome, o nhoque apodreceu, o frango assado acabou, a tele-entrega de pizza demora muito, falta água potável em casa, tenho sede e pressa e fome e fúria, me arrasto pela casa, pesada e lerda, penso coisas desconexas, falo sozinha, xingo minha falta de sanidade mental, tento me espreguiçar, dou com a mão na quina do armário, grito, corro ao banheiro, abro a torneira, o telefone toca, corro, atendo, não, não quero assinar revista nenhuma, e não interessa o motivo, desligo na cara da moça, ligo a TV, assalto, acidente, traficante, desligo rápido, vou até a sacada, olho para baixo, miro uma moça com uma barriga imensa, quase parindo, e um vestidinho florido, parece feliz, a desgraçada, é claro: QUEM NÃO FICARIA FELIZ DEPOIS DE NOVE MESES SEM TPM ?????

11 novembro 2002

Buenas !!

Espero que estejam todos na boa. O show de sábado foi, digamos, cansativo. Aquela coisa de bar, tocamos das 9:30 às 3h da manhã, com alguns intervalos para esfriar os dedos e as cordas. Bar lotado, animado, e tal.

Mas o ponto alto da noite ficou por conta da minha cunhada Erica, aniversariante do dia, que levou uma penca de amigos para lá, e acabou “pagando o maior mico” – segundo ela. Mentira. Esteve ótima, dançando frevo.

Explico: Erica foi chamada, de última hora, na semana passada, para dançar frevo num hotel chiquérrimo aqui do Rio... adivinha para quem? Para os gringos, claro!

(Vocês já sentiram que todo mundo entrou pelo cano com essa dos gringos, né? Hehe, o que a gente não faz pelo leitinho das crianças.)

O evento era de responsabilidade da A L Eventos & Multimídia, empresa da qual meu irmão é sócio-fundador-produtor, etc. Na hora do frevo, eis que a moça contratada deu problema, e não havia outra disponível a pagar um mic..., digo, dançar frevo para os gringos, com sombrinha colorida, roupinha, maquiagem, e um bofe bailarino do lado. Mó micão, enfim, sejamos francos.

Quem foi solicitada? Ela mesma. A morena mais bela do Rio de Janeiro (não sou eu nem meu irmão quem diz, não, os gringos saíram no lucro e aprovaram!!), Erica. Tal fosse uma bailarina profissional, foi ensaiar uns passos com o bofe – que, aliás, é dono de uma academia de dança em Copacabana. E o bofe aprovou o gingado da morena. Quem não aprovaria?

Deram-se as mãos, e foram ao saguão abafar. Dizem que Erica terminou a noite com a boca que era um cabide, de tanto sorrir para as câmeras dos gringos, e com o polegar dolorido, de tanto beliscar os gringos mais animados que se aproveitavam do momento “flash” para conferir mais de perto o doce balanço da morenaça.

Fama adquirida, fama sofrida.

Nós, que não somos bobos nem nada, fizemos o esforço de aprender a tocar aquele frevo mais conhecido de todos, e paramos o show no momento mais animado para homenagear a aniversariante, convidando-a para fazer uma apresentação aos amigos.

A morena tropicana, alheia àquela sacanagem toda, viu-se tímida pela primeira vez – creio eu – em sua agitada vida. Um amigo sacou a sombrinha colorida (que conseguimos emprestada com o próprio bofe do frevo) e lhe ofereceu, num gesto tão convincente que a pobrezinha não teve alternativa: quando viu, já estava empunhando o instrumento da dança, em pé, com aquele povo todo em coro: DANÇA! DANÇA!

Eu, num impulso de cunhada-típica-venenosa, fazia um discurso inflamado ao microfone, exaltando as qualidades da bailarina, e oferecendo seus serviços aos possíveis contratantes. E o povo: DANÇA! DANÇA! – que sombrinha no dos outros é refresco, claro.

O frevo rolava solto, e, lá pelas tantas, Erica deve ter pensado que ficaria mais feio fixar raízes no chão que, enfim, saciar a sede dos afoitos. Foi então que se despiu de vergonha, e encarou a frente do palco, onde saltitava, exuberante, arrancando fervorosos aplausos de todos os freqüentadores do bar. Era a glória. (A minha, pelo menos).

O resto do show foi até chocho, se comparado à apresentação que transformou a Ana Lógica em trio-elétrico por alguns minutos, aliás, coisa que era um sonho antigo. Sobretudo, eu evitava o olhar ameaçador daquela que bailara, morrendo de medo de descer daquele palco e ter meu estômago perfurado por um salto dourado.

Tudo está sob controle, pelo menos até agora, muito embora eu ainda ande um tanto cabreira, sentindo que paira uma atmosfera esquisita pelos corredores da minha própria casa. Não sei, não, é capaz de eu amanhecer, qualquer dia, com uma sombrinha entalada na garganta (na melhor das hipóteses).

Notem que esta publicação é praticamente uma carta-denúncia, ou a crônica da morte anunciada. Se eu sofrer algum mal, vocês já sabem.

(E, se ela fugir, procurem no Recife. Onde mais ganharia a vida??)

09 novembro 2002

Oi, queridos, só passei aqui para deixar o convite: hoje, sábado, tem Ana Lógica no Downtown (Espírito do Chopp), a partir das 21h. O pessoal do Rio poderia bem fazer uma forcinha e aparecer por lá para prestigiar esta relapsa blogueira que vos escreve, não é?

Prometo que não irão se arrepender... pois o chopp realmente é muito bom. Hehe.
Beijos.

04 novembro 2002

É o tal negócio.

A gente começa a dar intimidade, fazer política de boa vizinhança virtual, e dá nisso. Pequenos movimentos organizados vão se formando, aqui e ali, como quem não quer nada. Eu, que não sou boba, desconfio.

Não é de hoje que venho notando que essas exigências de novos textos no blog têm passado de brincadeirinhas à toa, implicâncias carinhosas, mimo cibernético. Nada disso. Basta perceber que, outro dia, o nosso mural de recados – que já virou a casa da mãe Joana, diga-se passagem – simplesmente bateu o recorde: onze mensagens. Tudo por conta das organizações desse tal de MST (Movimento dos Sem Texto).

Daqui a pouco, estou até vendo, vão querer ditar os tópicos: escreva sobre isso! Escreva sobre aquilo! Eu vi o fulano na TV dizendo tal coisa, escreva sobre ele! Escreva sobre o seu pânico de pés descalços! Escreva sobre a onda que se ergueu no mar! Afinal, que fim levou a feira, o vestido, o Capitão Rodrigo, a pelada na praia e o carnaval?

Aqui pra vocês!

Eu que mando nessa bodega virtual, ou não me chamo Bíbi Da Pieve, com acento no primeiro “i”.

E, por falar em bodega, minha cunhada Erica (assim, sem acento mesmo, culpa da dona Maria, mãe dela, que tem por hábito sumir cinco dias sem dar notícias, e depois voltar, na maior cara deslavada, ainda convidar pra comer peixe na casa dela e tudo... me perdi nos parênteses, sempre faço isso).

E, por falar em bodega, minha cunhada Erica mandou que eu escrevesse aqui sobre o meu jogo de bilhar – citado por ela no mural de recados, dia desses. Está bem, eu explico.

Antes que a pequena comunidade aqui formada vá pensando que sou freqüentadora assídua de botequins no maior estilo “pé-sujo”, que fico enchendo a cara até as 4h da manhã e jogando bilhar com o Mario do Boné, o Zé Pascoal e o Bola Oito, esclareço: não é nada disso. Aninha, acalme-se. Ainda não cheguei a esse ponto.

O referido “jogo de bilhar” nada mais é do que um código de família. Nós usamos, cá entre paredes, a expressão “jogar bilhar” para o ato de trabalhar com música – o que mais faço, como todos sabem.

Mas o que tem a ver? – irão questionar.

Simples, minha gente. O jogo de bilhar consiste em encaçapar sete bolinhas. Como todos sabem, a música é representada graficamente por bolinhas (as notinhas no pentagrama, já viram?, lembram-se do caderno de música? – pois então).

Curiosamente, são sete as bolinhas do bilhar, exatamente como: DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ e SI.

Eis a explicação para a minha mania de “jogar bilhar” – ou seja, fazer música, pois estou atarefada até os cabelos com essa história de tocar para 200 gringos amanhã, e depois tocar cinco horas a fio, num bar, sábado à noite.

Satisfeitos?

É por isso que tenho escrito pouco. Não que eu deva explicações (droga!, viram só?, vocês acabam me confundindo!!!), mas, só para constar mesmo.

Tchau, vou “jogar bilhar”...

02 novembro 2002

Eles vão te pegar!


Não sei se já notaram, mas o tempo do fulano "ficar" com a fulana já é coisa do passado. Atualmente, os fulanos “pegam” as fulanas, e - o que é ainda mais animador! - as fulanas também pegam os fulanos.

É um tal de pegue-se quem puder, e o critério há muito também não aparece como protagonista da trama. É só um mero detalhe. O importante é pegar.

“Pegar” refere-se ao ato de beijar alguém na boca, sem compromisso, e depois experimentar algum tipo de relação sexual com a pessoa. Também "sem compromisso" - como diria o vendedor de cangas na beira da praia, na tentativa de lhe vender uma peça. E a intimidade entre os “pegantes” também regula com a que você tem com o vendedor de cangas.

Por relação sexual, hoje em dia, entende-se uma vasta gama de possibilidades. Já não se mostra eficaz o termo "ir para a cama", porque o local da “pegação” é o de menos.

Também não se pode fazer nenhuma alusão à posição horizontal, outrora a principal evidência de sexo entre duas pessoas, porque as criaturas andam se pegando em diversas posições, das estapafúrdias às inimaginárias, da criatividade ao verdadeiro contorcionismo. O motivo do “pegar diferente” está estampado, geralmente, nas revistas femininas, onde a sacanagem (com perdão do termo) aparece revestida de pomposas explicações psicológicas - "investir na relação" e "sair da rotina" são dois dos principais disfarces para a pegação, digamos, não ortodoxa.

Tampouco o pegar fica limitado à quantidade de indivíduos envolvidos no ato. Percebo que a multiplicidade sexual, se é que existe o termo, está cada vez mais presente entre os seres. Eu diria "casais", mas eis que também esse termo já soa obsoleto, pela conotação de gênero - um masculino e um feminino - que, tenho observado, cheira a poeira do século passado.

Uma vez extrapolados os limites de gênero, número e grau, há dois modos pelos quais podemos interpretar a nova atitude sexual dos seres humanos. O primeiro é otimista e romântico, além de quase religioso (do termo religare, lembram?): talvez estejamos passando por uma fase de descoberta universal, e, muito em breve, o amor não conhecerá fronteira de espécie alguma. Amaremos ao próximo, e ao seguinte, e ao seguinte, e ao seguinte - um passinho à frente, por favor. Olha que já estamos quase lá.

O outro modo de interpretação, não tão romântico – mas tão divertido quanto – sugere que essa pegação desenfreada entre os homens (exclua o gênero, claro) se trata mesmo de uma imensa PEGARIA – substantivo que surge da junção entre os termos “pegação” e algum outro que comece com “p” e termine em “utaria”.

De qualquer maneira, vale o alerta: se ficar, o bicho pega. E, se correr, o bicho come – o que dá no mesmo. Salvo pormenores da terminologia sexual e/ou anatômica, tanto faz se você é homem, mulher, moça, velha ou coisa que o valha: fatalmente, você tem algo que interessa a quem pega. E eles vão te pegar.

Caso queira se abster da “pegaria” vigente, um único conselho: cuide bem do seu. E depois não diga que eu não avisei.