11 novembro 2002

Buenas !!

Espero que estejam todos na boa. O show de sábado foi, digamos, cansativo. Aquela coisa de bar, tocamos das 9:30 às 3h da manhã, com alguns intervalos para esfriar os dedos e as cordas. Bar lotado, animado, e tal.

Mas o ponto alto da noite ficou por conta da minha cunhada Erica, aniversariante do dia, que levou uma penca de amigos para lá, e acabou “pagando o maior mico” – segundo ela. Mentira. Esteve ótima, dançando frevo.

Explico: Erica foi chamada, de última hora, na semana passada, para dançar frevo num hotel chiquérrimo aqui do Rio... adivinha para quem? Para os gringos, claro!

(Vocês já sentiram que todo mundo entrou pelo cano com essa dos gringos, né? Hehe, o que a gente não faz pelo leitinho das crianças.)

O evento era de responsabilidade da A L Eventos & Multimídia, empresa da qual meu irmão é sócio-fundador-produtor, etc. Na hora do frevo, eis que a moça contratada deu problema, e não havia outra disponível a pagar um mic..., digo, dançar frevo para os gringos, com sombrinha colorida, roupinha, maquiagem, e um bofe bailarino do lado. Mó micão, enfim, sejamos francos.

Quem foi solicitada? Ela mesma. A morena mais bela do Rio de Janeiro (não sou eu nem meu irmão quem diz, não, os gringos saíram no lucro e aprovaram!!), Erica. Tal fosse uma bailarina profissional, foi ensaiar uns passos com o bofe – que, aliás, é dono de uma academia de dança em Copacabana. E o bofe aprovou o gingado da morena. Quem não aprovaria?

Deram-se as mãos, e foram ao saguão abafar. Dizem que Erica terminou a noite com a boca que era um cabide, de tanto sorrir para as câmeras dos gringos, e com o polegar dolorido, de tanto beliscar os gringos mais animados que se aproveitavam do momento “flash” para conferir mais de perto o doce balanço da morenaça.

Fama adquirida, fama sofrida.

Nós, que não somos bobos nem nada, fizemos o esforço de aprender a tocar aquele frevo mais conhecido de todos, e paramos o show no momento mais animado para homenagear a aniversariante, convidando-a para fazer uma apresentação aos amigos.

A morena tropicana, alheia àquela sacanagem toda, viu-se tímida pela primeira vez – creio eu – em sua agitada vida. Um amigo sacou a sombrinha colorida (que conseguimos emprestada com o próprio bofe do frevo) e lhe ofereceu, num gesto tão convincente que a pobrezinha não teve alternativa: quando viu, já estava empunhando o instrumento da dança, em pé, com aquele povo todo em coro: DANÇA! DANÇA!

Eu, num impulso de cunhada-típica-venenosa, fazia um discurso inflamado ao microfone, exaltando as qualidades da bailarina, e oferecendo seus serviços aos possíveis contratantes. E o povo: DANÇA! DANÇA! – que sombrinha no dos outros é refresco, claro.

O frevo rolava solto, e, lá pelas tantas, Erica deve ter pensado que ficaria mais feio fixar raízes no chão que, enfim, saciar a sede dos afoitos. Foi então que se despiu de vergonha, e encarou a frente do palco, onde saltitava, exuberante, arrancando fervorosos aplausos de todos os freqüentadores do bar. Era a glória. (A minha, pelo menos).

O resto do show foi até chocho, se comparado à apresentação que transformou a Ana Lógica em trio-elétrico por alguns minutos, aliás, coisa que era um sonho antigo. Sobretudo, eu evitava o olhar ameaçador daquela que bailara, morrendo de medo de descer daquele palco e ter meu estômago perfurado por um salto dourado.

Tudo está sob controle, pelo menos até agora, muito embora eu ainda ande um tanto cabreira, sentindo que paira uma atmosfera esquisita pelos corredores da minha própria casa. Não sei, não, é capaz de eu amanhecer, qualquer dia, com uma sombrinha entalada na garganta (na melhor das hipóteses).

Notem que esta publicação é praticamente uma carta-denúncia, ou a crônica da morte anunciada. Se eu sofrer algum mal, vocês já sabem.

(E, se ela fugir, procurem no Recife. Onde mais ganharia a vida??)