12 fevereiro 2003

ATRASADA

Em tempo: o arquivo cujo link eu recomendo, ali embaixo, é o que está no pé da página - "Mico Jornalístico", aquele conhecido, da Lilian Wite Fibe...
VIDAS ALTERNATIVAS – parte I


Às vezes eu desejo me transformar numa mulher de 1,58m, 46kg, cabelos pretos bem curtinhos – um penteado bagunçado, com gel – pele clarinha, canceriana com ascendente em aquário e a lua em peixes. 29 anos. Morando num apartamento de dois quartos na Alameda Lorena, Jardins, São Paulo, vaga na garagem preenchida por um Gol verde 1.8, ano 2001.

Eu seria uma publicitária que faz ioga às 6h da manhã, depois come meio papaia e iogurte com granola. Jamais tomaria banho; tomaria duchas, demoradas e relaxantes, usando sabonete Dove e qualquer xampu – afinal, meu cabelo é tão curtinho que não carece dessas frescuras. Duchas!

Teria um tapete na minha sala acarpetada com móveis modernos, mesa baixinha em frente ao sofá vermelho, mas um vermelho bem fechado. Ali, meus cinco amigos e eu beliscaríamos uns queijos e torradinhas com patê, e bebericaríamos vinho tinto.

Duas ou três tacinhas e eu já estaria sonolenta, pronta para mais uma noite confortável no meu quarto de paredes cor-de-pêssego.

No dia seguinte, um sábado ensolarado de março, eu faria jogging no Ibirapuera, com uma calça de moletom preta e uma blusa azul de lycra, enquanto ouviria “Where the streets have no name”, do U2, no walkman, sem jamais pensar que o timbre ou o delay da guitarra do The Edge poderiam entrar na introdução de alguma música em lá menor que eu comporia para o próximo disco.

Em vez disso, eu apenas ouviria, e ainda pensaria “uau! Estou correndo bem no ritmo da canção!”. É claro que não estaria.

Talvez essa fosse mesmo uma boa alternativa: ter uma vida atribulada em São Paulo, e correr no parque para relaxar - ou seja, correr para parar.

Acho que meu nome seria Cíntia Lemos, ou melhor, Ana Cíntia Lemos – para conjugar o verbo do sobrenome na(s) pessoa(s) certa(s).


Pensando bem, melhor continuar sendo eu mesma, que esse meu humor cafajeste jamais me deixaria virar uma pessoa séria, decente.

E, outra: eu não sou do tipo que toma ducha, muito menos que beberica!!!