15 fevereiro 2006

Ficava imaginando


O táxi pára no sinal, escuto um “toc!” no capô. Motorista me olha pelo retrovisor:

- É frutinha.
- Hein?
- Frutinha. Cai sempre dessa árvore.
- Ahm...
- Todo santo dia. Impressionante.
- Sei.
- Fico imaginando se fosse uma jaca!
- Ô!
- A senhora não sabe. Na minha rua, quase em frente à minha casa, um inteligente plantou uma jaqueira.
- Que idéia!
- Pois é. O inteligente é assim, a senhora deve conhecer algum. Só tem idéia boa.
- Alguns...
- Então. Passa uma pessoa ali, já pensou se cai uma jaca na cabeça?
- Bah!
- Pior: fico imaginando se é com uma criança! Mata a coitadinha!!

Tudo que acontecia (ou que poderia acontecer) ele ficava imaginando pior, muito pior. Se era uma frutinha, imaginava jaca. Se era jaca, imaginava criança. Não me agüentei, disse:

- Mas a jaca nem caiu, e você já está imaginando uma criança morta!
- Não é isso, dona, é que pode acontecer...
- Tudo pode acontecer. Mas também pode não acontecer.
- Sim, mas já imaginou se acontece?
- Não! E nem quero imaginar!
- A senhora acha que chama??
- Sei lá se chama. Só acho que imaginar assim parece que a gente quer que aconteça.
- Não diz isso, moça! Eu sou de Jesus!!!

"Ainda bem! Já imaginou se fosse do diabo???"

Quase falei. Mas não disse mais nada, não. Fiquei com um medo danado da jaca...