21 junho 2004

Moda-praia o ano inteiro


Tenho pavor de mostrar os pés, e também de conviver com os pés dos outros à mostra. Não devia morar neste balneário. Povo aqui vai ao banco de chinelo, na maior.

Não agarre nojo de mim; faz parte de um processo psi-(alguma-coisa-para-a-qual-eles-sempre-acham-um-nome): quando pequena, cinco ou seis anos, comecei a ter um pesadelo recorrente. Via apenas os pés de um homem, mais nada. Mas sabia que era de um homem mau, muito mau. E aquilo me dava uma aflição horrível.

Cresci rejeitando sandálias, para o desespero de minha mãe, vó Maria e minhas tias: “com esse calorão, de tênis?” – essa passou a ser a frase mais ouvida por mim.

Já crescidinha (13, 14 anos), ouvi, ao sair para uma festinha:

- Filha, a mamãe vai ter que te dizer: não se usa bota no verão. Não tens uma sandalinha?

Mané sandalinha. Eu só tinha um chinelo havaianas, que usava para tomar banho (evitava o choque no chuveiro). Fui de botas mesmo.

Só comecei a usar - e, pior: a comprar! - sandálias depois de dois anos morando no Rio de Janeiro. Aí eu não agüentei mais; muito calor mesmo, e esse negócio de orla confunde a gente. Até para se vestir.

Passei a andar mais à vontade, admito. Lembro que fui ao RS num verão desses, depois de uns quatro anos morando no Rio. Meu pai fez um churrasco e eu desci para comer de short e um mini-top (quase a parte de cima de um biquíni). Minha mãe olhou:

- Que linda! Tá usando menos roupa, finalmente, né?
- É... calorão desses...

Meio segundo depois:

- Tá certo. Mas tu não vais sair na rua assim, né?
- Por quê? Pessoal aqui vai achar ruim?

E ela, suuuuper tranqüila:

- Nada! Só vão achar que tu é puta.

Hoho.


PS: Você já fez o Bíbi-Quiz?