27 agosto 2002

A EDUARDA


Vou contar a vocês tudo que eu sei sobre a Eduarda.

Pouco mais de um metro e setenta, não sai na rua sem salto alto. Vira um mulherão de um e oitenta, morena-cor-de-jambo, os fios de cabelo sempre bem lisos.

- Mas eu espicho em casa - ela explica, mas só para os íntimos.

Espichar os fios, segundo ela, trata-se de um processo tão demorado quanto uma cirurgia complicada. Primeiro, lavar bem os cabelos. Depois, passar uma escova, insistentemente, enquanto segura o secador quente com a outra mão.

Isso feito, é a hora de passar a ferro - chapinha, como dizem. Eu nunca vi de perto, mas dizem que ela demora cerca de duas horas para concluir o ritual todo. Depois, mais meia hora fazendo orações a todos os santos, implorando, de joelhos, não para não ser assaltada na rua - mas para não chover.

- Se chover, enrosca tudo. Do assalto, é mais fácil eu me livrar.

Se perguntarem como, a Eduarda responde que enfia uma agulha no olho do sujeito, sem pensar duas vezes. Anda sempre com uma agulha na bolsa, sobretudo quando vai a shows em praça pública ou na beira da praia.

- Não dá, minha filha, os bofes ficam achando que a bunda da gente é corrimão! Eu furo mesmo!

Não, ela não fura o olho do sujeito na primeira passada de mão. Só na terceira, ou em caso de assalto. A primeira furada é na mão, a segunda é na barriga. A derradeira é cegueira na certa. Também, quem mandou?

A Eduarda é escorpiana, com ascendente em escorpião e a lua em áries. Isto significa, amigo, que é melhor levar uma agulhada dela do que tentar cutucá-la - com o dedo, que seja.

- Você não me conhece! Você não me conhece! - ameaça.

Quando ela diz que você não a conhece, é porque não conhece mesmo. Dizem alguns moradores da Nilópolis, na baixada fluminense, que a Eduarda aparecia, misteriosamente, numa foto semi-nua na página 13 do jornal O Globo, todo dia 13. Mas só em Nilópolis.

Isso aconteceu durante 13 meses, juram. E havia uma legenda embaixo: FUJA DA MINHA PICADA ENQUANTO É TEMPO.

Então, todos já sabiam que, no dia seguinte, haveria um registro de 13 homens nos hospitais da cidade, picados por um animal jamais identificado pelos cientistas. Dali, as vítimas iriam direto para o manicômio, onde ficavam repetindo frases desconexas e falando sobre uma mulher com corpo de moça e cabeça de escorpião. Claro, ninguém acreditava.

Hoje em dia, há versões diferentes sobre o paradeiro da Eduarda. Dizem que ela teria trocado de identidade, inclusive. Nada se pôde provar sobre os crimes do manicômio, até porque a polícia alegava não ter tempo a perder com fantasia de maluco.

Minha cunhada é amiga íntima da Eduarda, e é por isso que eu sei sobre seus hábitos e técnicas. Arrisco-me muito, no entanto, por estar aqui escrevendo sobre isso.

Em noites dos dias 13, jamais durmo.