08 abril 2004

DVD: Carandiru


Vão me desculpar. Eu sei que é politicamente incorreto falar mal do cinema nacional, mas não posso deixar de expressar minha leiga, humilde e despretensiosa opinião: que abacaxi!

Peguei alguns filmes para o feriado. Um deles foi Carandiru, porque gosto de cinema nacional, apesar de tudo. Gosto, me interesso, observo, futrico, sou curiosa e cheia de boa vontade. Não saio metendo o pau de graça, não. E, de mais a mais, não tenho o olhar dos críticos.

Não saco nada de cinema. Sou movida pelo “gostômetro” – gosto mais, gosto menos, e só. Sou também, como qualquer mulher, provida de marés emocionais – o que torna qualquer afirmação minha passível de discordância, mais dia, menos dia, por parte de meus próprios botões.

Isto posto, vou lhes dizer: que abacaxi! (De novo).

Uma hora e meia de filme, o que tínhamos? Uma adaptação grosseira do livro do Dráuzio – esse, sim, vale a pena! -, feita como se fosse às pressas, para gerar logo um filme.

Sabe aqueles discos que o artista grava em cima da hora, por pressão da gravadora? O esquema de marketing já está todo pronto, a mídia devidamente engatilhada, os entrevistadores já têm suas perguntas formuladas – aquelas, que saem da assessoria de imprensa do próprio “artista”.

Ou seja: com essa mesa toda posta, o prato principal acaba sendo um mero detalhe. O que vier é lucro, chuta-se para qualquer lado e o gol é certo. E assim foi.

No caso de Carandiru, pela relevância social do tema e pelo brilhantismo do médico-autor do livro, só por isso, no mínimo, deveria ter sido dada maior atenção à obra cinematográfica. Um roteirozinho, por exemplo, não ia mal.

Sim, porque a espinha dorsal do filme simplesmente não há. Parece mais uma colcha de retalhos, com fatos e frases pinçadas do livro, numa exposição de histórias completamente sem ritmo, sem o mínimo feeling, sem nada. O que salva é, vez por outra, uma atuação satisfatória do elenco – bem escolhido, embora desperdiçado nessa aventura quase non sense, meio denúncia social, meio documentário vestido para festa.

Eu sei, ainda vou enfrentar muitos amigos me dizendo que eu não entendi nada do filme, que estou fazendo um comentário leviano e equivocado. Que venham.

Vai ser difícil entrar na minha cabeça que um filme possa ser realmente bom quando, em vez de nos questionarmos sobre o tema abordado - ou em vez de darmos boas risadas, ou de nos emocionarmos, ou de apreciarmos a arte, que seja! -, de 15 em 15 minutos nos questionamos sobre que diabos estamos fazendo parados em frente a uma tela, com cara de idiotas.

Enfim, eu diria que Carandiru- O Filme daria um ótimo livro. E deu.