28 setembro 2004

O de Janeiro e o Grande do Sul


Gaúcho fala “eu vou ir”. Carioca fala “em dia de sábado”. Gaúcho fala lancheria (para lanchonete). Carioca fala manobreiro (para manobrista). Gaúcho fala pila para dinheiro, e não põe no plural. Quanto é que deu? São dez pila, moço.

Gaúcho também não conjuga certo. Tu vai, tu viu, tu deixa? Carioca quase sempre deixa.

Gaúcho pára na sinaleira. Carioca não gosta de sinal fechado (Calcanhoto). Gaúcho liga o pisca-pisca; carioca dá a seta. Gaúcho vai à serra passar frio, comer e se esquentar. Carioca vai à praia passar calor, beber e se refrescar.

O namorado gaúcho acha que a namorada carioca está com frio na cama, e pergunta: amor, tu quer te tapar? A namorada não entende, mas aceita, e é coberta. O gaúcho pergunta se ela chaveou a porta. Ela já sabe que chavear é fechar e trancar com a chave, mas se esqueceu, e a chave está mais perto dela do que dele. Então ele diz : tu me alcança a chave? E ela sabe que alcançar é apanhar algum objeto que esteja longe e entregar a ele.

Ela alcança a chave, ele chaveia a porta e eles dormem, bem tapados.

O carioca bem carioca é da gema; o gaúcho bem gaúcho é da fronteira, da casca. O gaudério chama o celular de “telefone de garupa”, e a mulher de chinoca – mas só se for muito íntima. O carioca chama de gostosa, mesmo que não a conheça.

O humor do gaúcho é para dentro; o do carioca é para fora. No sul, branquela sem swing é mato. No Rio, é gringo. Gaúcho que mora no Rio, quando vai ao sul, é carioca. Carioca que mora no sul, quando vai ao Rio, é gaúcho.

A guria gaúcha ganha marquinha de biquíni em dois meses, depois retoma o branco; a garota carioca desbota um pouco em julho, depois retoma o bronze. As gurias são altas, têm olhos claros, algumas são verdadeiras Giseles. As garotas são saradas, brasileiras, umas Pitangas.

A geografia do Rio se exibe, seus mares, seus bíceps; o Rio Grande guarda seus mistérios no vento frio das planícies.

Ser gaúcha e viver no Rio é pôr uns cobertores para secar ao sol, lá fora, e depois dormir bem tapada - ouvindo o vento soprar, aqui de dentro.