PARA MARISTELA KAYSER BOCK 
Tu me manda um e-mail, Maris? Ou escreve aqui no SHUOT OUT o teu e-mail, que eu não tenho aqui, e dá saudade, e quero mandar coisas, mas não consigo. Beijos no Jesué e na Pri, e beijos pra ti também!
PARA TODOS 
Oi, gente, hoje estou um sem inspiração e com preguição, de modo que vou postar aqui uma crônica antiga minha que eu acabei de achar. Beijos.
	Quanto vale uma escova grátis?
Bíbi Da Pieve
	Imagine que o seu casamento esteja meio sem graça. Precisando de um  tempero - que você cisma em chamar de "investimento". 
	O Adelmo anda distante, e, quando resolve chegar mais perto, você não quer saber.
	As afinidades evaporaram depois do primeiro ano de convivência. Faz três anos  que vocês se enfiaram nesse quarto-e-sala com paredes descascando. Tudo ia muito  bem, ele até fazia as suas unhas de vez em quando. Mas, hoje em dia, o clima é de  cortar com a faca: mal se olham.
	Antes que as paredes desabem de vez - você pensa -, é melhor eu investir no  meu relacionamento. 
	Pronto. Parece que o mundo inteiro adivinhou suas necessidades: internet, televisão, revistas, livros e sex-shops oferecem rápidas e práticas soluções para o seu  problema.
	Será que isso é um sinal? - você questiona -, ou toda essa indústria já exisitia  antes do Adelmo, e já torcia para que eu o encontrasse um dia, casasse com ele, e,  depois de três anos, decidisse investir num relacionamento mal das pernas? 
	Não importa. O Adelmo vale o investimento; você saca meia-dúzia de manuais  sobre casamento, uma camisola de rendinha, faz o pé e a mão no salão mais caro, e ainda sai achando que está no lucro - ganhou uma escova grátis.
	Devorados os livros, decoradas as dicas práticas, entendidos os fundamentos  psicológicos das diferenças entre os sexos, alisado o cabelo e lixado o pezinho - você  está pronta para mudar de vida. Afinal, o Adelmo é o príncipe que todas as suas amigas  pediram a Deus (lindo, alto, louro, vinte e tantos), e você prometeu a si mesma um 
happy end digno de Hollywood. 
	Mas faltou um detalhe: um bom vinho, para brindar à lua-de-mel do investimento. 
	Atrasada, você passa na delicatessen mais próxima ao quarto- e-sala  descascado, desce do ônibus num pulo, quebra o salto, e cai de joelhos na sarjeta.  Chove muito. O cabelo empaçoca e espiga. 
	É quando aparece, do nada, o gaúcho Kleiton - que você não vê há uns quinze  anos -, e lhe dá a mão. Você levanta, gagueja; não sabe se ri, chora, abraça, beija ou  engole o salto quebrado.
	E você também não sabe há quanto tempo não sente isso, mas desconfia que  faça uns quinze anos - desde que o Kleiton, seu amor platônico de adolescência,  resolvera ir tocar percussão no Canadá. 
	Agora ele deve estar com quase cinqüenta; é baixinho, careca, meio  barrigudinho, mas continua com o mesmo olhar: desconcertantemente percussivo.  Durma-se. 
	Mas como, se você não deixou passar uma linha? Se você decorou todas as  dicas, comprou os melhores perfumes, usou os melhores esmaltes - como é que pode,  agora, um batuqueiro sulista vir atrapalhar o seu investimento no Adelmo?
	Acontece, minha cara. Esse tipo de Kleiton não escolhe suas vítimas. E a  maioria dos manuais de "felicidade" não vêm com a letra "k" no índice. 
	Nada contra os Adelmos, os livros de auto-ajuda e as pedicures. É que -  particularmente - tenho uma quedinha pelos saltos quebrados, pelos encontros  inusitados, e pelas tempestades - que são intensas justamente por serem naturalmente  crespas, sem investimento algum.
	E sem escova grátis. 
Azuis desmaiados
Há 5 anos